Sinopse

"Neste espaço encontra-se reunida uma coletânea dos melhores textos, imagens e gráficos sobre o futebol, criteriosamente selecionados e com o objetivo de contribuir para a informação, pesquisa, conhecimento e divulgação deste esporte, considerando seu aspecto multidisciplinar. A escolha do conteúdo, bem como o aspecto de intertextualidade e/ou dialogismo - em suas diversas abordagens - que possa ser observado, são de responsabilidade do comentarista e analista esportivo Benê Lima."

sexta-feira, fevereiro 27, 2015

Sociedade] Temor e impunidade

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Foto: Nodge Nogueira

 

A expectativa por mais um Fortaleza x Ceará faz ressurgir a expectativa pelo duelo e o medo por novos atos de violência

À véspera de Ceará e Fortaleza voltarem a duelar na temporada, dessa vez pelo Campeonato Cearense, a Capital começa a respirar ares de Clássico-Rei. Momento máximo da rivalidade entre os clubes, o embate motiva o torcedor a exalar paixão e amor ao clube, mas também revela faces de uma sociedade violenta e que ignora o espírito da esportividade. A cidade volta a pulsar, sim, ainda há gana para motivar tricolores e alvinegros, mas a razão de tamanha comoção não é mais o futebol e sim, o temor pela violência, que permeia o encontro dos arquirrivais.

No domingo, as manchetes voltarão a se repetir. Juntamente com o placar da partida, estará estampado também o resultado do quebra-quebra promovido por toda Capital. Para o doutor em sociologia e pesquisador do Laboratório e Estudos da Violência (LEV) da Universidade Federal do Ceará (UFC), Luís Fábio Paiva, a obviedade do que deve ocorrer se deve alguns fatores, principalmente a impunidade, mas lembra que o futebol não é causa de nada.

"O que acontece em dia de jogo é um reflexo da sociedade, pouco tem a ver com o futebol. Falando de grupos organizados que em muitos casos recebem integrantes de gangues e que não têm nenhuma motivação futebolística para promover a violência. Em um confronto, há rivalidades de todos os tipos e o futebol é a menor delas", disse Paiva.

Poder público

Uma vez sendo uma questão social, as atenções se voltam para o poder público e é justamente esse ponto que desagrada "gregos e troianos". As partes envolvidas responsabilizam as esferas de poder pela falha ao combate da violência, principalmente quando se trata da impunidade, como Jey, presidente da Cearamor.

"A violência no futebol é horrível; não era para acontecer. Achamos que o combate também depende muito do poder público. É preciso ter mais punição e rigor com rigor os vândalos. A instituição não pode ser prejudicada por causa de um pequeno grupo", salientou Jey.

O sociólogo Luís Fábio Paiva, por sua vez, concorda que há deficiência na punição, mas não isenta as torcidas organizadas de responsabilidade.

"As organizadas são coniventes com os atos ilícitos promovidos por seus integrantes e devem responder por isso. Essa conivência existe quando se tem uma Justiça que para ser ruim tem que melhorar muito. O judiciário presta o pior serviço para a população, e muitas vezes a culpa pela deficiência recai sobre a polícia. Este poder é o culpado por toda a impunidade existente e, assim, um incentivador da violência", completa o doutor em sociologia da UFC.

Tolerância zero para os maus torcedores

Praticamente todos os envolvidos no evento, que envolve os dois maiores time de futebol do Estado, concordam em dizer que o problema da violência em dia de jogos se dá pela infiltração dos vândalos dentro dos grandes grupos de torcida.

O Tenente-Coronel Aginaldo, do Batalhão de Policiamento de Eventos da Polícia Militar, afirma que essas pessoas usam do anonimato para praticar os atos de vandalismo, forçando a Polícia a agir. "O grande problema são os maus torcedores que se infiltram nas torcidas organizadas. Eles são um grupo pequeno, mas que fazem estragos. Temos que ter tolerância zero com esses indivíduos", acrescenta.

O Tenente-Coronel considera importante a iniciativa que parte dos próprios torcedores, na tentativa de minimizar os efeitos da violência. Porém, ele afirma que a educação é a maior arma para reduzir esse quadro negativo que sempre vem à tona quando Ceará e Fortaleza se enfrentam.image (1)

"Acredito que tudo passa pela educação. Os torcedores precisam se comportar dentro dos estádios. Esse sim é um ponto fundamental. O estatuto do torcedor também é importante, pois possui medidas que restringe os responsáveis pelos atos desordeiros e violentos", finaliza.

Efetivo policial

Para fazer a segurança no segundo Clássico-Rei, que ocorre amanhã, na Arena Castelão, pelo Campeonato Cearense, a Polícia Militar terá o efetivo de 400 policiais. Os PMs estarão distribuídos entre os grupos do BP Raio, Batalhão de Choque, Cavalaria e Batalhão de Eventos.

Força e ação das organizadas

Quando Ceará e Fortaleza medem forças, as atenções não se limitam só ao futebol. Existe sempre um certo anseio na cidade, e sempre motivado pela violência e briga entre torcidas.

Nos próximos 20 dias, Leão e Vovô vão se enfrentar três vezes. E para tentar mudar essa realidade negativa que vem das arquibancadas, as torcidas organizadas dos dois clubes buscam dar um pontapé inicial para mudar essa realidade.

Está cada vez mais comum os encontros entre as maiores torcidas organizadas do Estado, em dias que antecede um Clássico-Rei. Segundo o presidente da Cearamor, 'Jey', a finalidade desses encontros é mapear pontos de brigas e confrontos entre torcedores rivais. "Antes do primeiro jogo entre Ceará e Fortaleza, participei de uma reunião com os representantes da TUF, Mofi e JGT. Propomos levar a discussão para as lideranças de torcidas de alguns bairros da Capital. O objetivo foi mapear os pontos críticos que a gente acha que possa ter confrontos e repassar para a Polícia Militar", explica. De acordo com Jey, a ação foi bem sucedida, já que o registro de confusões no último no jogo entre os maiores times da Capital foi mínimo. "Pedimos que a Polícia trabalhe em parceria conosco para tentar punir de fato os vândalos", acrescenta ele.

Integrante da TUF, Reinaldo Bruno, reitera essa ação e diz que as torcidas organizadas não podem pagar o preço.

"Ocorre que a vagabundagem se infiltra na torcida. Eles não estão no dia a dia da gente. Nós vamos para o estádio para fazer festa e apoiar o nosso time. Esses encontros com as maiores torcidas do Estado são importantes para tentar eliminar esses baderneiros", conclui.

Diário do Nordeste -Eduardo Buchholz/Wilton Rodrigues
Repórter/ Especial para o Jogada

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Benê Lima