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"Neste espaço encontra-se reunida uma coletânea dos melhores textos, imagens e gráficos sobre o futebol, criteriosamente selecionados e com o objetivo de contribuir para a informação, pesquisa, conhecimento e divulgação deste esporte, considerando seu aspecto multidisciplinar. A escolha do conteúdo, bem como o aspecto de intertextualidade e/ou dialogismo - em suas diversas abordagens - que possa ser observado, são de responsabilidade do comentarista e analista esportivo Benê Lima."

domingo, agosto 04, 2013

Os clubes, suas dívidas impagáveis, a Caixa e a Copa do Mundo

ValorInveste / André Rocha

É tentador analisar os clubes como se estes fossem empresas abertas. Adotando-se a metodologia do fluxo de caixa descontado, qual seria o valor de mercado dos principais clubes brasileiros? O endividamento dos clubes é sustentável? O patrocínio da Caixa Econômica Federal a alguns clubes livrou o futebol brasileiro de um vexame às portas da Copa do Mundo no país.

O fluxo de caixa descontado é a métrica mais utilizada pela análise fundamentalista para se avaliar uma empresa. Os fluxos de caixa futuros da empresa são trazidos a valor presente a uma determinada taxa de desconto. Do valor presente do fluxo de caixa daí obtido abate-se a dívida líquida atual da empresa (dívida bruta menos caixa), chegando-se ao valor de mercado das empresas.

Tomando por base o balanço de 2011, os 12 clubes de maior torcida apresentaram dívidas elevadas e apenas quatro apresentaram superávit no ano: Santos, Corinthians, São Paulo e Vasco. O superávit ou déficit nas demonstrações financeiras dos clubes correspondem ao lucro ou prejuízo líquido das empresas de capital aberto. Embora o superávit ou déficit não representem a geração de caixa, com estes resultados, a maior parte dos clubes provavelmente apresentou fluxo de caixa operacional negativo ou, na melhor das hipóteses, ligeiramente positivo em 2011.

Assim caso o resultado de 2011 se repita nos demais anos, o valor de mercado dos times tende a ser negativo. Alguns podem alegar que os clubes possuem ativos como estádios e direitos econômicos de jogadores. Contudo, os rendimentos derivados dos estádios já estão computados na demonstração de resultados e os direitos sobre os jogadores são uma mera expectativa de direito. Muitos destes jogadores não apresentarão desempenho esportivo condizente com o valor contabilizado o que deve gerar provisões e os ganhos obtidos com aqueles que tenham sucesso funcionarão como um alívio momentâneo de caixa, porém insuficientes para suportar o pesado endividamento e os custos e despesas  dos clubes.

Analistas utilizam o indicador de dívida líquida sobre o Ebitda (geração simplificada de caixa) para calcular o grau de endividamento. Caso o indicador supere três vezes, o sinal de alerta deve ser acionado. Os clubes apresentam baixo Ebitda, logo o indicador perde sua função. Assim, utiliza-se a receita bruta. Entre os doze maiores clubes brasileiros, seis possuem indicador de dívida sobre a receita ao redor de duas vezes o que mostra a grave situação enfrentada pelos clubes.

 

O endividamento de alguns clubes se elevou substancialmente em decorrência de reavaliações realizadas quando outra corrente política assumiu o poder como aconteceu com o Vasco e o Flamengo. Assim, mesmo clubes com dívidas menores podem ver seu endividamento inflado repentinamente caso a oposição assuma os destinos do clube.

É comum escutarmos que os clubes não conseguem gerar receita em decorrência de sua incompetência. Embora muito possa ser melhorado, não tem sido fácil para os clubes obterem patrocínios. O Corinthians, poderoso pelo tamanho de sua torcida concentrada no Estado mais rico da Federação, passou alguns meses de 2012 sem ostentar patrocínio apesar dos títulos recentes. A situação só foi aliviada, no fim do ano, com o anúncio do patrocínio da Caixa Econômica Federal.

Aliás, o banco público tem sido a salvação de muitos clubes. Segundo o site Máquina do Esporte, a Caixa poderá investir R$ 111 milhões anualmente em 11 clubes, dentre eles quatro gigantes: o próprio Corinthians, o Flamengo, o Vasco e o Cruzeiro (ainda não confirmado).

Esses recursos vieram em boa hora, pois parte das dívidas fiscais e trabalhistas já se encontram em fase de execução, gerando penhoras em alguns clubes. Assim, o dinheiro da Caixa serve para postergar o problema, mas não deve ser suficiente para cobrir os gastos correntes e as amortizações e os encargos das dívidas fiscais e trabalhistas pretéritas.

A diretoria da Caixa pode não ter tido esta intenção, mas o banco público impediu que grandes agremiações apresentassem um quadro de penúria financeira em pleno ano de Copa do Mundo no país. O vexame foi contornado, mas até quando?

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Benê Lima