As organizações ofensivas e defensivas das bolas paradas: escanteios, faltas e laterais
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Um dos pontos do tatiquês que eu ainda não havia abordado com maior profundidade é o das bolas paradas. Eu já disse muitas vezes sobre as quatro fases do jogo com a bola rolando, mas quase nada da quinta fase de jogo: a bola parada. Você sabia que ela é considerada uma quinta fase? Você sabia que ela é diferente do que um cruzamento?
Bom, irei começar por uma premissa básica: qualquer tipo de bola parada apresenta características completamente diferentes do que um cruzamento! Apesar das duas terem em comum a bola no alto, nas bolas paradas, os times escolhem quem, onde e como irá atacar e defender; enquanto que em um cruzamento, há movimentações de somente dos jogadores de frente e dos de trás, no caso da equipe que defende! Note que não tem como, em situações normais, um zagueiro de um time avançar só para cabecear uma bola cruzada enquanto que no escanteio, tem!
Para você saber mais como é um cruzamento, veja neste texto a tática por trás de um cruzamento e note como é bem diferente do que este texto o qual você está lendo:
Agora, retomando ao assunto principal deste texto. A bola parada é, atualmente, considerada a quinta fase de um jogo de futebol. As outras quatro, você já cansou de ver nos meus textos, são as seguintes: ação ofensiva, transição defensiva, ação defensiva e transição ofensiva. Como elas forma um ciclo e são todas com a bola rolando, a fase da bola parada é tratada “à parte”.
Por ser uma fase à parte, ela apresenta características bem peculiares em cada situação, já que em um escanteio, por exemplo, o time que defende se posiciona de uma maneira diferente do que um em lateral. Desse modo, a fase “bola parada” pode ser dividida em três sub-fases. São elas:
No caso dos escanteios e das faltas laterais, há uma definição de cobrança: “pra fora” e “pra dentro”. Elas se diferem de acordo com o lado do campo e o pé do cobrador que irá bater na bola. Através desses lados e de acordo com o pé é que a bola faz uma curva “pra fora” ou “pra dentro da meta adversária. E, então, por isso dessas definições.
A cobrança “pra dentro” é quando o cobrador bate na bola com o tal “pé invertido”, por exemplo, bola na direita do ataque sendo batida com o pé esquerdo; enquanto que a cobrança “pra fora” é quando o cobrado bate na bola com o tal “pé certo”, por exemplo, bola na direita do ataque sendo cobrada com o pé direito.
Neste vídeo abaixo, há claramente uma cobrança “pra fora” quando Neymar cobra o escanteio na direita com o pé direito, e uma cobrança “pra dentro” quando Neymar cobra o escanteio na direita com o pé esquerdo. Pelo vídeo, veja que na primeira cobrança, a bola vai fazendo uma curva que vai saindo da meta adversária (por isso que é a batida “pra fora”), enquanto que na segunda, a bola vai fazendo uma curva na direção na meta adversária e, por isso, que é “pra dentro”.
Assim como tudo no futebol, as cobranças “pra fora” e “pra dentro” apresentam vantagens e desvantagens. De acordo com o modo como a bola gira na cobrança “pra fora”, por exemplo, há maior tendência de um jogador que está atacando acertar a bola em cheio, mas há possibilidade de a bola ir muito “pra fora” e nem sequer ameaçar a meta adversária; já na cobrança “pra dentro”, por exemplo, quase qualquer desviada de um jogador que ataca é ameaça de gol, mas a bola vai praticamente na direção do defensor. Vantagens e desvantagens.
Agora saindo do amplo e indo em cada situação em específica, para facilitar a tradução de cada tatiquês em cada tipo de bola parada, vou começar pela 1ª sub-fase do quadro acima, a do escanteio, e vou sempre discorrendo primeiro pela parte ofensiva e depois da defensiva.
Escanteio ofensivo
Normalmente, independentemente do tipo da cobrança, coloca-se um jogador que está atacando perto da região do goleiro para que, ao menos, o goleiro tenha um pouco mais de dificuldade de sair para pegar a bola e, também, para pegar um possível rebote que o goleiro der. Já nas cobranças “pra dentro”, geralmente, coloca-se um jogador perto da região da 1ª trave para desviar a bola, já que a bola possivelmente irá cair ali primeiro.
No caso do escanteio, como dá para escolher quais jogadores que avançam até a área adversária, normalmente o jogador junto com o técnico escolhem se cobra o escanteio mirando em um determinado jogador e/ou em uma região da área. Em ambas as situações, é importante ressaltar que na corrida de um atacante que irá cabecear até a bola, mais conhecido como embalo, é muito importante para se ganhar ainda mais velocidade e altura no momento do salto. Desse modo, dificultando ainda mais os defensores adversárias em ganhar a bola no alto. Juntando a escolha em um determinado jogador e/ou em uma região com o embalo de quem irá cabecear e uma boa cobrança, o escanteio vira uma boa jogada para se alcançar o gol.
Escanteio defensivo
No fim da passagem de Roger Machado pelo Grêmio, levantou-se e falou-se muito das diferentes formas de se marcar em um escanteio. Naquela época, o Tricolor Gaúcho de Roger marcava por zona e tomava muitos gols de escanteio e logo após a chegada de Renato Portaluppi no clube, a famosa frase desse técnico foi emblemática, mas caracterizou de vez a forma como o time iria marcar nos escanteios: “O meu time marca homem a homem, porque assim dá para saber quem culpar depois”. Mas seria a marcação zonal pior do que a individual? Assim como já foi falado aqui, no futebol, tudo tem vantagens e desvantagens.
No caso da marcação zonal, prioriza-se as regiões que normalmente saem gol de maneira direta após uma cobrança de escanteio. Detectando essas regiões, coloca-se defensores em todas elas e, assim, diminui-se as melhores chances do adversário fazer gol. É bem lógica a situação.
E atualmente, na marcação zonal em escanteios, foi-se detectado a figura do “escudeiro”. Esse jogador entra com o mesmo propósito do posicionamento dos jogadores que estão marcando por zona: diminuir as chances de o adversário em fazer um gol no escanteio. Para tal, o tal do escudeiro persegue o adversário que melhor cabeceia (lembra que as cobranças de escanteio podem ter um jogador alvo?) e o atrapalha no embalo para cabecear a bola (lembra do embalo anteriormente citado?). Com essa maior dificuldade gerada pelo “escudeiro” e pelo posicionamento de vários jogadores onde geralmente a bola cai, a marcação zonal tem as suas vantagens.
Já na marcação individual, é mais típica em peladas: cada um marca o seu e persegue até a bola sair. Nesse tipo, normalmente, como o embate de 1x1 é muito escancarado, procura-se colocar o defensor mais alto com o atacante mais alto, o defensor mais baixo com o atacante mais baixo e assim seguindo. Como se coloca os maiores com os maiores, as chances de ganhar no alto praticamente se igualam.
No tópico acima, você viu as vantagens das duas maneiras de se marcar em escanteios defensivos. Mas e as desvantagens? Na marcação zonal, por exemplo, podem cobrar o escanteio em cima do jogador mais baixo que marca de maneira zonal; já na individual, podem haver corta-luz, assim como no basquete, e assim retirando da jogada o adversário que marca determinado jogador (o que, aliás, tem acontecido com cada vez mais frequência hein). No entanto, nos escanteios, vale muito a atitude individual do defensor em atacar realmente a bola. Nos escanteios, as maneiras de marcar diminuem as chances de fazer gol, mas a atitude individual conta muito.
Falta ofensiva
Como aqui o que se busca é discorrer a tática nas faltas, as faltas de cobranças diretas (normalmente as frontais) não serão consideradas. Nesse tipo de falta, como a cobrança é direta, se vê pouca tática nela, enquanto que a falta lateral, tem muita.
Nas faltas ofensivas, assim como no escanteio, escolhe-se os jogadores que irão subir para tentar fazer o gol. Diante disso, normalmente se cobra a falta na região longe do goleiro, nas costas dos defensores e no ponto futuro para que os jogadores que avançaram possam cabecear de frente. Como a bola cai longe do goleiro, fica mais difícil de pegar a bola; como a bola cai nas costas dos defensores, diminui-se as chances deles cabecearem; e no ponto futuro, os atacantes chegam de frente através da corrida e do embalo para cabecear a bola de maneira mais forte.
Falta defensiva
Assim como nos escanteios defensivos, a falta defensiva também pode ser marcada através de marcação zonal e de marcação individual e, também, apresentam praticamente as mesmas vantagens e desvantagens. Atualmente, vale notar de que a maioria dos times marcam através de forma zonal realizando linha de impedimento. Através desta linha de impedimento, os defensores diminuem o tamanho do campo para que os atacantes possam percorrer e, ainda, passam a ter praticamente a mesma velocidade no embalo antes de cabecear a bola. Devido ao movimento da cabeça dos defensores após o embalo anterior, muitas faltas laterais têm sido afastadas para o lado e não tanto para frente.
Lateral ofensivo
Um momento do jogo o qual anteriormente que pouco se dava importância passou a ganhar espaço após a campanha do título brasileiro do Palmeiras em 2016. Naquele time, Moisés pegava se distanciava bem da linha lateral e cobrava os seus laterais dentro da área adversária. O que antes era mais uma continuidade da jogada, agora passou a ser uma ameaça ao gol. Tanto no Palmeiras de Cuca e quanto em outras equipes que lançam de maneira longa os seus laterais, normalmente se há um jogador alvo para onde a bola vai primeiramente. No caso do Verdão Paulista é o zagueiro daquele lado. Veja em um lateral arremessado pela direita e outro pela esquerda que altera o jogador, mas é sempre um zagueiro:
Diferentemente do Palmeiras de Cuca, outros times aderiram a cobrança de lateral longa, mas não avançavam o zagueiro do lado. Normalmente, os times têm um jogador alvo (geralmente é o centroavante da equipe que é um dos mais altos do setor ofensivo) e mira a bola nele. A ideia do lateral longo é a mesma de um tiro de meta longo: um jogador alvo para que este possa ganhar no alto (desviando, tirando uma casquinha ou dominando a bola) e, assim, avançando campo.
Lateral defensivo
Ao mesmo tempo em que o lateral longo passou a ser utilizado com mais frequência como forma de ataque, o posicionamento de um lateral defensivamente também passou a ser desenvolvido. Como o lateral longo segue as mesmas ideias de um tiro de meta longo, o posicionamento defensivo de um lateral longo também é semelhante para se defender de um tiro-de-meta longo: flutua-se as linhas para o lado da bola e concentra-se maior número de jogador possível em torno do jogador alvo adversário para pegar a segunda bola. Pelas imagens acima do tópico “lateral ofensivo”, nota-se as situações táticas defensivas, já que as linhas estão flutuadas para o lado da bola e há maior número de defensores perto do jogador alvo dos laterais.
Para esse texto, a bola parada “tiro de meta” não entrou em questão, pois ela já foi abordada neste texto e ela varia muito de acordo com o modelo de jogo da equipe. Note que as faltas, os escanteios e os laterais nem sempre condizem com o que o modelo de jogo do time está buscando, enquanto que no tiro de meta sim: um time que busca o jogo apoiado quase sempre sai curto, enquanto que um time não gosta de ter a bola e busca ataques muito velozes, muitas vezes, procura um tiro de meta longo.
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Benê Lima