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"Neste espaço encontra-se reunida uma coletânea dos melhores textos, imagens e gráficos sobre o futebol, criteriosamente selecionados e com o objetivo de contribuir para a informação, pesquisa, conhecimento e divulgação deste esporte, considerando seu aspecto multidisciplinar. A escolha do conteúdo, bem como o aspecto de intertextualidade e/ou dialogismo - em suas diversas abordagens - que possa ser observado, são de responsabilidade do comentarista e analista esportivo Benê Lima."

sexta-feira, outubro 18, 2013

Especificidade do treinamento físico do árbitro assistente de futebol

É evidente que o treinamento para um árbitro assistente deve ser diferente daquele realizado por um árbitro que atua como principal


Juliano Fernandes da Silva

Assistente 02

Recentemente, discutimos aqui na Universidade do Futebol sobre treinamento específico para árbitros de futebol, no qual afirmamos que estes precisam ter dois tipos de treinamentos específicos, um para as situações de jogo e outro para os testes físicos aplicados pelas instituições (Fifa, CBF e federações).

Isto ocorre devido à dificuldade de se encontrar um teste que reflita exatamente o que ocorre no jogo. Para árbitros assistentes, atualmente, esta separação entre a especificidade dos testes físicos e a demanda de jogo é ainda maior que nos árbitros.

Sobre a demanda de esforço dos árbitros assistentes durante a partida tem sido demonstrado que estes percorrem cerca de 6 a 7 km por jogo, com 15 a 20% desta distância percorrida em alta intensidade. Além disso, realizam aproximadamente 1053 ações, com uma atividade diferente a cada 5 segundos em média.

Outra informação interessante se refere à distância das ações realizadas em alta intensidade, onde cerca de 90% são inferiores a 25 metros (m), e consequentemente com durações menores que 5 s. Outra característica da movimentação dos árbitros assistentes é que aproximadamente 10% do tempo da partida eles ficam executando deslocamento lateral, que representa cerca de 23% da distância total percorrida.

Sobre os sprints, estes tendem a ter durações inferiores a 4s, com distancias médias de 14 m e raramente superiores a 25 m (KRUSTRUP et al., 2002; KRUSTRUP et al., 2009).

Analisando estas informações, fica evidente que o treinamento para um árbitro assistente deve ser diferente daquele realizado por um árbitro. No entanto, atualmente os testes aplicados para os assistentes são os mesmos que os dos árbitros centrais, diferenciando apenas o intervalo entre as corridas de 150 m, em que os assistentes tem 40 s vs 35 s dos árbitros, e no tempo de execução dos sprints de 40 m que os assistentes devem realizar abaixo de 6,0 s vs 6,2 s dos árbitros.

Desta forma, como mencionamos no início do texto precisa-se treinar para dois objetivos: 1) Performance no jogo; 2) Performance nos testes.

Para treinamentos aeróbios visando situações de jogo pode-se tranquilamente adotar volumes de treino para potência aeróbia máxima entre 1500 e 2500 metros, utilizando distancias inferiores a 30 metros para realizar as mudanças de direção e/ou pausas.

Neste sentido sugere-se estímulos e recuperação (1:1, 2:1, 1:1,5) de curta duração (ex: 8:8s; 8:4s; 10:5s; 6:6s; 4:4s; 12:12s; 12:6s; 4:6s; 6:9s – com mudança de direção a cada 4-6 segundos) objetivando completar períodos equivalentes de 3 a 6 minutos em cada série. Já o número de séries pode variar de 3 a 8, dependendo da duração da série e dos intervalos.

Porém, o principal diferencial no treinamento aeróbio dos árbitros assistentes em relação aos árbitros centrais seria a adoção dos deslocamentos laterais nas sessões de treino. Neste sentido, pode-se adotar volumes entre 600-1000 m de deslocamento lateral visando o treinamento aeróbio com movimentos específicos para a função, adotando-se velocidades médias entre 9 e 11 km/h-1, com deslocamentos em distâncias inferiores a 15 metros.

Esse modelo de treino que neste momento pode parecer novo, em curto espaço de tempo deverá ser rotina para os árbitros assistentes, principalmente se a Fifa adotar definitivamente o teste ARIET como avaliação regular dos assistentes. Este teste que foi validado recentemente por Castagna et al. (2012), e utiliza o mesmo sinal sonoro do teste Yo-Yo intermitente endurance II, foi desenvolvido para avaliar de forma mais específica a aptidão aeróbia do árbitro assistente, contemplando deslocamentos frontais (61,5%) e laterais (38,5%). No estudo de validação, Castagna et al. (2012) sugerem a distância de 1300 metros como referência para árbitros de elite nacional.

Contudo, neste momento a Fifa continua optando pelo modelo de avaliação aeróbia em pista com corridas de 150m, principalmente pela facilidade de aplicação do teste, acredita-se, pois não se justifica a especificidade.

No que se refere ao treinamento anaeróbio, a adoção de sprints curtos de 10, 15, 20, 25 e 30 m parecem ser alternativas interessantes para o treinamento de aceleração e velocidade com corridas em linha reta. Quanto ao intervalo adotado, dependerá do objetivo da sessão, que pode ser menor que 1 minuto para capacidade de sprints repetidos (CSR), ou mais de 1 minuto para sprints intermitentes (GIRARD et al., 2011).

Já para o treinamento de agilidade a utilização de mudanças de direção em distancias inferiores a 10 metros são alternativas que podem ser adotados para este objetivo em árbitros assistentes, contemplando corridas frontais e laterais. Neste sentido, a Fifa vem adotando em caráter experimental a utilização de um teste especifico (10-8-8-10= 36 metros) de agilidade para árbitros assistentes.

Este teste contempla 10 m de deslocamento frontal (ida), seguido de 8 m de deslocamento lateral (volta), mais 8 m de deslocamento lateral (ida) e por fim, mais 10 m de deslocamento frontal (volta), somando 36 metros no total, sendo que os árbitros assistentes devem completar o percurso em um tempo inferior a 9,8 segundos. Esse tipo de movimentação é decisiva para performance física (estar na linha do penúltimo defensor ou da bola) de um árbitro assistente durante a partida.

No que se refere aos treinamentos visando os testes atuais da Fifa, os árbitros assistentes devem trabalhar de forma similar ao que foi descrito no artigo anterior para os árbitros centrais, dando ênfase na potência aeróbia máxima para o teste aeróbio (24x150 m), utilizando-se estratégias como a adoção de um percentual da FCmáx (>90%), ou percentuais referentes a velocidade máxima aeróbia determinada em laboratório ou em testes de campo.

Já para o teste de sprints de 40 m, é necessário aprimoramento da velocidade, complementando com exercícios de coordenação de corrida, potência muscular e aceleração.

A partir das informações apresentadas é possível afirmar que árbitros assistentes, fazem parte de uma população especial que apresenta diversas diferenças em relação a demanda de jogo de árbitros centrais por exemplo.

Sugerindo-se a adoção de 4-5 sessões de treinamento semanais, que contemplem aptidão aeróbia, velocidade, aceleração, agilidade e força. Neste sentido, a prescrição de treinos para assistentes deve ser realizada por profissionais que tem conhecimento sobre a demanda de esforço dos mesmos durante a partida.

Além disso, espera-se que as novas metodologias de avaliação sejam aprovadas em definitivo pela Fifa, para que as demandas dos testes físicos fiquem cada vez mais próximas das que ocorrem nas partidas.

Referências

Castagna C, Bendiksen M, Impellizzeri FM, Krustrup P. Reliability, sensitivity and validity of the assistant referee intermittent endurance test (ARIET) - a modified Yo-Yo IE2 test for elite soccer assistant referees. Journal of Sports Sciences, v.30(8):767-75, 2012.

Krustrup, P., Mohr, M., & Bangsbo, J. Activity profile and physiological demands of top-class soccer assistant refereeing in relation to training status. Journal of Sports Sciences, v. 20(11), 861–871, 2002.

Krustrup P, Helsen W, Randers MB, et al. Activity profile and physical demands of football referees and assistant referees in international games. Journal of Sports Sciences, v..27(11):1167-76, 2009

Girard O, Mendez-Villanueva A, Bishop D. Repeated-sprint ability - part I: factors contributing to fatigue. Sports Med. V. 1;41(8):673-94, 2011.

Tags: árbitro , assistentes , preparação física , treinamento físico , deslocamento , aeróbio ,testes físicos , 

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