Em entrevista ao 'Estado' Baixinho fala sobre livro dos bastidores da CPI do Futebol
Entrevista com Romário
Raphael Ramos, O Estado de S.Paulo
No caso de Um olho na bola, outro no cartola – o crime organizado no futebol brasileiro, novo livro de Romário publicado pela Editora Planeta, revelar a última frase da obra não é necessariamente sinônimo de spoiler. “Sou da paz, mas na guerra funciono melhor”, escreve o Baixinho no capítulo final.
A guerra do senador atualmente é com a CBF. Em 239 páginas, o ex-jogador traz bastidores da CPI do Futebol, que tramitou no Senado entre 2015 e 2016, e parte para o ataque contra a CBF. Mais do que revelações da sua atuação como presidente da CPI, Romário publica documentos obtidos durante os trabalhos da comissão.
A CBF chegou a tentar impedir a publicação do livro na Justiça sob a justificativa de que determinados documentos enviados à CPI são sigilosos, mas a Justiça de São Paulo negou o pedido. Assim, o lançamento está confirmado para este sábado, na Bienal do Livro do Rio. Melhor para Romário, que ainda aproveitou para tripudiar em cima da CBF.
O livro tem como base relatório alternativo da CPI de autoria de Romário e do senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP). O texto, inclusive, fundamenta inquérito que está no Supremo Tribunal Federal (STF) contra o presidente da CBF, Marco Polo Del Nero, e seus antecessores José Maria Marin e Ricardo Teixeira, além do deputado federal Marcus Vicente (PP-ES), vice-presidente da CBF, o ex-presidente da Federação Alagoana Gustavo Dantas Feijó, o ex-diretor financeiro da CBF Antônio Osório Lopes da Costa, o advogado Carlos Eugênio Lopes e os empresários José Hawilla e Kleber Leite.
Qual é a sua opinião sobre a tentativa da CBF de acionar a Justiça para tentar impedir a publicação do livro?
Se tratando de CBF, não esperava nada diferente. Eles sabem que o povo, em geral, não tem noção das falcatruas, das sacanagens e da corrupção que promovem dentro dessa entidade. Então, é natural tentarem embargar o livro, mas acabou se transformando em propaganda, então até agradeço.
Como você vê a decisão da Justiça de negar o pedido da CBF e liberar a publicação do livro?
Não esperava nada de diferente por parte da Justiça. Tudo que está no livro foi coletada através de uma investigação séria, de profissionais competentes. Tudo que está no livro tem documento. São provas cabais. A Justiça tarda em algumas coisas, mas não falha.
Por qual razão você diz que o livro não trata apenas de memórias da CPI, mas é um documento sobre a gestão do futebol?
O mais importante do livro é a documentação que essa investigação conseguiu em relação a toda a corrupção e as sacanagens que existem na CBF. A gente prova que pessoas enriqueceram ilicitamente com dinheiro que poderia ir para os cofres da CBF, mas foi para contas de laranjas no exterior. Se fosse apenas lembranças da CPI, o livro não teria a importância e a relevância que tem.
O fato de o relatório paralelo da CPI ter fundamentado um inquérito que está no STF mostra que a comissão não acabou em pizza?
As pessoas não têm uma verdadeira noção do significado final da CPI. O relatório paralelo foi parar no STF e fez com que essas pessoas fossem investigadas. Enviamos o texto para Polícia Federal, PGR (Procuradoria Geral da República) e Ministério Público. Tenho certeza que, a partir desse relatório, será feita uma investigação profunda para a gente, definitivamente, limpar essa entidade de pessoas que fazem mal para o nosso futebol.
O bom momento da seleção brasileira sob comando do Tite, líder das Eliminatórias, não pode fazer com que a torcida dê menos importância para a gestão do futebol?
Nosso país, infelizmente, tem disso: quando as coisas vão bem de um lado encobrem o outro. Mas, não é utopia, é realidade. Acredito que esse livro possa despertar algumas coisas diferentes no povo brasileiro em relação à CBF. Ainda bem que o futebol tem uma outra cara e a seleção está indo bem melhor agora do que há um atrás. Tenho esperança e fé que isso não vai atrapalhar as investigações.
É possível mudar o futebol através do Congresso Nacional?
A luta não é diária, é horária. Não é mole. Existe uma bancada que muitas chamam de Bancada da Bola, mas eu estou tentando transferir esse nome para Bancada da CBF ou Bancada do 7 a 1 porque a bola não merece dar nome a determinados parlamentares. O lobby é muito grande, eles têm força no Congresso e sei que para derrubar não é fácil. Poucos parlamentares brigam contra esse monopólio da CBF e sei que é difícil mudar.
Por que, além de denúncias contra a CBF, você incluiu no livro propostas de mudanças em áreas como arbitragem, eleição na CBF e STJD?
Tudo isso está no relatório paralelo da CPI, que é propositivo também. Não é só investigativo. Eu vou ser bem sincero, o relatório oficial da CPI, do senador Romero Jucá (PMDB-RR), é bem melhor do que eu esperava. Mas é um relatório só propositivo. A parte investigativa, que ele teria obrigação de incluir, não foi colocada. Mas, enfim, tenho certeza que, se as nossas propostas foram implantadas na CBF, poderíamos ter uma administração melhor.
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Benê Lima