Espanha triunfou na última Eurocopa com meio-campistas de baixa estatura e técnica apurada Brasil encara diferenças na posição por conta da cultura dos laterais-atacantes
Bruno Camarão
No duelo diante da tradicional e copeira Alemanha, na final da edição deste ano da Eurocopa, principal competição entre seleções do Velho Continente, a Espanha não alterou sua postura e seu estilo que o caracterizaram durante toda a trajetória até então. Mesmo ciente das intempéries que seriam ocasionadas pelas jogadas aéreas dos altos e fortes atletas alemães, o treinador Luis Aragonés manteve a aposta em seus “baixinhos” do meio-campo.
O resultado é conhecido. Os espanhóis pouco foram pressionados durante todo o jogo, cadenciaram a partida com um toque de bola preciso, motivado pelos seus volantes (?), e, ainda no fim da etapa inicial, após lançamento de Xavi, o atacante Fernando Torres ganhou a disputa de Lahm e, na saída do goleiro Lehmann, marcou o gol triunfal.
Diante de todo esse panorama, um ponto de discussão: o novo perfil desses jogadores que atuam efetivamente na faixa central do gramado, são marcadores de ofício, mas têm, cada vez mais, uma importância na transição da defesa para o ataque, aparecendo invariavelmente nesse setor para decidir partidas. E o tema não poderia ficar fixo ao Primeiro Mundo.
“Não gosto de brucutu. Ninguém quer mais o volante, o primeiro brucutu que pega, passa de lado ou só marca, isso nenhum treinador quer mais. A gente quer que jogue. Nós temos aqui três que saem, se eu acrescentar o Marquinhos, o Henrique, o Elicarlos, o Luis Alberto, todo mundo tem uma dinâmica e uma qualidade para sair”.
A análise acima, ao UOL Esporte, é do ex-zagueiro e hoje técnico do Cruzeiro, Adílson Baptista, em referência ao estilo de meio-campista mais defensivo que tanto ele, quanto a própria direção do seu clube dão preferência.
Na rodada deste fim de semana do Campeonato Brasileiro, por exemplo, um de seus pupilos, o volante Ramires encontrou espaço na defesa do Atlético-MG já nos acréscimos do tempo regulamentar e marcou o gol da vitória celeste no clássico mineiro. Quem o acompanha, são os versáteis Fabrício e Charles.
“É um ponto fundamental para a equipe ali no meio de campo, porque fazemos o balanceamento entre a zaga e o ataque. Considero, sim, a espinha. Nossa equipe tem um ponto muito forte que é o meio-campo”, apontou Charles, que, entretanto, assim como Ramires, foi preterido por Dunga na lista da seleção brasileira que disputará os Jogos Olímpicos de Pequim – ambos são sub-23.
Em se falando de time nacional, o principal, também dirigido pelo ex-volante, é colocado em xeque por conta do excessivo número de jogadores com características mais defensivas, em detrimento de meias-amadores mais produtivos. Em dois duelos ímpares contra a Argentina – final da Copa América (vitória por 3 a 0) e Eliminatórias Sul-Americanas para a Copa-2010 (empate sem gols) –, Dunga escalou de início praticamente três volantes, com apenas Julio Baptista, em ambas as ocasiões, sendo o “cabeça” do meio.
“Toda equipe precisa de, pelo menos, um volante mais recuado. Desde 2002, o melhor e único excelente volante com essas características foi Gilberto Silva, que caiu muito de produção. Os jovens convocados para a seleção olímpica, Anderson, Hernanes e Lucas, além de Ramires, são armadores ofensivos e ainda promessas para a seleção principal. O único jovem e bom volante que atua mais recuado, Charles, do Cruzeiro, não foi chamado”, expôs Tostão, em coluna do último dia 9 na Folha de S. Paulo.
Já para o técnico do Corinthians, Mano Menezes, aspectos culturais distintos de leitura de jogo condicionam, muitas vezes, um “freio” nesses meio-campistas de ofício mais defensivo.
“Nossa composição de meio-campo tem de ser diferente da da Europa, se quisermos ver os laterais apoiando toda hora. Como lá há uma linha de quatro, em que os laterais geralmente ficam postados atrás, muitas vezes sendo até zagueiros, e os dois meias jogam bem abertos, cabe aos volantes iniciar as jogadas e chegar à frente por essa faixa do campo”, argumentou o comandante alvinegro, em entrevista recente ao programa Arena Sportv.
“A Espanha, sem dúvidas, é um exemplo disso, com Sérgio Ramos, zagueiro, na lateral direita, e o Marcos Senna sempre avançando, com grande destaque no time”, completou.
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Benê Lima