Sinopse

"Neste espaço encontra-se reunida uma coletânea dos melhores textos, imagens e gráficos sobre o futebol, criteriosamente selecionados e com o objetivo de contribuir para a informação, pesquisa, conhecimento e divulgação deste esporte, considerando seu aspecto multidisciplinar. A escolha do conteúdo, bem como o aspecto de intertextualidade e/ou dialogismo - em suas diversas abordagens - que possa ser observado, são de responsabilidade do comentarista e analista esportivo Benê Lima."

sexta-feira, abril 19, 2013

Ricardo Gomyde, diretor de futebol do Ministério do Esporte

"Dos 800 clubes no Brasil, apenas 100 têm calendário", aponta

Guilherme Yoshida / Universidade do Futebol

Fair Play financeiro, desenvolvimento do futebol feminino no Brasil, internacionalização dos clubes brasileiros no exterior, calendário adequado, melhorias na governança, e até aumento da média de público nos estádios.

Estes são apenas alguns dos desafios que Ricardo Gomyde tem de lidar diariamente quando chega ao departamento de futebol do Ministério do Esporte, seção na qual atua como diretor.

E ele, no entanto, parece já ter as respostas para a maioria dos questionamentos que envolvem o desenvolvimento contínuo do esporte mais popular do país e de todos os seus setores relacionados.

Ideias que evitem novos endividamentos dos clubes, leis que promovam uma melhor capacitação dos profissionais que atuam nos diversos segmentos do futebol brasileiro, e até a proibição de dirigentes se perpetuarem nos seus respectivos cargos, são alguns dos projetos que pretende colocar em prática durante a sua gestão.

"Atualmente, temos 800 clubes profissionais no país, mas, apenas 100 deles têm calendário o ano todo. Isso gera desemprego e cria dificuldade até para o desenvolvimento de talentos. Além disso, ainda pesa muito negativamente nos clubes a questão do passivo [dívidas antigas], principalmente de ordem trabalhista. Precisamos resolver isso, para depois implantarmos um marco zero de governança e gestão no futebol. Não conseguimos resolver isso [redução do passivo] com a Timemania. Ainda há dirigentes que deixam de pagar os impostos para contratar jogador", afirma Ricardo Gomyde, em entrevista exclusiva à Universidade do Futebol.

O gestor público acrescenta ainda ter recebido ordens da presidenta Dilma Roussef para dinamizar a modalidade feminina dentro do futebol brasileiro e que já conta até com recursos financeiros para cumprir a determinação. Porém, devido a problemas contratuais da CBF, estes incentivos ainda não podem ser repassados.

Não há ainda também soluções concretas que possibilitem, em curto prazo, a melhora do calendário nacional e uma maior qualidade da imagem dos clubes brasileiros no exterior. Mesmo assim, Gomyde consegue apontar alguns fatores que evoluíram no principal esporte do país.

"O nosso futebol vem se fortalecendo. Os grandes talentos voltaram ao Brasil, os clubes incrementaram suas receitas e estão caminhando rumo à profissionalização. Caso o passivo dos clubes deixe de pesar tanto no orçamento, daremos um grande salto neste aspecto do endividamento. Mas, há que haver uma responsabilidade financeira. E uma responsabilização do gestor irresponsável", completa.

Nesta entrevista, Gomyde ainda revelou um projeto que está em andamento no Ministério do Esporte para incentivar os clubes a investirem em esportes olímpicos em troca de benefícios fiscais, e por que as federações estaduais ainda são importantes no atual cenário da indústria do futebol. Confira a íntegra:

Universidade do Futebol – O que fazer para reduzir o endividamento dos clubes de futebol no Brasil? Ações como o Fair Play financeiro seria viável no nosso país?

Ricardo Gomyde – Estamos estudando desenvolver um grande projeto de formação de atletas olímpicos no Brasil utilizando a estrutura dos clubes sociais. Boa parte deles está com dívidas com a União, não conseguem pagar, e ficam com seus equipamentos ociosos em parte do tempo. É comum ter horários nos quais poucos sócios os frequentam. Assim, é possível abrirmos estes espaços aos treinamentos esportivos dando um benefício direto a estes clubes.

Então, estas agremiações passariam a administrar esportes olímpicos e, com isso, teriam acesso a benefícios fiscais, como o abatimento das dívidas antigas. Mas, veja, não será um perdão das dívidas. Queremos que, a partir deste projeto, os clubes não possam se endividar novamente. E por que não permitir que os clubes de futebol também participem deste processo? Estes clubes também têm dívidas fiscais gigantescas e que não são pagas.

O futebol tem uma cadeia produtiva muito interessante para o país. Mesmo sem a profissionalização em todos os seus setores, o futebol representa 0,4% do PIB nacional. Porém, diferentemente das indústrias automotiva, petrolífera, ou de agricultura, que muitas vezes são protegidas, já que uma crise pode gerar um grande desemprego, o futebol sofre um preconceito e não é visto assim, como uma indústria forte na economia brasileira. Ele também merece ser protegido e organizado, pois vai gerar ainda mais empregos.

Atualmente, temos 800 clubes profissionais no país, mas, apenas 100 deles têm calendário o ano todo. Isso gera desemprego e cria dificuldade até para o desenvolvimento de talentos. Além disso, ainda pesa muito negativamente nos clubes a questão do passivo [dívidas antigas], principalmente de ordem trabalhista. Precisamos resolver isso, para depois implantarmos um marco zero de governança e gestão no futebol. Não conseguimos resolver isso [redução do passivo] com a Timemania. Ainda há dirigentes que deixam de pagar os impostos para contratar jogador.

Este projeto está ainda em fase de estudo, mas teria que vir acompanhado de um contrato de adesão que estabelecesse boas práticas de governança, como o fair play financeiro e as decorrentes punições tanto em âmbito judiciais quanto esportivos. Esperamos que a Copa do Mundo não deixe um legado somente de infraestrutura, mas, também de gestão e democratização do futebol.

Cabe ao governo federal definir as políticas públicas, dar o norte para uma formação ideal dos técnicos no futebol brasileiro, diz Gomyde

Universidade do Futebol – Quais ações o Ministério do Esporte pretende realizar que possam contribuir para a profissionalização de diversos segmentos que atuam no futebol ainda de forma amadora, como árbitros e dirigentes?

Ricardo Gomyde – Nosso futebol tem evoluído do ponto de vista da profissionalização, mas ainda é insuficiente. Nosso esforço é neste sentido. Mesmo assim, algumas profissões já avançaram neste assunto, como os executivos, com a criação da ABEX [Associação Brasileira dos Executivos de Futebol]. Isso já uma grande novidade prática neste assunto, pois, geralmente, quem atua no comando destas áreas do futebol não tem uma qualificação específica.

Já na parte técnica, também temos visto algumas mudanças nas novas gerações de treinadores. O Ney Franco, por exemplo, é um técnico com formação acadêmica em Educação Física. Para árbitros, porém, ainda não temos nada em vista. Mas, todo o movimento que existir neste sentido vai ter o nosso apoio.

Segundo o diretor do ministério, a pouca presença de público nos estádios não está relacionada à realidade econômica do país e que as arenas para a Copa devem amenizar este cenário

Universidade do Futebol – Em sua opinião, quais as razões pelo pouca preocupação que existe no Brasil com a capacitação de profissionais (treinadores, dirigentes etc.) para o futebol em relação aos investimentos estratégicos que são feitos em muitos outros países nesta área?

Ricardo Gomyde – Iniciou-se um processo irreversível no qual a profissionalização é destino certo. Há bons e animadores exemplos disto. Como disse anteriormente, já há treinadores da nova geração fazendo cursos, com formações que unem teoria e prática. Muitos têm a preocupação de se inscreverem no CREF [Conselho Regional de Educação Física].

A própria ABEX, que também promove a capacitação dos gestores. Já vemos no mercado atual nomes como Rodrigo Caetano ou Felipe Ximenes. Então, tudo isso é parte desta profissionalização que estamos vendo. Clubes como o Coritiba, por exemplo, já contam com uma gestão profissional nos seus diversos departamentos. O presidente cobra por resultados e, se não acontecerem, pode demitir ou mudar o planejamento, como ocorre em uma empresa.

Hoje em dia, os Centros de Treinamentos também estão bem melhores do que víamos no passado. De maneira geral, este projeto que falei na primeira pergunta terá uma grande importância neste processo. No entanto, é preciso ficar claro que os clubes são entidades privadas e eles contratam quem quiser.

Para Gomyde, os clubes devem ter um calendário que possibilite excursionar pelo exterior entre um campeonato e outro. Assim, eles serão mais vistos, conseguirão internacionalizar as suas marcas e conquistar novos mercados

Universidade do Futebol – É possível se implantar uma política pública nacional de formação de treinadores de futebol?

Ricardo Gomyde – É possível. Mas, não é a nossa prioridade neste momento. Mesmo assim, a capacitação dos profissionais que atuam na área do treinamento já vem acontecendo. Hoje em dia, a maioria dos novos treinadores de futebol tem passado por cursos, adquirindo conhecimentos específicos para o exercício desta função.

Eventos como o Footecon [Fórum Internacional de Futebol] também contribuem bastante para a evolução destes profissionais. Porém, nós, do Ministério do Esporte, não podemos oferecer cursos, devemos ajudar com uma legislação adequada. Cabe ao governo federal definir as políticas públicas, dar o norte para uma formação ideal dos técnicos do futebol brasileiro.

Universidade do Futebol – O que o senhor pensa diante da seguinte situação: o esporte mais popular do Brasil é gerido por uma entidade privada e que, se o governo intervier na administração da mesma, o próprio país pode até sofrer sanções da Fifa...

Ricardo Gomyde – Assim é a organização do futebol no mundo todo. No entanto, mesmo sem influenciar na eleição dos dirigentes, é preciso que o Estado tenha mais papel neste processo.

O governo não pode intervir, mas, tem de ser ouvido. A própria CBF [Confederação Brasileira de Futebol] sequer aceita investimentos públicos para não ser fiscalizada. Porém, é preciso entender que a seleção brasileira de futebol é um elemento fundamental de unidade nacional, não deveria pertencer a uma federação.

O Estado deveria ter uma participação maior neste processo, ver como poderia contribuir de uma maneira melhor para este cenário. Uma das ideias, por exemplo, seria impor a reeleição de dirigentes, pois, do jeito que está, até inibe a formação de novos gestores no nosso futebol.

Se um presidente da República precisa passar por um processo eleitoral para ter a permissão de continuar na mesma função apenas por mais quatro anos, por que um dirigente de confederação pode ficar eternamente no cargo? São questões que queremos debater num futuro próximo.

Temos uma determinação da presidenta Dilma Roussef para que o futebol feminino seja apoiado. Mas, há problemas contratuais da CBF que impedem que este incentivo ocorra, diz Gomyde

Universidade do Futebol – Qual é o papel das federações estaduais no atual cenário da indústria do futebol? Elas são indispensáveis? O que elas promovem de benefício em se pensando o desenvolvimento do futebol?

Ricardo Gomyde – As federações têm um papel importante no futebol brasileiro. Organizam inúmeros campeonatos regionais, de várias divisões de acesso. Além disso, administram as categorias de base, o futebol feminino, as competições amadoras, entre outras.

Então, imagine se deixassem de existir o impacto negativo que isto traria. Há que se profissionalizar, mas não extinguir. Muitas federações proporcionam até cursos de capacitação profissional para os diversos segmentos de atuação dentro do futebol. Então, entendemos que elas têm de melhorar, mas não decretarmos o fim delas. Devemos estimular as federações a promover melhor o futebol que está sob suas gestões.

Universidade do Futebol – Qual é a sua posição sobre o atual modelo do calendário nacional? Que mudanças você sugeriria? Respeito às datas Fifa, redução dos Estaduais aos grandes clubes e maior valorização do Campeonato Brasileiro podem ser emplacadas? E uma adequação ao calendário europeu/mundial?

Ricardo Gomyde – Pensamos que os nossos clubes devam ter um calendário que possibilite excursionar pelo exterior entre um campeonato e outro. Assim, eles serão mais vistos, conseguirão internacionalizar as suas marcas, conquistar mercados, e, com isso, o futebol brasileiro melhorará a sua imagem no cenário mundial.

O Campeonato Brasileiro não é transmitido para fora do Brasil. A gente vê camisa do Barcelona em todos os cantos do mundo. Por que o uniforme do Flamengo também não é visto? Tenho um amigo que estava na China quando o Corinthians sagrou-se campeão do Mundial de Clubes da Fifa, no último mês de dezembro, no Japão. Daí, perguntei para ele como tinha sido a repercussão daquele jogo naquele país. E ele revelou que lá só se falou da derrota do Chelsea, e não da vitória do Corinthians. E por que isso aconteceu? Porque o Campeonato Inglês é transmitido para toda a Ásia.

Então, é necessária uma mudança neste aspecto. Para isto, porém, temos de rediscutir o calendário. Nós temos 700 clubes profissionais no Brasil que jogam de menos no ano e acabam fechando as suas portas. Em contrapartida, há os grandes clubes, que são a minoria no futebol brasileiro, que jogam em demasia e, muitas vezes, até bem mais do que os grandes europeus. É preciso haver um equilíbrio.

Esta, inclusive, é uma outra discussão que temos feito no ministério, de como melhorar o calendário nacional. Ainda não temos uma solução do que seria o mais ideal para nós. Além disso, uma melhor distribuição das partidas ao longo de uma temporada reduziria também as lesões dos atletas.

Para Ricardo Gomyde, o atual técnico do São Paulo, Ney Franco, é uma referência dos treinadores da nova geração do futebol brasileiro

Universidade do Futebol – Atualmente, mesmo com mais dinheiro e jogadores de renome internacional atuando no país, o futebol brasileiro atravessa uma grande crise. A média de público nos estádios é baixa, os clubes estão endividados, o calendário é alvo constante de críticas e o amadorismo impera entre os que atuam no futebol. Em sua opinião, a que se deve esta crise? O que devemos fazer para sairmos desta incômoda situação?

Ricardo Gomyde – Não chamaria este cenário de crise. O nosso futebol vem se fortalecendo. Os grandes talentos voltaram ao nosso país, os clubes incrementaram suas receitas e estão caminhando rumo à profissionalização. Caso o passivo dos clubes deixe de pesar tanto no orçamento, daremos um grande salto neste aspecto do endividamento. Mas, há que haver uma responsabilidade financeira. E uma responsabilização do gestor irresponsável.

Agora, realmente, a questão do público deixa a desejar no nosso futebol. Mas, acredito que este fato não esteja relacionado à realidade econômica do nosso país, e, sim, a uma combinação de fatores, como a má qualidade dos estádios brasileiros. Penso que a Copa do Mundo amenizará isso. Com as novas arenas esportivas que estão sendo construídas, a experiência de assistir a um jogo de futebol vai melhorar significativamente.

Atualmente, ainda não é deste jeito. Sair de casa, tomar chuva, comida de baixa qualidade, além da violência, que mesmo ocorrendo com mais frequência nos arredores, contribuem muito para o distanciamento do público das arquibancadas.

Também temos uma pesquisa curiosa que constatamos que banheiro ruim afasta muito as mulheres dos estádios. Então, com as novas arenas, entrar e sair dos jogos vai ser bem mais atrativo para os torcedores.

Universidade do Futebol – Apesar de ser uma modalidade olímpica, o futebol feminino ainda inexiste aos olhos do grande público, o que está sendo feito para desenvolver esta modalidade? Qual é o prognóstico até as Olimpíadas de 2016?

Ricardo Gomyde – Temos uma determinação da presidenta Dilma Roussef para que o futebol feminino seja apoiado. Então, estamos debruçados sobre como dinamizar esta modalidade dentro do futebol brasileiro. A situação atual é inaceitável.

Temos uma seleção brasileira muito competitiva, mas, não temos uma competição nacional regular todos os anos. Precisamos ter um campeonato brasileiro feminino contínuo, com calendário por toda a temporada. Há muitas dificuldades também de se montar times femininos. Os clubes necessariamente precisariam ter uma participação neste processo.

Até mesmo a seleção brasileira tem muito pouco apoio, as atletas sempre se queixam. Talvez seja a única modalidade olímpica no Brasil que não tenha categorias de base. Vivemos da sorte dos talentos que temos. Isso precisa mudar.

O ministro [do Esporte] Aldo Rebelo até já conversou com o presidente da Fifa, Joseph Blatter, para buscar soluções para este impasse. Inclusive, já temos até os recursos para isto, mas há problemas contratuais da CBF que impedem que este incentivo ocorra. Isso porque a confederação vende a mesma publicidade para todas as seleções nacionais, desde as categorias de base até o time principal, e para as modalidades masculinas e femininas.

E, para a gente entrar com os recursos para incentivar o futebol entre as mulheres, seria através do patrocínio de uma estatal. Mas, o logo desta empresa não pode aparecer na camisa por causa deste contrato da CBF. Então, isso é uma dificuldade também. Porém, em breve, acharemos uma solução, estou certo.

O gestor público diz acreditar que o Brasil melhorou muito nos problemas que aconteciam dentro de campo, como arremesso de objetos nos gramados e até o fator bebida nos estádios

Universidade do Futebol – O que está sendo feito e quais ações você julga as mais urgentes para desenvolver o esporte mais popular do país?

Ricardo Gomyde – Estamos no bom caminho. Penso que precisamos implantar ações que vão gerar melhorias em cada uma das áreas do futebol brasileiro, que ajudem nossos clubes a desenvolver uma estrutura administrativa adequada, com um sistema de governança.

Até nas federações estaduais este modelo deve ser trabalhado. E acredito que a Copa do Mundo de 2014 vai acelerar estas soluções.

Universidade do Futebol – Para você, qual o maior problema do futebol brasileiro? E qual nosso maior mérito?

Ricardo Gomyde – O maior mérito do futebol nacional é inegavelmente o talento do jogador brasileiro com a bola no pé. Somos os maiores vitoriosos da história do futebol mundial.

Agora, o principal problema está relacionado à área de gestão. Temos de compreender melhor a indústria do futebol. Sem preconceitos ou falácias.

Universidade do Futebol – Qual a sua avaliação a respeito do Estatuto do Torcedor após alguns anos que está em vigência?

Ricardo Gomyde – O Estatuto do Torcedor deu direitos a quem antes quase não os tinha: o torcedor. Com ele, houve inúmeros avanços, entre eles, o fato de não haver mais chance de virada de mesa.

Melhoramos muito também os problemas que aconteciam dentro de campo, como arremesso de objetos nos gramados e até o fator bebida nos estádios. Acredito que a sociedade tem de comemorar esta conquista, que contou com a importante ajuda do Ministério Público. Ele puniu as más práticas dentro de um estádio. Mesmo assim, estamos discutindo evoluções para o estatuto.

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Benê Lima