O preço dos ingressos para as principais competições de futebol considera inúmeros fatores como segurança e conforto, mas também passa por aspectos econômicos e de regulamentação
VIRGÍLIO FRANCESCHI NETO / Universidade do Futebol
Durante o fim de semana a repercussão em cima do preço médio dos ingressos do futebol foi bastante grande. Mais do que antes, porque é tema delicado e ficou ainda mais após a construção dos estádios que receberam o mundial de futebol masculino, há cinco anos. Sem dúvida alguma que os preços dos ingressos aumentaram de maneira considerável, no entanto é preciso ao mesmo tempo compreender o porquê deste aumento.
Longe de defender esta alta, que afasta boa parte do público do futebol, muita coisa mudou nas últimas décadas em termos de padrões de segurança, acomodação, acesso e operação de um evento esportivo, que também nestes casos também são de entretenimento. Há muito mais pessoas envolvidas e complexas operações que exigem tempo e profissionalismo. Ao mesmo tempo, a indústria do lazer cresceu sobremaneira e, com isso, a concorrência. Em outras palavras, a disputa pelo mercado consumidor. Não há muito tempo as pessoas se lembram de como era antigamente chegar ao estádio, escolher (ou não) um lugar, tomar chuva ou ‘aquele' sol bem ‘na cara’. Se houver outra opção, mesmo mais cara, mas que o torcedor não passe por isso, a paixão fica de lado na maioria dos casos.
Simultaneamente, temos uma economia em que a concorrência não é grande e a competitividade baixa em comparação com os grandes centros econômicos do mundo, nomeadamente América do Norte, Europa e Ásia. Soma-se isso à paridade do poder de compra da nossa moeda, os preços acabam ficando mesmo caros. Exemplo: uma partida de futebol da primeira divisão de um importante centro na Europa a 40 euros, comparado ao salário mínimo daquele país, é preço relativamente acessível e as operações do estádio ou do clube são pagas. Não é o que acontece no Brasil, com o ingresso a 40 reais e nem fazendo o câmbio exato de euros para reais.
É uma sequência em cadeia.
Ademais, o futebol de rendimento está caro. Os futebolistas de ponta ganham cada vez mais, com inúmeras pessoas envolvidas no processo de preparação, formação e contratação do atleta. Há muito mais partes interessadas que operam em um mercado de baixíssima regulamentação e fiscalização. Isso permite pensar que a barganha política que existe é muito grande. Um setor regulamentado e fiscalizado sugere sustentabilidade. É por isso que, volto a dizer, sou fã da política de teto salarial e normatização para agentes de atletas nas ligas norte-americanas.
Com tudo isso, parte desta grande alta dos preços dos ingressos tem como origem toda esta gama de transformações da indústria do entretenimento, em também como a sociedade e o conceito de lazer mudaram, somada à complexidade do modelo econômico e uma ausência de regulamentação do mercado.
Mais uma vez: longe de querer justificar a alta dos preços, mas mais perto de querer compreendê-la.
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Em tempo mais uma citação que se relaciona com o tema da coluna:
“Desporto é a expressão corporal do progresso sócio-econômico de um povo.”
Prof. Dr. Manuel Sérgio, filósofo português (1933-)
Prof. Dr. Manuel Sérgio, filósofo português (1933-)
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Benê Lima