O rádio tem problemas? Claro que tem, pois se formos reparar bem no que está acontecendo no rádio cearense temos certeza de que algo está errado na condução deste meio de comunicação. Há problemas gritantes, onde a tradição do rádio vai sendo derrubada em nome de uma suposta modernidade ou sob os auspícios da globalização.
No rol de ações destruíram de uma só vez a Ceará Rádio Clube, primeira emissora de rádio do Ceará e em seu lugar vigora uma tal rede clube que parece um grande "vitrolão" com mais música que informação ou pouco papo e só sucesso que era um jargão das FM´s locais; a Rádio Assunção hoje foi transformada em Rádio Globo que, mesmo com uma programação local, ainda é invadida por programas do "sul maravilha" que nada ou pouco têm a ver com nossos costumes ou com nossas características; na rádio O Povo temos a presença marcante da CBN, que acabou provocando saída de grandes nomes do rádio cearense e que tem obrigado seus ouvintes a ouvir temas que estão completa ou quase totalmente fora de nosso contexto. Há ou não há problemas no rádio? Claro que sim. No entanto continuam ignorando tais problemas, pois para os proprietários ainda se valoriza o balancete no final do mês, não a finalidade do rádio.
Agressões pornofônicas
Por outro lado, a antiga rádio Uirapuru é completamente dominada por uma igreja evangélica que faz comércio da fé e não deixa o público ouvinte saber de outra coisa a não ser dogmas ou ilusões promovidas pela igreja-empresa; a Rádio Iracema está completamente dominada pela igreja Deus é Amor, que transmite seus cultos, suas sessões de exorcismo e a histeria de pastores e fiéis; a rádio Dragão do Mar hoje foi dominada pelo grupo católico Shalom, que demitiu todos os radialistas sem aviso e sem nenhum tipo de consideração – mesmo assim pregam a solidariedade e o amor ao próximo usando palavras da bíblia ou contexto eletrônico da fé; a Rádio Cidade AM, que hoje vive do arrendamento de horários agrupando radialistas demitidos da Ceará Rádio Clube e da Rádio Dragão do Mar e mantém uma programação dominada por alguns políticos e não acredita no poder do ouvinte; outra rádio local, a Rádio Metropolitana, tem uma programação completamente arrendada, porém reina um pouco de democracia e participação do ouvinte – embora dominada por políticos, não há intromissão em relação a alguns aspectos da fala de seus usuários. No entanto essa rádio vem passando por um problema muito sério de transmissão: às vezes tem programas inaudíveis e quase impossíveis de sintonia e vale ressaltar que a referida rádio hoje tem sede no município vizinho de Caucaia, não se sabe por que. Há uma rádio pertencente a Maracanaú que tem também uma programação mais democrática com bons profissionais e com grande abertura para o ouvinte, um nível mais respeitoso em relação a músicas e programas, porém há um problema: a qualidade da transmissão, que ainda tem problemas de recepção.
Resta falar da rádio Verdes Mares, onde grande parte dos profissionais tem ligação empregatícia com a empresa e há maior qualidade no som e mais produtividade nos programas. Mas esta rádio tem um problema muito sério onde alguns profissionais apelam para a pornofonia que acaba sendo objeto de audiência na visão destes. Podemos ver em vários momentos da programação locutores misturando versos da bíblia com agressões pornofônicas e espetáculos de discriminação racial ou sexual. A rádio tem hoje os maiores índices de audiência e um problema de qualidade da mensagem que acaba agredindo os ouvintes, mas continuam dizendo que é esse tipo de rádio que dá audiência.
O rei da comunicação
Diante destes problemas falta um pouco de visão de nossos empresários de rádio ou concessionários junto a um processo de inoperância dos órgãos de fiscalização e autorização das concessões, pois sabemos que há muitas concessões vencidas. Há também graves problemas que seus supostos proprietários não vêem, pois não se colocam no lugar do ouvinte e sequer ouvem a rádio do qual se dizem donos.
Certamente é grave a situação de nosso rádio e as lutas que costumeiramente vem sendo feita pelo Grupo dos que fazem a Associação de Ouvintes de Rádio é praticamente ignorada por jornalistas, radialistas e representações de classe destes grupos onde muitos acabam amargando desemprego, abandono e desrespeito de todos os tipos. A luta pelo rádio é amarga, porém vai continuar não se sabe até quando, pois o rádio é, foi e sempre será o rei da comunicação...
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Benê Lima