Íntegra da carta-renúncia do ex-presidente do Ceará, Eugênio Rabelo
"Estou tomando uma decisão da maior importância e gravidade, que não estava nos meus planos até bem pouco tempo. Sou, desde a adolescência, não apenas um torcedor, mas um apaixonado pelo Ceará Sporting Clube. Sou de origem humilde, ralei a vida toda para sobreviver e para criar e manter uma família digna e honrada.
No clube de maior torcida do Estado, estive sempre, não apenas fazendo número, mas vibrando e torcendo, vestindo e suando a camisa alvinegra, alegrando-me e comemorando suas vitórias e sofrendo os insucessos, pois é de insucessos e de vitórias que se faz a história de todos os clubes. Quis, em determinado momento, a torcida do mais querido fazer-me seu presidente, o que significou para mim uma honra, um privilégio e uma enorme responsabilidade. Atesta minha consciência que tudo, mas tudo mesmo, que estava e está ao meu alcance venho fazendo para gerir uma instituição que, do ponto de vista administrativo, já encontrei deficitária, com enormes dificuldades de manutenção. Apesar de tudo, estou gerindo as dificuldades, remanejando atletas, substituindo-os e descobrindo formas de administrar o período crítico que o clube está vivendo.
Fui feito deputado federal, com um contingente de votantes em que muito pesou a votação da torcida e, em um ano de mandato, já consegui, entre outras coisas, fazer votar, no Congresso Nacional, uma legislação que abre uma enorme chance de regularização das dívidas dos clubes de futebol, num prazo que, graças à mobilização que fiz, na Câmara dos Deputados, foi estendido a 12 anos - 240 meses.
Sou membro titular atuante da Comissão de Turismo e Desporto e o esporte está entre minhas prioridades de ação parlamentar. Tramita na Câmara dos Deputados projeto de lei de minha autoria obrigando a instalação de sistema de vigilância por meio de câmaras nos estádios de futebol credenciados para a realização de jogos oficiais. O objetivo é contribuir para a redução da violência e também para a segurança das famílias que freqüentam os estádios de futebol.
Lamentavelmente, porém, percebo que tudo isso é interpretado, ora como comportamento omisso em relação aos problemas internos do ceará, ora como aproveitamento da condição política a que cheguei para minha projeção pessoal em detrimento do destino do clube. Toda crítica é bem recebida quando construtiva, mas, no caso, estou recebendo, não objeções fundamentadas, alternativas de solução. Recebo, sim, de pessoas mal intencionadas que se apresentam, como torcedores, todo tipo de ofensa, desaforos, acusações levianas, ao ponto de se organizarem "movimentos", utilizando a mídia, o correio eletrônico, panfletos, manifestos, e todo tipo de formas agressivas à minha pessoa.
Tudo tem um limite e o meu limite de tolerância e de compreensão já é chegado, sobretudo depois que agora não são mais vexames e aborrecimentos que estou enfrentando, mas ameaças à minha integridade física e insultos de todo tipo. Sou um apaixonado pelo Ceará. Só Deus sabe o amor que tenho pelo clube, mas não me apego à presidência, que não deixei até agora porque ninguém apareceu para pleiteá-la. Apareça quem pretender exercer o comando da mais importante instituição esportiva do meu Estado. Habilite-se, dispute a honrosa liderança deste clube querido, pois renuncio à presidência do Ceará Sporting Club.
Só me resta agradecer a João Rabelo por tudo o que fez em benefício do clube, aos vice-presidentes Adriano Rabelo e Evandro Leitão, a Castelinho Camurça, presidente do Conselho Deliberativo, à atual diretoria e aos ex-diretores, atletas, funcionários, torcedores em geral. Mas continuo um colaborador anônimo do clube e trabalhando firme em Brasília pelo esporte no Ceará. Agradeço especialmente à minha família, pelo apoio e estímulo que me deu, sofrendo junto comigo, em todos os momentos. Ao meu sucessor desejo muita sorte e a certeza de que pode contar comigo para o êxito de sua gestão.
Eugênio Rabelo
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Benê Lima