Faz algumas semanas assistimos a um debate intenso a respeito da melhoria do calendário do futebol brasileiro. Especialistas, dirigentes, CBF e o Bom Senso discutem ideias e apresentam propostas… Mas, por que estamos discutindo o calendário?
Marcos Caringi
Um dos principais argumentos da melhoria do calendário do futebol brasileiro é a média de público dos campeonatos disputados no Brasil. O Carioca obteve neste ano uma média de 2.828 pagantes, o Paulista contou com 5.675 pagantes e o Campeonato Brasileiro, até o momento, obteve 13.099 pagantes por jogo.
Bom, não preciso apresentar a média de público dos principais campeonatos do mundo, só a MLS (liga norte-americana), com 18.807 pessoas por jogo, já demonstra que algo está muito errado com o país do futebol.
O autor do livro ”Futebol Brasileiro: um projeto de calendário” Luis Filipe Chateubriand indica que um novo calendário deve considerar as seguintes premissas:
- Adequação ao calendário europeu;
- Jogos da principal competição, o Campeonato Brasileiro, somente aos fins de semanas;
- Clubes não devem jogar quando as seleções jogam;
- O número de datas reservadas para competições estaduais ou regionais deve ser reduzido;
- Clubes não devem jogar excessivamente, nem ficar extensas épocas sem atuar.
É fácil perceber a discrepância entre o calendário do futebol brasileiro com o resto do mundo, até mesmo a Argentina adequou seu modelo. E isso não cria somente uma falta de sinergia entre o futebol mundial, mas problemas comerciais.
Bom, a adequação do calendário na Europa não evita questões como a paralisação do Campeonato Brasileiro após 10 rodadas para disputa da Copa ou a continuidade deste durante as datas FIFA (como na Copa América de 2011), mas também corrige problemas relacionados a janela de transferência, já que clubes brasileiros costumam perder jogadores no meio da disputa do campeonato, atrapalhando qualquer planejamento.
Essa adequação também cria oportunidades de novos negócios e internacionalização da marca. Como? As respostas mais básicas são as pré-temporadas e excursões.
Equipes europeias realizam excursões para outros países durante as férias. Por exemplo, na preparação para a temporada 2013/2014 o Real Madrid enfrentou o Lyon na França, o PSG na Suécia e participou de um torneio nos EUA com LA Galaxy, Chelsea, Internazionalle. Já o Barcelona há cinco anos realiza excursões pela Ásia.
Mesmos os menores clubes conseguem executar este tipo de estratégia. Em 2011 Lille e Marseille decidiram a Super Copa da França no Marrocos para um público de 33.900 pessoas.
O primeiro fator que justificam essas excursões é claro e simples: as receitas geradas com bilheteria, premiações, transmissões e venda de produtos durante o evento. Em 2011, somente com a participação, o Internacional faturou 500 mil euros na Copa Suruga.
Porém, tal ponto possui um mote muito maior que se dá pela internacionalização da marca. A realização de pré-temporadas em outros países possibilita uma aproximação e relacionamento do time com os torcedores locais o que irá gerar oportunidades mais rentáveis futuramente. Como exemplo, a página do Facebook do Barcelona tem seu maior número de seguidores na Indonésia (4,73 milhões de fãs), além de possuir seu site oficial em chinês onde busca atingir 800 milhões de pessoas.
Existem críticas sobre um calendário parelho por não considerar questões climáticas do hemisfério sul. Pois bem, os estaduais abrangem jogos durante janeiro, período em que cidade como Rio de Janeiro chega a 45⁰. E sobre as datas comemorativas, ligas como a inglesa costumam registrar grandes médias de público no Boxing Day (dia após o Natal).
Claro, a equivalência do calendário do futebol brasileiro ao europeu não é a única solução, e pode nem ser uma saída já que Michel Platini admitiu recentemente que a UEFA pode pensar em um modelo baseado no ano fiscal janeiro-dezembro.
O principal problema são os jogos excessivos ou a falta deles. Ou seja, como encaixar os Estaduais e o que fazer com os clubes não disputam nada além dele?
O São Paulo em 2013 disputou 79 partidas, e poderia ser mais caso se classificasse para as finais da Libertadores. Enquanto isso, clubes como o Mixto-MT que ficará sem jogar até o fim do ano após sair da Copa do Brasil. Caso este de 82% dos clubes que atuam apenas durante 4 meses acarretando em 12 mil atletas desempregados durante a maior parte do ano.
Esse cenário motivou a criação do Bom Senso F.C, que além de tudo, reivindica a melhoria do calendário do futebol brasileiro. E baseado na proposta de grandes estudiosos do mercado como Amir Somoggi e Fernando Ferreira, apresentaram recentemente uma proposta para tal melhoria, com a inclusão da Serie E e a existência de Copas Estaduais.
A Série E contaria com 452 clubes, divididos em 36 grupos, ocorreria de fevereiro a dezembro, com uma média de 30 jogos por clube. Seriam promovidas 36 equipes para a Série D que, por sua vez, contaria com 144 clubes divididos em 12 grupos. Além disso, os estaduais seriam disputados em forma de Copas em oito datas.
Pode ser que esta não seja a melhor proposta de um calendário para o futebol brasileiro. Porém, o fato é que estamos nos tornando menos passivos, discursando um pouco menos e tentando tornar realidade algumas ideias que já deveriam ter sido realizadas há muito tempo. Com a melhoria necessária do calendário, pode-se pensar em outros problemas associados à volta do torcedor ao estádio e potencialização comercial, e técnico, do Matchday.
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De: Luis Filipe Chateaubriand
ResponderExcluirPara: Benê Lima
Bene Lima, boa noite!
Acabei de ver, via twitter, seu ótimo comentário sobre o calendário.
Porém, deixe lhe colocar a par do seguinte: meus amigos Amir Sommoggi e Fernando Ferreira não participaram da elaboração do calendário do Bom Senso. O grupo Futebol do Futuro, do qual eles são líderes (e eu também participo) é parceiro do Bom Senso, mas não nas questões do calendário.
O calendário do Bom Senso foi uma construção coletiva, e três pessoas participaram de sua elaboração de forma mais direta: o Paulo André, eu e o Eduardo Tega, da Universidade do Futebol.
Grande Abraço,
Luis