O exemplo do Nordeste para os ‘12 grandes’ do Sul e Sudeste

Ao invés de empurrar seus estaduais com a barriga, clubes do Sul e Sudeste poderiam repetir modelo nordestino

 POR BRUNO WINCKLER 

As finais da Copa do Nordeste reuniram mais de 100 mil pessoas em Salvador e Fortaleza nas duas últimas quartas-feiras. Sinal claro de que o campeonato regional pegou e que é a principal competição do primeiro semestre para os grandes clubes da região. Enquanto isso, os 12 clubes com mais torcida no Brasil empurram com a barriga os seus estaduais, que só começam a ter alguma graça com os clássicos decisivos depois de modorrentas rodadas.

Considerando que uma reformulação profunda do calendário não está entre as prioridades da CBF e suas federações, daria para que o Sul e o Sudeste dessem para seus grandes clubes uma competição mais atrativa no primeiro semestre? Daria. Quem deu a letra foi Alexandre Kalil, ex-presidente do Atlético Mineiro, na sua visita à ESPN na última semana.

A festa da torcida na partida de ida da final da Copa do Nordeste (Reprodução de TV)

Lembrando-se dos torneios Rio-São Paulo e Sul-Minas disputados entre 1999 e 2002, Kalil disse que o sucesso da Copa do Nordeste, e até da Copa Verde, sugere que os regionais de Sul e Sudeste poderiam voltar, mas com algumas mudanças. “Hoje, Atlético tem seu tamanho e Cruzeiro tem seu tamanho. Não é pra jogar Tubarão x Cruzeiro e Juventude x Atlético-MG. Sou a favor dos regionais, mas hoje Minas não está no mesmo contexto de antigamente”, comentou.

Essa sugestão faz pensar no tamanho que teria uma “Copa Sul-Sudeste” com todos seus principais clubes. Imagina um torneio com duelos entre Cruzeiro, Atlético-MG, Corinthians, Palmeiras, São Paulo, Santos, Botafogo, Flamengo, Fluminense, Vasco, Grêmio e Internacional todos os finais de semana? Trocar um Flamengo x Nova Iguaçu por um Flamengo e Corinthians.

Flamengo, Corinthians e outros clubes grandes ganhariam com copa regional (Daniel Augusto Jr. / Ag. Corinthians)

Mas e os pequenos? Os pequenos poderiam seguir jogando os Estaduais e eles serviriam como uma eliminatória para entrar no torneio, como acontece na Copa do Nordeste.São 20 clubes divididos em cinco grupos. Daria para incluir Atlético-PR e Coritiba, o primeiro, muito insatisfeito com seu estadual. Mario Celsa Petraglia até sugeriu aliança com times cariocas.

As outras seis vagas da Sul-Sudeste poderiam ser divididas entre os seis estados: os três do Sul (o campeonato catarinense ganharia mais importância) e mais uma para Rio, São Paulo e Minas.

Alguns times poderão estar na Libertadores no primeiro semestre e certamente vão priorizá-la. Mas certamente os jogos da Sul-Sudeste entre os compromissos no torneio continental poderão ajudá-los a de fato evoluir, simplesmente por enfrentar times mais equivalentes. O Ceará, campeão da Copa do Nordeste, fez 12 jogos na competição. Muito menos do que os 19 necessários para ser campeão no Rio, em São Paulo ou no Rio Grande do Sul.

Como em 2002, quando foi jogada a última edição do Rio-São Paulo, os grandes poderiam entrar numa fase final com os melhores do interior. Dá para fazer.

A proposta desse texto é apenas um reflexo da triste realidade dos Estaduais. O ideal seria que o Brasileirão começasse no início da temporada. Mas como dito no início do post, não dá para se vislumbrar uma mudança nesse sentido. Assim sendo, o jeito é trabalhar com o que se tem. E o Nordeste deu o exemplo de que, sim, é possível fazer um torneio regional de prestígio.