Jovens que estão sempre em busca de aperfeiçoamento já comandam alguns dos maiores clubes do país
Por André Baibich / Zero Hora
Jair Ventura levou o Botafogo à LibertadoresFoto: Vitor Silva / Botafogo
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Jovens devoradores de livros de tática e alunos de cursos sobre futebol. Conhecidos por usar termos que, em entrevistas, causam alguma estranheza. Firmes adeptos do método em detrimento do empirismo, da ciência sobre o achismo. Assim é a nova geração de técnicos brasileiros que, aos poucos, deixa as categorias de base e os clubes de menor expressão para tomar conta das casamatas mais cobiçadas do país.
Eduardo Baptista foi o
escolhido para comandar o campeão brasileiro Palmeiras, Roger Machado está no
Atlético-MG, Jair Ventura, no Botafogo. Zé Ricardo impulsionou a boa campanha
do Flamengo no Brasileirão, Antônio Carlos Zago recebeu a difícil missão de
tirar o Inter da Série B e Rogério Ceni, depois de se encantar, ainda como
jogador, com as ideias do mexicano Juan Carlos Osorio, foi à Europa para se
aperfeiçoar antes de assumir o São Paulo.
Os grandes times do Brasil
parecem ter percebido o movimento de treinadores que já não se contentam com
distribuir coletes e motivar jogadores a base de jargões de boleiro. Os novos
professores querem entender o jogo a fundo para transformá-lo, algo que atinge,
também, outras áreas do esporte.
— Há uma mudança na cultura
da formação dos nossos técnicos. É algo que extrapola o campo e vai para outros
setores, até mesmo para o jornalismo. Hoje temos leituras menos superficiais do
jogo — analisa Eduardo Tega, CEO da Universidade do Futebol, instituição que
promove grupos de estudo e cursos presenciais e na internet.
Ainda que o perfil
"estudioso" tenha chegado aos gigantes do Brasil, ainda não há uma
procura específica por esse tipo de profissional.
— Não diria que existe uma
busca por este perfil, mas o técnico tem de evoluir. O que há é uma tendência à
profissionalização do futebol em todas as áreas. Por outro lado, ainda temos
essa figura do dirigente amador — critica o empresário Gilmar Veloz.
O técnico com vasto
conhecimento teórico obriga mudanças em quem o cerca. O jornalista tem de se
informar para entender o que diz seu entrevistado e, se o dirigente não se
aprofundar na análise do trabalho do treinador, não é capaz de cobrá-lo. A
transformação é, muitas vezes, encarada com forte resistência.
— O jogo é de ideias e
conceitos. A comissão técnica tem de saber ter essa metodologia e colocar o seu
modelo em prática. O problema é que, às vezes, isso é tratado com deboche, como
uma brincadeira. Dizer que o cara estuda muito se torna algo pejorativo — afirma
Cleber Xavier, auxiliar técnico da Seleção Brasileira.
— A maioria dos dirigentes
tem uma leitura muito superficial do jogo. Não tem convicção alguma do tipo de
trabalho que quer, do modelo de jogo. Acaba entregando a chave do vestiário
para o treinador e o executivo. Enquanto o time estiver ganhando, fica. Quando
perder, troca — diz Tega.
Os cursos da Universidade do
Futebol são muito procurados por treinadores e auxiliares. Os executivos também
buscam conhecimento. Os dirigentes políticos, porém, raramente vão atrás desse
tipo de especialização, um indício de que tendem a ficar para trás no processo
de evolução do futebol brasileiro. Ainda assim, são as figuras que ocupam os
cargos mais importantes dos clubes.
Enquanto estiverem à margem
do debate mais aprofundado do jogo, talvez não sejam capazes de liderar o que
Tega vê como a "segunda onda" de mudança do futebol brasileiro. Ele
defende que a primeira é justamente o surgimento de profissionais que valorizam
o conhecimento, impulsionando a evolução de quem os cerca. O próximo passo
seria fazer com que esse arcabouço teórico chegue aos jogadores e integre o
processo de formação do atleta.
— O clube tem de investir
para possibilitar aos jogadores o conhecimento sobre o jogo. Hoje, isso ainda
depende muito da capacidade do treinador de ser didático ou não. Tem de ser
parte da formação e é algo que só vai acontecer com a comunicação ideal destes
conceitos — conclui.
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Benê Lima