Complexo de vira-latas
Antonio Afif
O inesquecível Nelson Rodrigues dizia (não exatamente com estas palavras) nos anos dourados que o Brasil havia conseguido superar o complexo de vira-latas com a conquista da Copa do Mundo de 1958, na Suécia. Pode até ser que isto de fato tenha ocorrido, mas creio que o efeito de tal "vacina" já deve estar com prazo de validade mais do que vencido.
Antonio Afif
O inesquecível Nelson Rodrigues dizia (não exatamente com estas palavras) nos anos dourados que o Brasil havia conseguido superar o complexo de vira-latas com a conquista da Copa do Mundo de 1958, na Suécia. Pode até ser que isto de fato tenha ocorrido, mas creio que o efeito de tal "vacina" já deve estar com prazo de validade mais do que vencido.
Os dirigentes esportivos brasileiros pensam pequeno, têm medo de propor algo mais ousado, que fuja do arroz com feijão. Não sei como seria a construção ou reforma dos estádios do país visando a Copa de 2014, pois a crise financeira global certamente deve ter atingido muitas empresas que poderiam investir no Brasil. Pelo jeito os recursos terão de sair dos cofres públicos.
Você pode me perguntar o que é "pensar pequeno". Pois bem, quando um grupo de pessoas não consegue enxergar nada além do que dois palmos na frente do próprio nariz, isto é pequenez. Tínhamos tudo para fortalecermos os clubes do país, mas alguns cartolas mais preocupados com o próprio bolso (ou algum outro tipo de ambição, para não generalizar) barraram o ingresso de investidores através de uma lei absurda (não, não é a Lei Pelé).
Na área de eventos corporativos o país está muito bem servido, principalmente no eixo Rio-São Paulo. O Banco de Eventos, por exemplo, põe em prática projetos magníficos, que ajudam a alavancar as vendas de produtos de muitas empresas. É só comparecer ao Super Casas Bahia (me desculpem o merchandising) que acontece todos os finais de ano em São Paulo. Numa das edições anteriores assisti a um show da Disney maravilhoso.
Mas, e o futebol? Por que não possui o glamour desses eventos, ou de uma corrida de Fórmula 1 ou mesmo do Carnaval carioca, que é algo mais popular? Por que temos que ter a sensação de algo "dark", cheirando a mofo quando nos dispomos a assistir a um jogo nos estádios? Cambistas, flanelinhas, brigas, sujeira, banheiros inadequados e, o que é mais triste, com nossos melhores craques no exterior.
Será que é tão difícil os clubes enxergarem o "naming rights" como algo que pode representar uma fonte significativa de receita? Creio que as principais equipes do país poderiam enviar representantes para ver como os americanos e europeus fizeram o esporte ser algo lucrativo. Sei que muitos clubes europeus estão endividados porque sonharam alto demais, mas peguemos apenas os pontos positivos e deixemos de lado o que não é bom para nós.
Há pouco mais de dez anos, quando trabalhava num grande clube, o principal atacante da equipe foi negociado. Sugeri que o argentino Batistuta fosse contratado. Fui taxado como louco e optaram por um jogador que atuava no futebol brasileiro. Depois de um tempo (como o tal atacante não deu o resultado esperado) contrataram outro e, depois, mais outro. Ou seja, foram trazidos trás atletas para o time num curto espaço de tempo e nenhum deles aprovou.
É isto que eu chamo de complexo de vira-latas dos tempos atuais. Se somarmos o que foi gasto para a agremiação trazer os três jogadores, a diferença para o que poderia custar a contratação de Batistuta não seria muito grande. Isso, sem falar no retorno que o craque daria, pois a torcida teria presença maior nos jogos, o licenciamento de produtos e a venda de camisas do atacante poderiam cobrir o investimento realizado. De quebra, o clube ainda teria o "retorno" esportivo, pois se tratava de um dos maiores atacantes que surgiram nas últimas décadas.
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Benê Lima