Sinopse

"Neste espaço encontra-se reunida uma coletânea dos melhores textos, imagens e gráficos sobre o futebol, criteriosamente selecionados e com o objetivo de contribuir para a informação, pesquisa, conhecimento e divulgação deste esporte, considerando seu aspecto multidisciplinar. A escolha do conteúdo, bem como o aspecto de intertextualidade e/ou dialogismo - em suas diversas abordagens - que possa ser observado, são de responsabilidade do comentarista e analista esportivo Benê Lima."

segunda-feira, outubro 27, 2008

Para uma convivência pacífica

Alcides Scaglia
Na prática a teoria não é outra

Adágios, segundo nosso dicionário Houaiss, são sentenças morais originárias do senso comum. Vulgo ditado popular. E, se advêm do senso comum, não têm compromissos com a verdade, como já ressaltamos em outros momentos.

Mas de quantos adágios o futebol é formado?

“Futebol é uma caixinha de surpresas!”; “Futebol é dom!”; “Time que está ganhando não se mexe!”; “Quem não faz, toma!”; “Treino é treino, jogo é jogo”; “Goleiro é louco ou v...”,...

Poderia citar vários, pois são inúmeros, e estão em franco desenvolvimento. Mas quero me ater a um. Aquele que diz: “Na prática a teoria é outra”.

Esta máxima está arraigada no inconsciente coletivo de nossa sociedade em geral, mas quando focamos no interior da nossa sociedade um público em especial, vemos que este ditado, parece deixar de ser ditado para se firmar como axioma.

Axioma, em consonância com o léxico português, é “premissa considerada necessariamente evidente e verdadeira, fundamento de uma demonstração, porém ela mesma indemonstrável, originada segundo a lógica racionalista, de princípios inatos da consciência, ou segundo os empiristas, de generalizações das observações empíricas”.

Ou seja, quando digo axioma estou querendo dizer que o adágio deixou de ser simples ditado popular, para se tornar verdade absoluta, inabalável e pior, generalizável para outras situações cotidianas.

Obviamente estou me referindo à sociedade do futebol (apesar de poder incluir na discussão o mundo da Educação Física). A expressiva maioria dos que estão ligados direta ou indiretamente ao mundo da bola. De atletas a jornalistas, passando por técnicos, dirigentes, torcedores...

Não é de hoje a retórica sobre a ciência estar longe do futebol. Mesmo as ciências biológicas do treinamento desportivo sofrem com preconceitos e olhares duvidosos sobre seus resultados, tanto é verdade que um profissional super especializado nesta área recebe, infinitamente, menos dividendos financeiros que os empíricos boleiros.

Para ficar apenas na comparação financeira, pois se abordamos as questões relativas a prestígio a conta é mais humilhante ainda.

Logo, dizer: “Na prática a teoria é outra” é a melhor das justificativas para desqualificar a ciência e seus estudiosos desbravadores.

Evidentemente, na prática a teoria sempre será outra para quem não tenha idéia formada sobre a teoria.

Quem não tem estofo suficiente para entender sobre o método científico, nunca compreenderá como e onde as terias querem chegar.

Assim, os empíricos da sociedade da bola ao aplicarem as teorias sempre será na forma de receitas prontas, cópias, ou mesmo, entendimentos superficiais daquilo (teoria) que é complexo.
Uma teoria advém do método, o qual expressa um paradigma. Revela uma forma (um grau de óculos) de ver, entender e interagir com o mundo. Por este motivo as teorias têm compromisso com a verdade, pois se expressam a partir do rigor da ciência.

Lembro-me de assistir uma palestra com um renomado filósofo da Motricidade Humana, e durante mais de uma hora expôs os fundamentos de sua teoria, justificando os motivos e os porquês pensava e agia de modo diferente do pensamento cartesiano, evidenciando o emergente paradigma da complexidade como o telescópio de seu observatório.

Contudo no momento das perguntas um renomado treinador de futebol brasileiro (não formado em Educação Física) disse que já fazia tudo o que o filósofo houvera professado, quando dirigia um time de futebol profissional de São Paulo na década de 80.

Destaco a data, pois foi o mesmo período em que o filósofo esgrimia com mundo acadêmico e formulava os pressupostos de sua teoria, iniciando os embates que levariam à crise de identidade da Educação Física na oitava década do século XX.

Este episódio evidencia um bom exemplo. O treinador entendeu a fala do filósofo a partir dos seus filtros paradigmáticos, logo seu ouvido selecionou apenas os dados que lhe interessava e da forma que lhe foi mais conveniente. E o modo mais conveniente é aquele que reforça as nossas verdades e não o que provoca inquietações, desconfortos...

No alfarrábio da bola a teoria na prática sempre é outra, para quem não tiver teoria; para quem não souber explicar com rigorosidade as suas ações práticas; para quem se fundamenta na observação empírica; para quem vive de reproduzir coisas das quais um dia foi vítima; para quem acha que no futebol (e no mundo) as coisas foram sempre assim e assim devem continuar a ser; para quem não quer pensar apenas fazer; para quem não é interessante pensar diferente; para quem não aprendeu a refletir; para quem não aprendeu a questionar; para quem não aprendeu a encontrar problemas e formular hipóteses...

Mas as mudanças são inevitáveis. Apesar de ser relativo, o tempo não pára. Portanto, o domínio científico é inevitável, principalmente quando algumas poucas pessoas do mundo futebol, atualmente, já conseguem se valer da ciência, colhendo expressivos resultados (não apenas dentro do campo de jogo), os quais lhes garantem um desenvolvimento sustentável. Assim, para estes “na prática a teoria não é outra”.


http://lcfutebolfeminino.blogspot.com
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Benê Lima