Aliando conhecimentos teóricos à prática, esses profissionais otimizam sua atuação tanto em sala de aula quanto em seus empreendimentos e estão mostrando que existe vida fora da academia
"Imagine um universo de professores doutores em gestão numa dada faculdade. Cabem num ônibus. Feche o ônibus e anuncie que está rumando para uma empresa onde eles todos irão mostrar como as coisas deveriam funcionar. No entanto, apenas 1/3 deles ficará confortavelmente sentado no ônibus, pois eles têm essa vivência essencial, esse contato que faz com que aliem a teoria à prática em permanência. Já o restante estará em maus lençóis, pois se exporá ao ridículo, posto que não têm tido a chance de confrontar teoria e realidade, ou por terem uma prática equivocada do que seja pesquisa em gestão, ou 'ficam pesquisando as empresas sem sair dos muros protetores da academia'."
Esta situação, relatada por Henrique Freitas, professor doutor em Administração na UFRGS, mostra como educadores - especialmente os que têm uma trajetória acadêmica avançada, como os doutores - precisam ser atualizados e atuantes no mercado e na prática. E a importância de se ter essa vivência concreta do conhecimento também pode ser sentida em sala de aula. No momento em que a prática da Administração é questionada por um aluno, como um professor que há anos mantém seu foco apenas na academia responderá a esse tipo de pergunta com propriedade e conhecimento de causa?
A saída está na conciliação de atividades acadêmicas, como ensino e pesquisa, e o contato com o mundo corporativo e o empreendedorismo. Esse tipo de relação permite tornar o ensino do doutor em sala de aula mais dinâmico e rápido, pois existe a vivência das situações de mercado, como afirma Yeda Oswaldo, professora do Doutorado da Universidade Metodista e dona de uma empresa de consultoria na área de Gestão de Pessoas. “Nesse sentido, não é necessário que se espere que alguém escreva sobre alguma teoria para somente depois estudar sobre ela”, explica.
Dedicação exclusiva
No entanto, para quem leciona em instituições federais, a possibilidade de atuação no mercado é limitada. De acordo com o artigo 14 do decreto 94.664/87, só existem as seguintes possibilidades para a atuação de professores, que são: tempo parcial (20 horas semanais), exercido pela minoria dos docentes e dedicação exclusiva (40 horas semanais sem possibilidade de exercer outro trabalho remunerado, público ou privado), regime para a maioria dos educadores. Ainda sobre a dedicação exclusiva, o artigo também dispõe sobre as atividades permitidas a esse professor, entre as quais está a possibilidade de colaborar esporadicamente em assuntos de sua área mediante autorização da instituição a qual está vinculado.
“Quando realizo trabalhos de assessoria e consultoria, eles são feitos via uma normatização que é autorizada pela universidade e, assim, é possível realizar ações tanto em empresas públicas como no terceiro setor”, explica Magnus Luiz Emmendoerfer, professor doutor da Universidade Federal de Viçosa. Além disso, ele ressalta que o professor não pode ter um negócio ou atividade empregatícia atuando como um administrador.Para além da Academia
Diante disso, apesar de o professor doutor com dedicação exclusiva poder ter contato com o mercado, são anuladas suas possibilidades enquanto gestor que executa atividades e administra uma organização. No entanto, docentes que não atuam sob esse regime e doutores que não lecionam em universidades federais têm a oportunidade de efetivamente empreender e mostrar que teoria e prática devem ser valorizadas da mesma maneira. Isso possibilita espaço para o doutor utilizar seus conhecimentos teóricos para otimizar os negócios, o que, inclusive, possibilita um complemento aos seus rendimentos.
De acordo com o professor Marcos Fava Neves, chefe do Departamento de Administração da USP em Ribeirão Preto, embora as universidades façam um reajuste contínuo dos salários, em 10 anos ocorreu um desalinhamento com o mercado. Antes um docente de tempo integral com boa formação recebia 40% ou 50% do que ganharia como gestor no setor privado, mas hoje ele recebe 20% desse valor. “Uma pessoa com a mesma qualificação no setor privado chega a ganhar quatro ou cinco vezes mais. Então é necessário que ele possa complementar sua renda com seu trabalho, e com isto melhorar as aulas, as publicações e dar retorno a sociedade também”, afirma Neves, que também é criador do SpinoffMarkestrat. Há alguns doutores que já vêm atuando dessa forma e tendo ótimos resultados. Confira a as ações empreendedoras de alguns deles (clique em "show info").
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Benê Lima