CARLOS EDUARDO MANSUR
Dos oito jogos de ida das oitavas-de-final da Liga dos Campeões, seis foram vencidos pelos visitantes e só um por um time mandante. Um pequeno sintoma da direção para onde a globalização está levando o futebol europeu. O caminho é o da concentração de renda. O continente assiste à criação dos superclubes. Potências globais, integrantes de uma pequena elite com arrecadações infinitamente maiores às dos rivais e, em consequência, elencos infinitamente mais poderosos.
O passeio do Real Madrid em Gelsenkirchen começa a ser explicado fora de campo. Na temporada 2012-2013, o clube espanhol teve R$ 1,67 bilhão em receitas, valor que o colocou no topo do ranking de arrecadação na Europa. Em campo, seu elenco milionário fez o Schalke 04 parecer impotente, como se ambos não pertencessem ao mesmo universo. O resultado: 6 a 1 sobre os alemães, que tiveram arrecadação de R$ 650 milhões na última temporada.
O confronto entre Barcelona e Manchester City reuniu dois candidatos a superclubes. Mesmo assim, os catalães, que arrecadaram na última temporada R$ 1,54 bilhão, o que significa R$ 500 milhões a mais do que os ingleses, venceram fora de casa por 2 a 0. O Bayern de Munique, com seus R$ 1,38 bilhão por ano, foi a Londres vencer o Arsenal, que teve receita de R$ 909 milhões.
O Paris Saint-Germain, novo gigante do continente, usou seu elenco rico, movido por receita anual de R$ 1,23 bilhão, para fazer 4 a 0 no Bayer Leverkusen, na Alemanha. O time da casa não está entre os 30 maiores arrecadadores do continente, com receita abaixo de R$ 300 milhões. Já o Borussia Dortmund, que abocanhou R$ 819 milhões na última temporada, fez 4 a 2, na Rússia, sobre o Zenit, que também está abaixo da linha dos R$ 300 milhões de receita.
Houve duas exceções. Em Milão, o Atlético de Madrid, embora tenha receita 50% inferior ao do rival, venceu o Milan, que segue em crise técnica. E na Grécia, o Olympiakos, também abaixo da linha dos R$ 300 milhões anuais, derrotou o turbulento Manchester United, dono de R$ 1,35 bilhão por ano.
A Liga dos Campeões, em tese, reúne a elite europeia. Mas globalização tem significado concentração de renda também no futebol. O resultado é que até entre os 16 melhores da Europa, quando se chega ao mata-mata, há disparidades que sobressaem, times que não conseguem competir com os mais poderosos, mesmo jogando em casa.Nas ligas nacionais as diferenças se acentuam. Boa parte delas ganharam um indisfarçável ar de campeonatos estaduais.
- A tendência dos superclubes na Europa é real. Os clubes viram potências globais. Mas é preciso ter cuidado. Há fenômenos como o Paris Saint Germain, inflado pelo dinheiro do Qatar; o Chelsea, que tinha receita muito menor antes de ser comprado pelo Abramovich; assim como o Manchester City, com dinheiro do Oriente Médio - diz Amir Somoggi, consultor em marketing e gestão esportiva. - O mais incrível é o Bayern de Munique. Em termos de cotas de TV, sai atrás de italianos, franceses, ingleses. Mas está partindo para brigar com Barcelona e Real Madrid e ser o maior arrecadador da Europa.
E os números não mentem. O mais recente estudo da Deloitte, a Football Money League, aponta claramente o aprofundamento das diferenças de receitas na Europa. A Espanha continua como o caso clássico. O Real Madrid, maior arrecadador da Europa, ganhou R$ 1,67 bilhão na temporada 2012-2013, seguido de perto pelo Barcelona, com R$ 1,54 bilhão. O mais próximo competidor, o Atlético de Madrid, arrecadou R$ 384 milhões.
Muito se especulou que o Brasil partisse para a "espanholização", com a liderança de Corinthians e Flamengo. Os mais recentes estudos não apontam tal risco.
- O mercado brasileiro tem características próprias, marcas com grande poder de mobilização. O Internacional, com 3% da torcida do país, fatura R$ 46 milhões por ano com sócios. Cruzeiro, Grêmio, Vasco, São Paulo, enfim, são muitos clubes com potencial que Valencia e Atletico de Madrid não tem. Com exceção de Barcelona e Real Madrid, os espanhóis são clubes regionais - diz Somoggi, que acrescenta. - Em todo o mundo, não há situação idêntica à da Espanha, com o domínio de dois clubes.
Mas proliferam os mercados dominados por um clube só. A Alemanha tem o reinado absoluto de um clube, o Bayern de Munique, que teve receitas de R$ 1,38 bilhão contra R$ 819 milhões do Borussia Dortmund em 2012-2013.O fenômeno é idêntico ao da França. Lá, no entanto, o domínio do Paris Saint Germain é visto com ressalvas até pela Uefa, já que é movido por um dinheiro estranho ao futebol. O clube arrecadou R$ 1,23 bilhão, valor que o colocou como o quinto no ranking da Europa. No entanto, dois anos antes, sequer aparecia na lista dos 20 maiores arrecadadores. A subida é turbinada pelo investimento do qatari Nasser Al-Khelaifi.
A concentração de renda tem tornado a competição europeia cruel até para os tradicionais grandes da Itália. A esperança de futuro é o Juventus, que foi eliminado na fase de grupos da atual Liga dos Campeões.O clube de Turim, após a construção de seu novo estádio, cresce muito mais do que os rivais do país. E a tabela do Campeonato Italiano já reflete a diferença crescente. O Juventus liderou o ranking de receitas na Itália com R$ 872 milhões de arrecadação contra R$ 843 milhões do Milan. A diferença não é tão grande, mas as receitas da Juventus cresceram 41% em relação à temporada anterior, enquanto o Milan ampliou o faturamento em apenas 3%. Enquanto isso, o Internazionale despenca. Arrecadou R$ 650 milhões na temporada 2011-2012. No último ano, caiu para R$ 550 milhões.
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Benê Lima