Opinião
O SAUDÁVEL PAPEL DAS OPOSIÇÕES
O futebol cearense ainda não compreendeu o verdadeiro significado dos nossos clubes terem oposição dentro deles. Isto é atraso!
Quem já ouviu falar sobre Marcelo Teixeira, atual presidente da executiva do Santos/SP, deve também saber que ele tem realizado um grande trabalho à frente do clube da Vila Belmiro. E nem por isso ele deixa de enfrentar oposição, nem assim ele será reconduzido, através de conchavo político, à presidência do Peixe. Pelo menos duas chapas lhe farão frente – coligadas ou em separado. São elas, a Terceira Via e a Associação Resgate Santista.
Se partirmos dos exemplos dos grandes clubes brasileiros, forçosamente admitiremos que, no caso em questão, bom para os grandes clubes, melhor ainda para os nossos pequenos. Afinal, neles não mais cabe o caudilhismo como estilo, nem mesmo o centralismo como modelo.
O monitoramento do eixo da liberdade dos dirigentes deve mobilizar as oposições, a quem compete unir-se à situação em torno dos bons projetos, insurgindo-se contra os maus elaborados. Não é à toa que temos aconselhado nossos cartolas a submeterem ao crivo das urnas um projeto para o clube que pretendem dirigir, sob o qual conduzirão suas administrações. Desse modo, além de terem a pré-aprovação de sua gestão, ainda a ela aduzirão a legitimidade, através do cumprimento de cada uma das proposições constantes no projeto pré-aprovado.
Ceará e Fortaleza
Sabemos que nos estatutos tanto do Ceará quanto do Fortaleza, remanescem anacronismos que, de um lado impedem a adequação destes clubes a uma nova situação, e de outro preserva o que não é para ser preservado e não constrói salvaguardas para o que é importante resguardar.
No Fortaleza há coincidência entre o mandato de sua diretoria executiva e de seus conselhos deliberativo e fiscal. Esta condição facilita a irrestrita adesão do conselho deliberativo à diretoria executiva, situação que não é saudável como medida profilática para a democracia e para as ações de fiscalização inerentes aos conselhos deliberativo e fiscal.
Já no Ceará, o estatuto contempla o conselho deliberativo, como órgão máximo e soberano do clube, estabelecendo um mandato que é o dobro do da diretoria executiva. Deste modo, dá-se mais independência e maior autonomia a ele (conselho), o que reduz a possibilidade de desregramento e induz a maiores níveis de probidade administrativa.
Cuidados e avanços
Uma das leituras que podemos fazer sobre a situação político-administrativa dos nossos dois maiores clubes é a de que eles caminham para um processo muitíssimo parecido. No Tricolor do Pici o patrocinador virou co-gestor, tendo a adesão de um conselho deliberativo meramente homologatório. No Alvinegro de Porangabuçu o patrocinador é também o gestor, enquanto o conselho deliberativo tem tentado assumir a condição de oposição. Mas o que parece nos reservar o futuro próximo é a ascensão da Rabelo à condição de controladora, tanto da diretoria executiva quanto do conselho deliberativo. E a partir daí, ‘adiós’ oposição.
Entre estagnação e retrocesso, enfim vislumbramos algo que nos parece um avanço: a vontade política de coibir a politiquice – que rima com canalhice. Criar-se-ia um dispositivo estatutário que impediria a utilização do clube para fins eleitoreiros, como uma tentativa de desestimular a dele fazerem uso os oportunistas.
O atual curso das coisas nos faz supor a possibilidade de ter havido uma conversa – mesmo que ocasional e informal – entre os mandatários da Santana Têxtil e Rabelo, nos seguintes termos: “Faça no Ceará o que fizemos no Fortaleza, e só assim você terá sossego.” Ou seja: só o refreamento do conselho deliberativo poderá transformar as encrespadas ondas do Alvinegro em remanso.
Cuidando-se das más, ficam as boas lições da política.
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EFEMÉRIDES
Ufa!
Uma vitória suada, com gol em jogada de contra-ataque, já na fase de acréscimos da partida. Isto, por si só, já retrata o tamanho do esforço empreendido pelo Fortaleza para superar a equipe do Paulista. O que parecia fácil, pelo momento e pela jogada do gol inaugural de Osvaldo pelo Tricolor cearense, não passou de uma falsa impressão; menos pelas qualidades do time paulista, e mais pela inapetência do time cearense. Houve momentos em que fomos acometidos pela idéia de sugerir um parasitológico de fezes aos atletas leoninos, tamanha a falta de iniciativa de alguns deles. Aliás, podemos mencionar a falta de constância na disputa dos 90 minutos das partidas como o grande problema deste grupo do Fortaleza.
Análise dispensável
Neste momento é mais importante a análise do que faltou a nossos times para terem ascendido à Primeirona, do que o comentário pontual de partidas que não mais despertam o interesse da maioria dos torcedores. Há instantes em que me pergunto que tipo de avaliação vinha sendo feita – se é que vinha – da performance individual dos atletas leoninos; questiono-me a respeito dos modelos de ‘scouts’, do tipo de instrução que é passada aos atletas e do que é feito a título de informação didática para melhorar o desempenho de cada um deles. Também me pergunto sobre se algo tem sido feito para corrigir os vícios intracampo dos menos produtivos. Eis, pois, algumas das questões que são (ou deveriam ser) da alçada dos departamentos técnicos de futebol, especialmente de suas comissões técnicas.
Resultado mais que normal
O triplo palpite caberia muito bem ao jogo Ponte e Ceará. Logo, o empate foi um resultado natural para a circunstância de momento. Natural, contudo, não significa, necessariamente, que o placar expresse justiça do ponto de vista da produção das duas equipes. No que pese a maior pressão da equipe pontepretana – que por sinal é bem limitada –, lamenta-se que o alvinegro cearense tenha cedido o empate ao apagar das luzes. Não que imaginemos – como a maioria – que não se toma gol na reta final da partida. O gol é normal em qualquer momento do jogo; inclusive nos acréscimos, como fez Daniel Sobralense em prol do Fortaleza, decretando a derrota do Paulista de Jundiaí. A explicação para os gols sofridos pelo Ceará e as circunstâncias a ele inerentes, passam por uma teorização pertinente ao mundo do futebol, e não ao sobrenatural.
Dunga patina
Vida de treinador não é fácil. E quanto mais capacitado tecnicamente for o grupo de atletas, mais se exige deles e de seu técnico. Sabemos que a mudança de jogadores no decorrer de uma partida, em regra costuma produzir mudanças mais produtivas e decisivas. Todavia, é na mexida do posicionamento da equipe e na otimização das oportunidades para as mudanças no planejamento tático que residem a maior qualidade de um técnico de futebol. E, nestes quesitos, Dunga tem-se mostrado no mínimo omisso. Assistir passivamente as más atuações de Ronaldinho e de Mineiro e não tomar nenhuma providência é inaceitável para um técnico de Seleção Brasileira. Também sabemos que é um enorme desafio estabelecer um padrão tático convincente a um time que possui certo número de craques. Já pensou se a atual Seleção tivesse mais craques, além de Kaká, Ronaldinho e Robinho? Pior seria...
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BREVES E SEMIBREVES ®
Um vitorioso. O técnico Vagner Benazzi consegue seu décimo acesso. Três deles só para a Série-A. Da receita do sucesso, faz parte a coragem dos dirigentes em manter o treinador, mesmo correndo determinados riscos.
Em alta. Quem também obteve prestígio foi outro ex-técnico do Fortaleza, Dorival Júnior, este no comando técnico cruzeirense. Dorival foi tremendamente sacrificado por uma política de experimentação adotada em sua passagem por aqui.
Em baixa. Zetti parece ter encerrado o seu ciclo no Fortaleza. Treinador que em tão pouco tempo ver inspirar sua liderança diante do grupo, merece ter sua competência questionada.
Bom-senso... é o que às vezes falta a certos policiais. O PV com apenas mil e poucas pessoas, e alguns policiais posicionados no setor de cadeiras à frente dos torcedores, impedindo que estes tivessem a visão do campo de jogo. Meus caros, sejam menos toscos e respeitem o direito do cliente.
Revisão. O torcedor reclama veementemente das redes de proteção em locais estratégicos do PV. Pelo que pude apurar, seria a cor branca o que mais atrapalha, pelo alto índice de reflexão.
Que idéia... paupérrima a do presidente do Fortaleza, Marcello Desidério, ao expressar sua imensa satisfação pelo fato do Fortaleza terminar (será?) a competição à frente do seu maior rival. Mentalidade paroquiana ou espírito do paroxismo? Ou os dois?
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(*)”A pobreza material pode ser transitória e sujeita à temporalidade; já a indigência espiritual é perene.”
(*) Benê Lima, FRC/
Benê Lima
benecomentarista@yahoo.com.br
85 8898-5106, o telefone da comunicação
Sinopse
"Neste espaço encontra-se reunida uma coletânea dos melhores textos, imagens e gráficos sobre o futebol, criteriosamente selecionados e com o objetivo de contribuir para a informação, pesquisa, conhecimento e divulgação deste esporte, considerando seu aspecto multidisciplinar. A escolha do conteúdo, bem como o aspecto de intertextualidade e/ou dialogismo - em suas diversas abordagens - que possa ser observado, são de responsabilidade do comentarista e analista esportivo Benê Lima."
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segunda-feira, novembro 19, 2007
Com Pé e Cabeça - 102
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Benê Lima