Sinopse

"Neste espaço encontra-se reunida uma coletânea dos melhores textos, imagens e gráficos sobre o futebol, criteriosamente selecionados e com o objetivo de contribuir para a informação, pesquisa, conhecimento e divulgação deste esporte, considerando seu aspecto multidisciplinar. A escolha do conteúdo, bem como o aspecto de intertextualidade e/ou dialogismo - em suas diversas abordagens - que possa ser observado, são de responsabilidade do comentarista e analista esportivo Benê Lima."

terça-feira, julho 01, 2008

UMA VISÃO MENOS SUPERFICIAL

O PREÇO DA DESORGANIZAÇÃO


Fortaleza mostra-se falto em lidar com a sistemática da descontinuidade

Há indícios de que o ex-técnico do Tricolor, Heriberto da Cunha, ia um pouco mais além do que a utilização da mera desculpa retórica, na tentativa de justificar os maus resultados de sua equipe. Fomos informados que o ex-trainer tricolor fez menção intramuros a problemas intestinais ocorridos com quatro atletas, um pouco antes da partida contra o Criciúma, situação não confirmada pelo departamento médico do clube.

A verdade é que a passagem de Heriberto pelo futebol cearense revelou um ser humano que, como a maioria, também tem suas contradições, suas fraquezas, suas ‘sinuosidades’, seu repertório idiossincrásico enfim. Até aí tudo normal. O que excede de um comportamento aceito como padrão de normalidade, é a obsessão que demonstrou em transferir responsabilidade, como se não pudesse admitir sua falibilidade.

Os erros e suas responsabilidades

Reconhecida a cota-parte de Heriberto em não conseguir deter o processo de involução do time tricolor, passemos à análise do quinhão da diretoria da agremiação. Afinal, para um clube do qual tanto se enaltece sua organização e sua estrutura, não constitui uma atitude condizente com tal premissa a constante mudança de comando técnico. Também não é aceitável a descontinuidade da seqüência do trabalho junto ao time, algo que acaba por revelar falha na estrutura do departamento de futebol profissional. Pois, não ter profissionais preparados sequer para a interinidade caracteriza, no mínimo, a falta de adequação da estrutura do clube à sua própria realidade. Ou seja, o clube ainda não aprendeu ou não tomou providências para se defender de suas próprias falhas, produzidas pela realidade dos equívocos cometidos em seu gerenciamento.

No caso específico da saída de Heriberto da Cunha, ficou exposta a fragilidade da estrutura do comando técnico tricolor, que deu mostra de estar meio perdido e de mover-se a rogos quando a situação requeria urgência e solidez de critérios. A indicação de Alexandre Irineu para a interinidade e o retardo para escolha do substituto de Heriberto, deram causa ao aprofundamento da involução do time, situação que atingiu o seu apogeu na partida frente o ABC.

Só deu Ferdinando

O novo treinador, Luís Carlos Barbieri, conta com o beneplácito de não conhecer o elenco que tem a sua disposição, embora tenha pecado pela falta de sinceridade em admitir o fato. Mas o preço desse desconhecimento já lhe foi cobrado e ele já o pagou, com a derrota inesperada por 3 a 2 para o ABC de Ferdinando Teixeira.

E o técnico-sociólogo deitou e rolou sobre o estreante Barbieri. Servindo-se de um time com cara de misto-quente, Ferdinando armou-se com o seu indefectível 3-5-2, utilizando-se do nosso conhecido Panda como falso volante, mas que na verdade atuou como 3º zagueiro e líbero, menos para converter-se em homem-surpresa e mais para possibilitar as incursões do lateral Alisson.

O lateral abecedista, que já estivera na cara do gol tricolor em ocasião um pouco anterior à do gol assinalado aos 18 minutos, diante das facilidades encontradas pela fragilíssima marcação tricolor, insinuava-se em dar apoio ao seu ataque, projetando-se ora entre Gilberto Matuto e o incipiente Romário Mendes, ora entre este e Preto.

O técnico do ABC, à medida que reagia às tentativas de seu opositor Barbieri, mudava os jogadores mas não alterava o esquema, preservando o que vinha dando certo. De tal maneira que aos 22 minutos da 2ª fase de jogo, de um a outro lateral, ou seja, um lançamento longo de Alisson a Ivan, que entrara no posto do lateral-direito Serginho, determina a segunda queda do gol tricolor, colocando novamente o ABC em vantagem no placar. E aí, o time norte-rio-grandense não mais perderia a vantagem obtida, sobretudo após ampliar para três o número de gols consignados.

A participação de Barbieri

A mudança do esquema tático não é a responsável pelo mau momento do Fortaleza. Ao contrário, a mudança daquele 3-5-2 com três zagueiros, dois volantes e um meia, com revezamento da ocupação da lateral-direita, mostrou-se de maior complexidade que a adoção do 4-4-2 convencional. Logo, atribuir-se à mudança de esquema tático peso significativo pelas dificuldades enfrentadas pela equipe tricolor não me parece argumento válido.

Barbieri teve um desempenho ruim, acima de tudo por que não conhece o elenco tricolor. Ademais, deixou transparecer que foi tremendamente mal-assessorado. Como se não bastasse, ainda veio à tona uma questão de caráter político, e através dela pudemos inferir se não uma situação de fato, mas ao menos uma situação potencial de idéia preconcebida, que pode ser expressa pela arrogância de certos dirigentes, que se sentem diminuídos em terem em seu time uma base de uma equipe local.

Os principais problemas revelados pelo comando técnico tricolor:

- O posicionamento de Erandir, Mazinho Lima e Simão;
- A escalação de Lúcio e de Romário Mendes e a insistência em mantê-los em campo;
- A preferência por Osvaldo em detrimento de Léo Jaime;
- O não aproveitamento de Raul e de Eusébio.

Benê Lima


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