Sinopse

"Neste espaço encontra-se reunida uma coletânea dos melhores textos, imagens e gráficos sobre o futebol, criteriosamente selecionados e com o objetivo de contribuir para a informação, pesquisa, conhecimento e divulgação deste esporte, considerando seu aspecto multidisciplinar. A escolha do conteúdo, bem como o aspecto de intertextualidade e/ou dialogismo - em suas diversas abordagens - que possa ser observado, são de responsabilidade do comentarista e analista esportivo Benê Lima."

quarta-feira, maio 14, 2014

A ciência por trás da bola oficial da Copa

Brazuca (Cortesia: Adidas)

Para especialistas, novidades tecnológicas fazem da Brazuca uma bola melhor que a Jabulani

Alejandra Martins / BBC Mundo

Brazuca, a bola oficial da Copa 2014, é a 12º bola criada pela Adidas para Mundiais. A empresa foi duramente criticada pela Jabulani, a bola oficial da África do Sul, em 2010.

"Sua trajetória é imprevisível", disse na época o goleiro italiano Gigi Buffon. "É sobrenatural", afirmou o atacante Luis Fabiano em 2010.

A Adidas afirma, no entanto, que neste ano será diferente - e que a Brazuca proporciona uma "maior estabilidade no campo".

A BBC Mundo conversou com especialistas em aerodinâmica para saber como se comportará a bola oficial desta Copa.

1. Painéis em forma de hélice

A nova bola conta com seis painéis, dois a menos do que os oito da Jabulani e os 14 da Teamgeist (a bola da Copa da Alemanha, em 2006) ou os 32 das bolas tradicionais.

Os painéis são termoselados, ou seja, são unidos com calor e não costurados à máquina, como na Jabulani. E a Brazuca incorpora, segundo a Adidas, "uma inovadora estrutura simétrica de painéis idênticos em forma de hélice" e uma nova superfície, com pequenas protuberâncias para criar mais aderência.

A forma dos painéis e a maneira como são unidos são elementos cruciais, pois mudam a forma em que a bola agita o ar ao se deslocar.

2. Diferenças nas emendas

Simon Choppin, pesquisador do Centro de Engenharia de Esportes da Universidade Sheffield Hallam, na Inglaterra, analisou as uniões dos gomos da bola.

"Descobrimos que a profundidade das emendas da Jabulani é de cerca de 0,48mm, enquanto as da Brazuca têm 1,56mm - mais de três vezes."

"Por outro lado, medi a longitude das uniões de cada bola as delineando com uma corda. A longitude de total é cerca de 203 cm na Jabulani e 327 na Brazuca."

Choppin explicou que quando uma bola se move no ar, suas emendas "agitam o ar, assim como a felpa de uma bola de tênis."

Apesar do menor número de painéis, as emendas mais profundas e longas aumentam uma das características cruciais: a rugosidade.

3. Rugosidade

"O mais importante em uma bola de futebol é seu grau de rugosidade, proque isso afeta a velocidade na qual se produz o máximo do chamadoknuckling effect", disse à BBC Mundo Rabi Mehta, especialista em aerodinâmica do centro de pesquisa Ames, da Nasa.

Esse efeito é produzido quando a bola, se movendo sem ou com pouca rotação, se torna imprevisível e muda de direção ao alcançar certa velocidade.

 

Brazucas (Getty)

Maior rugosidade é uma das vantagens da bola da Copa 2014

 

"Quanto mais lisa a bola, maior a velocidade na qual ela produz esse efeito", disse o engenheiro da Nasa. Para ele, o problema da Jabulani era justamente sua menor rugosidade.

"Na minha opinião, o que aconteceu é que ao fazer uma bola mais lisa em 2010, a velocidade crítica para esse efeito aumento e coincidiu com a velocidade típica dos chutes livres, cerca de 80 quilômetros por hora."

"A velocidade crítica para esse efeito no caso da Brazuca é de cerca de 48 quilômetros por hora. Acredito, então, que ela se comportará mais como a bola tradicional de 32 painéis, por isso deve haver menos queixas do que as que vieram à tona no Mundial anterior."

Para Choppin, a Brazuca vai ser mais estável nessa velocidade do que as bolas anteriores.

4. Vai mais longe

Uma bola rugosa também vai mais longe, e isso pode ser visto nas bolas de golfe.

"Todo mundo sabe que as bolinhas de golfe têm umas protuberâncias. Isso surgiu quando os 'caddies' praticavam golf com bolas velhas e notaram que elas iam mais longe do que as novas", explicou o engenheiro Raúl Bertero, professor titular de Mecânica da Faculdade de Engenharia da Universidade de Buenos Aires e diretor do Laboratório de Dinâmica de Estruturas da mesma universidade.

5. O efeito Magnus

Brazuca (Getty)

Como seus gomos são cortados e colados entre si interfere na dinâmica da bola

 

"Quando a bola não gira ou gira muito pouco, temos o chamado efeito knuckling. Quando gira, temos o efeito Magnus, que faz com que a bola tenha o efeito de uma curva", explica Rabi Mehta, da Nasa.

Raúl Bertero explicou à BBC Mundo que esse efeito "é conseguido ao se fazer girar a bola sobre seu eixo. Ao fazer isso e ao avançar na corrente de ar, cada lado da bola passa por uma velocidade do ar distinta."

"Como a diferença de velocidade implica em uma diferença de pressão, a bola recebe uma força lateral – e isso se chama efeito Magnus."

6. A altitude

Segudo Bertero, da Universidade de Buenos Aires, o efeito Magnus varia com a altitude porque a densidade do ar é alterada.

Em 2013, ele se propôs a investigar se era factível o que havia dito o então técnico da Argentina, Daniel Passarella, quando sua seleção perdeu por 2 x 0 em uma partida eliminatória em 1996 em Quito, a mais de 2.700 metros de altitude: "Aqui, a bola não faz curvas."

"Me propus a fazer um modelo do comportamento de uma bola em um planície e no estádio de Siles Suazo, na Bolívia, que está a 3.700 metros de altitude", contou o engenheiro.

Ele pegou como exemplo o famoso chute de Roberto Carlos, que colocou a bola no ângulo com uma curva espetacular, que deixou atônito o goleiro da França, Fabian Barthez, em um amistoso em 1997.

"Se essa mesma bola entra no ângulo na planície, vimos que em La Paz ela chega 4 metros fora do arco", explica.

"Assim, Passarella, que foi muito criticado e ridicularizado, tinha razão. Na altitude, a bola faz menos curvas, mas não da mesma maneira."

7. Poliuretano

Os painéis da Brazuca são de poliuretano.

"Ao se passar das bolas de coro para esses materiais artificiais, como o poliuretano, as bolas se tornaram totalmente impermeáveis, de maneira que quando chove, a massa da bola não muda", explica Mehta, da Nasa.

No entanto, a água pode afetar outro aspecto: "Quando (o argentino) Riquelme vai bater um escanteio, ele seca a bola com a camiseta. Isso não é uma mania dele", disse o engenheiro Bertero. "Faz isso porque sabe, instintivamente, que a bola tem um comportamento diferente se está molhada. A água cobre os gomos e deixa a bola lisa – então o efeito que se quer dar com um determinado chute pode não funcionar por não haver essa rugosidade necessária."

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Benê Lima