Opinião
O PASSADO OUTRA VEZ SE FAZ PRESENTE
Os dirigentes de Ceará e de Fortaleza parecem andar em círculos, fazendo revivescer os mesmos equívocos e produzindo outros mais
O Campeonato Cearense aí está, mas não como deveria. Longe de representar um aceitável padrão de planejamento e organização, presenciamos a reprise de erros que, não fora pela gradação que os caracteriza, passariam da condição de similitude à de reprodução fidedigna.
Sem dúvida há também acertos na ‘contabilidade’ dos nossos cartolas. Entretanto, os erros naturalmente atraem maior atenção, pelo aspecto contraproducente que lhes é imanente, além do componente incitante à crítica que acabam despertando.
Sabemos que tanto o discurso do pessimismo quanto o do otimismo não passam de visões extremadas de uma realidade que pode e deve ser por nós construída. Logo, a partir deste ponto nos cabe assumirmos uma atitude ativa e resoluta em benefício do futebol, modalidade esportiva do mais candente valor cultural em nosso País, no que pese a teima de uns poucos intelectuais empedernidos.
Nota-se, pois, que o futebol está falto é de ações refletidas e pedagogicamente planejadas – notadamente no estado do Ceará, e não só – para que ele aqui possa, definitivamente, ingressar na pós-modernidade que o transformou, se não no maior dos macronegócios, certamente no súpero, após os negócios ligados aos governos.
Ao cunhar uma frase que tem mais de proposição que efeito meramente retórico, o fiz inspirado no conceito de reengenharia. A sentença tem assumido caráter axiomático, por duas razões simples. Primeiro, trata-se do reconhecimento da necessidade de se promover um conjunto de ações firmes e constantes, no sentido de assumirmos a efetividade do futebol cearense. Em seguida, repensar-lhe e reinventá-lo, a partir, evidentemente, dos conceitos vigentes, tais como – progressivamente alinhados – os de multidisciplinaridade, transdisciplinaridade e interdisciplinaridade. Eis a sentença: “O futebol cearense existe, e precisa ser reinventado”. (Enquanto isso, o Secretário de Esportes, Ferrucio Feitosa, sequer tem uma poli[itica definida para o aproveitamento do Castelão por parte dos nossos dois maiores clubes> Ceará e Fortaleza.)
A título de exemplo, mencionamos a cada vez maior exigência da psicologia no meio esportivo, atuando em pelo menos duas frentes: a motivacional e a de definição do perfil psicológico do atleta. Não por acaso, é visível o crescimento do número de componentes das atuais comissões técnicas nos clubes de futebol. Ademais, crescem também as exigências para a qualificação destes novos profissionais, já que atuarão junto a atletas de alto rendimento.
Neste ponto, vale esclarecer que o conceito de reengenharia é basicamente o repensar fundamental e a reestruturação radical dos processos empresariais que visam alcançar drásticas melhorias em indicadores críticos e contemporâneos de desempenho, tais como custos, qualidade, atendimento e velocidade.
Adaptando o conceito que importamos da contabilidade de custos para a gestão desportiva, podemos dizer que esse repensar fundamental consiste em nos submetermos aos ditames do conhecimento das diferentes disciplinas que permeiam o futebol.
Lamentavelmente, a falta de profissionalismo é algo flagrante em nosso meio futebolístico, a ponto de não se ter a menor iniciativa na formação de dirigentes, situação que obsta o real crescimento do futebol em nossa localidade. Entra ano sai ano e o futebol cearense se repete em sua mediocridade, sempre subestimando e rejeitando o capital intelectual, condição ‘sine qua non’ para o alcance da auto-sustentabilidade.
Na prática, vemos o mesmo ‘filme’ de outrora: Fortaleza, e principalmente o Ceará, ambos em corre-corre para montarem suas equipes... E o campeonato batendo em suas portas.
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EFEMÉRIDES
Ferrão passa por Boa Viagem
A parte que lhe cabia para motivar o Clássico Tricolor da próxima quarta, 23, o Ferroviário fez. Faltou ao Fortaleza fazer a sua, diante de um Icasa apenas razoável. Mas, isto é uma outra estória. O enredo Coral construído junto ao Boa Viagem esteve envolto a (...) muita sorte – digamos! Futebol de mediano a sofrível com um gol salvador discutível ao apagar das luzes.
Uma proposição
Esqueçamos o conceito filosófico de tese e teoria. Consideremos tão-somente a seguinte proposição. Há muito venho observando que alguns clubes ditos ‘pequenos’ e outros ditos ‘médios’, só jogam um futebol aceitável quando enfrentam Ceará e Fortaleza. Entre eles o Ferroviário. Não é meramente uma questão de estatística. No presente caso, antes é a observação e a prática de que os números da estatística são compostos. E, a meu juízo, qual o fator principal para isso? O motivacional. Enfrentar os ditos ‘grandes’ proporciona a certos times uma motivação extra com ‘gosto’ de superação. Entretanto, isso não constitui mérito: limitação é o que é!
A cultura da incultura
A campanha do Leãozinho na Copa São Paulo não deve ser criticada. O Estado do Ceará, futebolisticamente falando, foi muito bem representado pela garotada do Pici. Merece aplauso tanto a campanha da equipe leonina como o trabalho realizado por todos os envolvidos. Destaque para Lúcio Bonfim e Montenegro, entre outros. Afinal, temos notícia até de discriminação contra o time cearense.
Faltou estratégia ao Leão
De 2005 até aqui, esse é o mais fraco dos times icasianos. Não que não tenha chance de ficar entre os quatro e de até conquistar esse 1º turno. Contudo, suas possibilidades dependem do grau dos fracassos de Ceará e de Fortaleza. Por paradoxal que parece, é lícito dizer-se que a vitória do Verdão foi merecida. Contudo, foi ela construída muito mais sobre certa inércia e inaptidão de alguns atletas leoninos, que pela ‘sobrevalência’ de seu grupo sobre o do adversário. O atrevimento do time juazeirense foi motivado pela acomodação da equipe de Silas Pereira. Quem propiciou ao Icasa ‘gostar do jogo’ foi o próprio Fortaleza.
Má escolha
O técnico do Fortaleza abriu mão de uma maior movimentação ofensiva ao preterir a opção Osvaldo para utilizar a inaptidão de Cleiton. Principalmente se levarmos em conta que não há jogadas aéreas ensaiadas para o aproveitamento deste jogador, mantê-lo na equipe representa jogar com nove. Explico. Quando você sabe que não pode contar com um jogador, a tendência é que os demais supram a ausência dele. Porém, quando você tem um atleta na equipe que, além de não produzir, induz-nos a com ele contar sem que isso se materialize, ele passa a ter ‘peso’ menos dois. Ou seja: além de não ajudar ainda atrapalha. De outra parte, Play Freitas, técnico icasiano, que teoricamente errou com Clodoaldo em lugar de Vanderlei e acertou com Gilberto em lugar de Chiquinho, findou por colher resultados acima do esperado, beneficiado pelo errado que deu certo. Evidentemente que com a ajuda do Fortaleza.
Jogo da estagnação
Uniclinic e Ceará maltrataram a ‘branquinha’. 3 a 1 foi um prêmio para o torcedor alvinegro - que merece – mas um galardão imerecido para uma equipe que, pelo conjunto da obra, está em processo de ‘paralisia’. Para uma coisa o resultado serviu: aplacar o furor daqueles que há muito querem ver o técnico Heriberto da Cunha bem longe de Porangabuçu. E ainda sobrou ironia de Heriberto para a cartolagem alvinegra, que parabenizou a Águia por seu preparo físico. Enquanto o Ceará vai aos trancos e barrancos se habilitando ao G4 superior, o novo Uniclinic repete velhas fórmulas, velhos erros, sendo sério candidato ao G2 inferior.
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Frase de efeito. O Deputado e Radialista Gomes Farias resumiu sua impressão sobre a atual administração do Alvinegro: “O Ceará tá levando o time na base do amadorismo.”
Frase de efeito 2. Do setorista alvinegro Ibernon Monteiro: “Falta profissionalismo no Ceará.” Farias e Ibernon faziam referência à forma como a coisa vem sendo conduzida no Vozão. Embora os desabafos possam conter exageros, no mais das vezes eles contêm muito de verdade.
Crítica ‘frappé’. Faz parte do anedotário da coluna o registro de algumas escorregadelas dos coleguinhas. Edson Ferreira, repórter dos bons, esteve sem inspiração no jogo do Fortaleza frente ao Itapipoca. Conseguiu, afora outras, cometer dois erros numa só jogada. Falta cometida pelo atleta do time do interior no atleta Rogério do time da capital. Edson disse ter sido falta a favor do Itapipoca; ao reconhecer o equívoco, acabou cometendo um outro, ao confundir inexplicavelmente o volante Rogério com o lateral Michel, ambos do Fortaleza. Logo em seguida ele transformou um tiro-de-meta em tiro-de-canto. Eita!
Em alta. Trabalha muito o repórter Júnior Marquesini. Seu ‘faro’ o levou a registrar um ‘escorregão’ do competente árbitro Wladyerisson Oliveira, com direito ao ‘contraditório’. Assunto: Supressão da aplicação da regra, no que se refere ao tempo de acréscimo.
Pisada na bola. Conversando com Moura Pinto elogiei sobremaneira a postura do árbitro Wladyerisson Oliveira. Após a partida, Wladyerisson ingenuamente revela algo impressionante. “Atropelou a regra a pedido de alguns jogadores do Itapipoca, razão pela qual não concedeu os minutos de acréscimos cabíveis e aplicáveis ao contexto daquela partida”. Pode? Claro que não!
Limitação. Jogar ao lado de Rogério tem servido para expor as diferenças entre um volante moderno e um do tipo brucutu – como diria Tostão. O denodo de Dude tem sido insuficiente para dele fazê-lo titular de um Leão que se pretende de 1ª divisão.
Limitação 2. O aspecto político da discussão que envolve o atacante Cleiton, do Tricolor de Aço, para mim é ‘perfumaria’. Quanto aos aspectos técnico e tático, chega a me impressionar pela inoperância. Só joga para trás; não consegue reter a bola; não antecipa; não dribla; não tem velocidade; não chuta. Querem mais o quê?
Em baixa. Quem parece haver esquecido seu futebol é o volante Válter. Se tecnicamente já tem suas limitações, taticamente ele tem sido uma verdadeira nulidade. Não marca, não se posiciona, muito menos cria. Tá mal, mal!
Arbitragem. Torço por nossos árbitros e assistentes. Mas essa me parece uma causa perdida. A pusilanimidade de alguns deles é flagrante, enquanto outros estão em um momento ruim tecnicamente. No Quadro Especial contamos com apenas sete árbitros. Apesar disto, a falta de uniformização dos critérios de arbitragem é algo notório. Com a palavra a CEAF.
Arbitragem 2. Moita, pelo visto, jamais aprenderá a ter postura de árbitro. Até para dar um cartão é espalhafatoso. Marcos Sampaio, a quem já tanto elogiei, carrega uma falta de entusiasmo contagiante. Além disto, demonstra fazer distinção entre ‘grandes’ e ‘pequenos’.
Arbitragem 3. Almeida Filho e Wladyerisson Oliveira a nós nos parece os mais estáveis. Cleston Santino, apesar do apadrinhamento, tem crescido. O mesmo pode ser dito de Luzimar Siqueira, no que pese não pertencer ao tal ‘quadro especial’.
Arbitragem 4. Em Juazeiro do Norte, Marcos Sampaio deixou de expulsar o atleta Dude; marcou pênalti inexistente a favor da equipe do Icasa, quando o faltoso foi o atacante Clodoaldo e não o volante Rogério. Como decorrência de seu erro, excluiu o atleta tricolor da partida, prejudicando a equipe e o atleta em pelo menos duas partidas: a em curso e na seguinte.
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"Há quem inveje o que os outros possuem: isto é ruim; mas há quem inveje o que os outros são: isto é péssimo.” (Benê Lima)>
Benê Lima
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