Sinopse

"Neste espaço encontra-se reunida uma coletânea dos melhores textos, imagens e gráficos sobre o futebol, criteriosamente selecionados e com o objetivo de contribuir para a informação, pesquisa, conhecimento e divulgação deste esporte, considerando seu aspecto multidisciplinar. A escolha do conteúdo, bem como o aspecto de intertextualidade e/ou dialogismo - em suas diversas abordagens - que possa ser observado, são de responsabilidade do comentarista e analista esportivo Benê Lima."

terça-feira, julho 07, 2009

Entrevista

Ricardo Capriotti, presidente da Aceesp
Jornalista preside a diretoria da entidade que reúne muitos dos profissionais da imprensa de SP
Bruno Camarão
Até fevereiro de 2010, quando se encerra o mandato de Ricardo Capriotti à frente da Aceesp, a Associação dos Cronistas Esportivos do Estado de São Paulo, a promessa é de que a entidade siga respirando novos ares. Mais do que um mero discurso político, essa é a intenção do presidente da atual diretoria da entidade, responsável pelo credenciamento dos profissionais da imprensa nas praças esportivas paulistas.

Atuando há mais de 20 anos como jornalista, Capriotti iniciou a carreira no interior de São Paulo e em 1991 chegou à capital para trabalhar na Rádio Gazeta. De lá, transferiu-se em 1993 para o Grupo Bandeirantes de Rádio e Televisão, onde foi repórter e apresentador.

Em 2002, foi contratado pela TV Record para apresentar o jornalístico “Cidade Alerta”. Além de âncora de transmissões esportivas da emissora, seguiu à frente de alguns programas esportivos da Rede Record – cobriu três Copas do Mundo de Futebol e uma Olimpíada.

Há dois anos, recebeu o convite para retornar à Rádio Bandeirantes, onda comanda, em paralelo com o cargo majoritário da Aceesp, o “Fôlego”, que vai ar todos os domingos, das 8h30 às 9h, e de segunda a sexta durante a programação esportiva da emissora.

O programa, que conta com uma equipe de colaboradores, aborda importantes pontos sobre treinamento e equipamentos para a prática esportiva responsável, além de aspectos sobre saúde e nutrição, tanto para profissionais do alto rendimento, quanto para aqueles corredores de fim de semana.

Espécie de xodó de Capriotti, que se tornou corredor em 1999 – completou algumas meias maratonas e ainda mantém vivo o sonho de disputar a tradicional Maratona de Nova York –, a produção do “Fôlego” garante repertório e aprofundamento ao jornalista em outras esferas.
“Assim como o médico, o advogado e o engenheiro são obrigados a estudar e se renovar constantemente, o jornalista esportivo tem de buscar novas formas de conhecimento para oferecer ao público. Na minha opinião, achar que aqueles quatro anos de faculdade e mais a boa noção de uma modalidade específica são suficientes para consolidá-lo como profissional é um erro”, analisou Capriotti, nesta entrevista à Universidade do Futebol concedida em sua sala, na nova sede da Aceesp.

Dentre outros temas, comentou sobre o funcionamento da entidade que comanda – rebatendo qualquer possibilidade de continuísmo –, o papel do jornalista e o modo como este pode se atualizar, a profusão de ex-atletas em meios de comunicação e por que razão é contrário à realização da Copa do Mundo no Brasil.

Universidade do Futebol – Como você avalia a representatividade da Aceesp para a categoria, de uma forma geral? E como se dá sua função efetivamente?
Ricardo Capriotti – Como presidente da diretoria, comando a estrutura da Aceesp, que é a responsável basicamente por unir os jornalistas esportivos do Estado de São Paulo, oferecendo à categoria uma série de atividades que possam elevar o conhecimento dos seus membros.

Promovemos cursos, palestras e alguns eventos que possam elevar a condição dos cronistas; claro, baseando-nos em um aspecto social. Ao fim do ano, buscamos unir todos os membros com um jantar, simbolizando o tradicional prêmio Ford-Aceesp.

Mas talvez a principal função da entidade seja credenciar os profissionais da imprensa para seu ingresso nos estádios.

Temos uma representatividade importante, crescemos bastante nestes últimos dois anos e meio em número de associados, e isso é uma amostra de que a categoria está confiando naquilo que a gente propôs.

*Nota da redação: A história da Associação dos Cronistas Esportivos do Estado de São Paulo começa em 1942, quando Ary Silva, então repórter dos Diários Associados e da Rádio Bandeirantes, conseguiu organizar os profissionais envolvidos e realizar a primeira assembléia que o escolheu como presidente.

Com poucos recursos, a entidade, então localizada no Prédio Martinelli, no centro da cidade, foi crescendo até que, em 1944, estabeleceu-se, através de decreto estadual, que o associado deveria ter livre acesso aos eventos esportivos. No principio dos anos 50, a Aceesp, sob o comando de Carlos Paioli, adquiriu um edifício na Avenida do Estado para onde transferiu sua sede.

Na gestão seguinte, de Geraldo José de Almeida, foi criado o jantar comemorativo de fim de ano. No mandato de Flávio Iazetti planejaram-se dois tradicionais eventos hoje: a Páscoa e o Natal do Cronistinha, além de reformas estatuárias e o primeiro período em que a festa da Aceesp passou a ser bancada por recursos próprios.

No final dos anos 70, sob o comando de Flávio Adauto, a entidade mudou-se para a sede própria da Avenida Paulista, onde está até hoje. A reforma dessa sede, na presidência de Lucas Neto, no inicio dos anos 80, fez com que a Aceesp pudesse promover eventos como o sorteio de grupos do Mundial de Futsal de 1982.

Na gestão seguinte, de Mario Marinho, foi criado o prêmio Ford-Aceesp, que premia os melhores profissionais da área escolhidos por voto dos associados, com entrega em um jantar de gala.

Na presidência de Paulo Cézar Correa, a partir de 2004, foi encerrado o vínculo com a Federação Paulista de Futebol, que durante a história da associação contribuiu com apoio financeiro proveniente das arrecadações de jogos do Campeonato Paulista. Hoje em dia, sob o comando de Ricardo Capriotti, a Aceesp vive exclusivamente das anuidades de seus associados e dos credenciamentos de profissionais do jornalismo esportivo.


Nova entrada da Aceesp, no prédio localizado na Avenida Paulista

Universidade do Futebol – Em termos de planejamento, qual o diferencial da sua gestão em relação às gestões anteriores?
Ricardo Capriotti – Eu acho que não me sinto muito à vontade para traçar um paralelo. As pessoas mais indicadas para tecer qualquer tipo de comentário, imagino, seriam os sócios e os próprios profissionais que trabalham diretamente na sede da Aceesp.

Nós tivemos alguns pontos que foram muito relevantes, como a reforma profunda no espaço onde estamos localizados, que há quase 30 anos estava intocável, além de termos buscado também novos cursos e palestras, que haviam sido deixados um pouco de lado.
Remodelamos ainda a marca da associação, a rejuvenescemos, interna e administrativamente, realizando alguns ajustes na parte trabalhista. O que sei e posso garantir é que essa diretoria tem trabalhado bastante.

Universidade do Futebol – Recentemente, após a realização de uma investigação e posteriormente uma sindicância interna, o site Futebol Interior foi expulso da entidade, juntamente com alguns dos membros desse veículo. O que esse caso simbolizou para a Aceesp?
Ricardo Capriotti – Esse é um caso que causou um desgaste grande para a Aceesp como um todo. Acredito que foi a primeira vez em sua história que nossa entidade foi obrigada a excluir associados. Foi algo marcante em todos os aspectos.

Ocorreu um processo longo, extenso, desgastante e talvez sirva, sim, como um marco. Em mais de 60 anos da associação, nunca havia o ocorrido algo semelhante.

Em gestões futuras, se houver casos semelhantes, esse pode servir como parâmetro.

*Nota da redação: entenda o caso. Há aproximadamente um ano e meio, o Blog do Paulinhoilustrou, por intermédio de uma troca de e-mail à qual teve acesso, uma denúncia ao proprietário do site Futebol Interior, Arthur Eugênio Mathias, e ao seu parceiro, Élcio Paiola, acusando-os de cobrar propinas de atletas, treinadores e dirigentes para realizar matérias elogiosas e com um tom positivo.

Os que não aceitassem pagar eram perseguidos pelo site, com uma sucessão de matérias difamatórias.

O caso ganhou repercussão na mídia, especialmente após o Blog do Juca, do jornalista Juca Kfouri, de UOL, Rádio CBN e jornal Folha de S. Paulo, expor a denúncia.

O jornal Agora São Paulo, que mantinha uma coluna assinada pelo Futebol Interior, soube do ocorrido e cortou as relações; na sequência veio o portal iG, com quem o site mantinha uma parceria; por fim, a Aceesp, já então presidida por Capriotti.
A associação paulista realizou uma investigação e posteriormente uma sindicância interna. Os acusados foram ouvidos, bem como o próprio Paulinho e o ex-goleiro e atual treinador Zetti, um dos que teriam sido pressionados pelo Futebol Interior.

Alguns membros da Aceesp ainda teriam sido ameaçados por Arthur Eugênio Mathias, que, ao lado de Paiola, foi expulso da entidade.

Universidade do Futebol – De que forma os jornalistas que não foram atletas fazem para compensar a falta de conhecimento prático? Qual é a importância da teoria e da prática para a capacitação profissional do jornalista esportivo?
Ricardo Capriotti – No Brasil, basicamente o jornalista esportivo é um apaixonado por esporte. Aquele sujeito que praticou na infância e na adolescência alguma atividade, mas não se profissionalizou.
A partir disso, considerando-se esse exemplar, ele tem a obrigação de estudar, de se aperfeiçoar, de buscar subsídios para poder repassar a informação ao leitor, ao ouvinte, ao espectador de uma maneira mais sustentada.

Assim como o médico, o advogado e o engenheiro são obrigados a estudar e se renovar constantemente, o jornalista esportivo tem de buscar novas formas de conhecimento para oferecer ao público. Na minha opinião, achar que aqueles quatro anos de faculdade e mais a boa noção de uma modalidade específica são suficientes para consolidá-lo como profissional é um erro.

Há necessidade de atualização constante, de um processo de aprendizagem contínuo. Quando houver essa conscientização da categoria, acredito que teremos um jornalismo esportivo muito mais qualificado e, espero, não nos sintamos nunca acomodados.


Sala de reuniões: estrutura remodelada após quase três décadas

Universidade do Futebol – Na Rádio Bandeirantes, você apresenta ao lado do Sérgio Patrick o programa “Fôlego”, voltado particularmente ao público das corridas, seja profissional ou não. A abordagem é mais profunda, com a presença de muitos profissionais de diversas áreas técnico-científicas. Não seria possível reproduzir esse modelo para o futebol?
Ricardo Capriotti – A intenção do programa é incentivar aqueles que estão iniciando e possibilitar novos conhecimentos àqueles que já atuam em alto rendimento. De uns cinco anos para cá tenho estudado bastante sobre vários dos aspectos envolvendo corrida. De um hobby, virou algo profissional.

Quando montei o time de colaboradores, busquei gente da melhor qualidade. Um time de especialistas, como o Nabil Ghorayeb, na área de cardiologia, o Moisés Cohen, em ortopedia e reabilitação, e a Patrícia Teixeira, em nutrição.
São profissionais de muita responsabilidade e procuro valorizar isso.


Claro que eu acho possível [levar o molde ao futebol]. Gosto muito de estudar sobre ciências voltadas ao esporte e no futebol isso é muito maltratado. Há espaço para se realizar um programa nesses modelos, completamente.
Ainda mais em um país como o nosso, com uma medicina esportiva muito qualificada, cujos envolvidos são considerados alguns dos melhores. Mas creio que ainda falte um pouco de iniciativa.

Universidade do Futebol – A presença de ex-atletas ancorando programas esportivos de rádio e TV, ou produzindo colunas em jornais e internet, mostra-se cada vez maior. Como você avalia essa situação? É importante uma regulamentação da profissão?
Ricardo Capriotti – A faculdade de jornalismo hoje, como vem sendo oferecida, com raras exceções, em raras universidades, não cumpre o papel que deveria. O jornalista formado, pra valer, não ocorre ali.

Por outro lado, um ex-atleta bem preparado, com condições, por que não pode desenvolver a função?
Houve uma explosão de faculdades particulares, formando mal e porcamente uma série de profissionais mal preparados, que ganharão um salário ruim e não contribuirão para o engrandecimento da profissão. Ao passo que você pode ter uma pessoa que atuou profissionalmente em uma modalidade, com boa capacidade comunicativa, uma formação cultural rica, que interaja bem com o público, e pode desenvolver um trabalho consistente na área.

O que precisamos questionar, na minha avaliação, é a formação ruim oferecida na área acadêmica, a qual não confere perspectivas positivas de um bom futuro, de um bom emprego. É isso que vemos nesse momento no Brasil.

*Nota da redação: No último dia 17, o Supremo Tribunal Federal derrubou por 8 votos a 1 a obrigatoriedade do diploma de jornalista para o exercício da profissão. O STF julgou que o decreto-lei 972 de 1969, que exige o documento, é incompatível com a Constituição de 1988, que garante a liberdade de expressão e de comunicação.
Foi a segunda decisão importante na área da comunicação tomada pelo STF em 2009. Anteriormente, no dia 30 de abril, o tribunal também revogou a Lei de Imprensa, editada em 1967, durante a ditadura, pelas mesmas razões.

O Ministério Público Federal e o Sindicato das Empresas de Rádio e Televisão de São Paulo entraram com uma ação contra a obrigatoriedade do diploma e, em 2001, a 16ª Vara de São Paulo anulou a exigência, restabelecida em 2003 pelo Tribunal Regional Federal da 3ª Região.

Em 2006, o processo chegou ao STF e o ministro Gilmar Mendes concedeu uma liminar suspendendo a exigência.
“Um excelente chefe de cozinha certamente poderá ser formado numa faculdade de culinária, o que não legitima o Estado a exigir que toda e qualquer refeição seja feita por profissional registrado mediante diploma de curso superior nessa área”, declarou Mendes, à ocasião.

Na avaliação do presidente do Supremo, o Estado não pode regulamentar a profissão de jornalista, mas que isso não inviabiliza os cursos de jornalismo, já que órgãos de imprensa podem cobrar o diploma, se entenderem que ele é necessário.

O único que votou a favor do diploma foi Marco Aurélio Mello, que alegou que "o jornalista deve ter uma formação básica".

O tema dividiu as entidades dos jornalistas e dos meios de comunicação: a Fenaj (Federação Nacional dos Jornalistas) e a ABI (Associação Brasileira de Imprensa) defenderam o diploma; já a ANJ (Associação Nacional de Jornais) e a Abert (Associação Brasileira de Emissoras de Rádio e TV) eram contra.

Universidade do Futebol – E qual o papel da Aceesp na formação e qualificação dos seus profissionais?
Ricardo Capriotti – Mesmo antes da reforma da sede, oferecíamos aos sócios palestras sobre as mais variadas áreas das ciências atreladas ao esporte. Reformamos o espaço físico que temos aqui e estamos buscando parcerias.

O jornalista Odir Cunha, por exemplo, deverá participar do projeto. Estamos traçando também um vinculo com o portal Comunique-se, que se utilizaria de nossa base.
É nossa busca oferecer aos sócios possibilidades de um aprimoramento. Aquele que acabou de sair da faculdade e sente algumas carências, tem de encontrar em nossa entidade algum suporte. E temos de atuar nesse sentido.


Última edição do prêmio Ford-Aceesp: saiba quem foram os vencedores

Universidade do Futebol – A cobertura jornalística esportiva tem um formato predefinido, seja no rádio, TV ou internet, e geralmente temas mais complexos não são abordados no dia a dia. É possível quebrar esse paradigma para que a grande massa tenha acesso a uma informação mais analítica e qualificada, ampliando, dessa forma, a cobertura tradicional?
Ricardo Capriotti – Eu acredito que tudo aquilo que você recebe como informação é importante. Quando você se fixa apenas em uma editoria, deixa de conhecer outras esferas muito importantes. Não é porque eu pertenço aos esportes que abdicarei de um conhecimento sobre economia, cultura, etc.

Nosso objetivo é fornecer o maior número de dados ao nosso associado. Seja algo atrelado diretamente ao jornalismo esportivo, como as palestras sobre medicina esportiva, sobre técnica e tática, ou alguma outra situação que ele utilizará em seu dia-a-dia. O público é que sentirá a diferença, sem dúvida alguma.

O profissional que é do esporte tem de ter uma visão mais global. E falo por experiência própria. Isso já me ajudou em algumas coberturas internacionais e políticas, por exemplo. O menor subsídio que eu tinha foi relevante para que eu desempenhasse a função de maneira mais capacitada.

Universidade do Futebol – Nos campeonatos internacionais a imprensa tem acesso restrito às zonas mistas ou às coletivas de imprensa. Com vistas a Copa do Mundo de 2014 no Brasil, não seria interessante que o modelo já fosse aplicado nos campeonatos internos, facilitando assim a adaptação dos profissionais a essa mudança no modus operandi do trabalho?
Ricardo Capriotti – É uma pergunta interessante. Acredito que nós, jornalistas, somos especialistas em criticar dirigentes, políticos, na maioria das vezes com razão, mas esquecemos de olhar para nossos problemas, para nossos erros.

Aqui em São Paulo temos uma condição boa de trabalho, somos organizados, mas ao longo do país percebemos muitas dificuldades, e a cinco anos de uma Copa do Mundo não podemos passar por determinadas situações como a reclamada pelo Ronaldo, em Goiânia.

E com razão, com propriedade, uma crítica vinda de um jogador que conviveu com uma outra estrutura na Europa.
Eu pretendo liderar, através da Aceesp, um movimento para apresentar um plano de organização e de modernização da prática do relacionamento da imprensa em dias de jogos, principalmente.

Espero que em outros Estados se reproduza o que encontramos aqui. Será importante para nós mesmos, para os jogadores, para os clubes e todos envolvidos com o evento.

Precisamos consertar algumas coisas, e o nosso modelo paulista pode servir de exemplo. Um país que vai sediar uma Copa não pode apresentar certos problemas como os que a gente tem observado.

*Nota da redação: “Havia crianças, adultos e senhoras dentro de campo. Aquilo não existe. Era praticamente uma várzea no Campeonato Brasileiro, com todo o respeito às pessoas que gostam de futebol e que estão buscando seus ídolos, mas, ali, não era o momento”. Essa foi a crítica do atacante Ronaldo, do Corinthians, em relação à organização promovida pelo Goiás no estádio Serra Dourada, em duelo válido pelo Nacional deste ano.

Recepção da nova sede: imagens de grandes nomes do esporte brasileiro

Universidade do Futebol – E como funciona esse contato entre a associação paulista e as demais dos outros Estados? É a Abrace* quem funciona como representante majoritário desse processo?
Ricardo Capriotti – A Abrace teoricamente seria a organizadora. Houve um congresso anual, o último, realizado em Fortaleza, e a Aceesp não se fez presente – fomos a única associação que não esteve lá representada.
Isso porque no evento do ano passado, do qual participamos, infelizmente nada foi discutido. Serviu apenas para se fazer turismo.
Lamento também que há aproximadamente 15 anos o mesmo presidente está à frente dessa entidade. Não concordo com esse continuísmo e acredito que não poderia, em nome da Aceesp, ser conivente com isso.

Não vejo a Abrace em condições de liderar e pretendo, por isso, por intermédio de São Paulo, chamar a atenção para aquele movimento organizado que citei anteriormente.

*Nota da redação: A Abrace, Associação Brasileira de Cronistas Esportivos, sediada na capital cearense desde 1995, é o órgão de representação nacional das entidades regionais.

Com o apoio de 26 associações, elegeu Aderson Maia, Eraldo Leite e Carlos Castilho para um mandato de quatro anos na executiva (2009/2013). Maia ocupa o cargo majoritário desde 1995, tendo ingressado na associação 20 anos antes.
Em 1992, foi nomeado diretor jurídico da associação pelo presidente Lombardi Júnior. Em 1994, com a morte de Lombardi, a entidade passou por uma série de problemas administrativos e Maia foi o encarregado a proceder na redação de um novo estatuto.
Influente, ganhou o apoio das representações do Norte e Nordeste, donas de 13 dos votos, e desde então está à frente da Abrace.

Universidade do Futebol – Há um rompimento oficial da Aceesp com a Abrace? Profissionais não vinculados ao órgão nacional, por exemplo, não podem trabalhar em praças esportivas longe do seu Estado?
Ricardo Capriotti – Não há um rompimento formal da Aceesp com a Abrace, mas uma posição contrária ao que vem acontecendo lá por conta da perpetuação no cargo do presidente e da falta de iniciativa do órgão de trabalhar a favor dos cronistas.
Não vejo ações para discutir pontos importantes da categoria e muito menos iniciativas positivas da entidade. Porém, continuamos credenciando os profissionais da imprensa paulista para que possam trabalhar em outros estados.

Esse é um ponto, aliás, que gostaria de discutir com a Abrace: por que precisamos da credencial dela para trabalhar em outros Estados? Por que as credencias estaduais não têm validade em outras praças? Por que obrigar jornalistas ou empresas a fazer duas credenciais anuais?

Para você fazer, por exemplo, a cobertura da final da Copa do Brasil no Beira-Rio, há necessidade da credencial da Abrace. Caso contrário, não há acesso. Ou então precisaria de um pedido da Aceesp para a Acerg [Associação dos Cronistas Gaúchos, responsável pelo credenciamento no Rio Grande do Sul] autorizando esse profissional a trabalhar sem o aval do órgão nacional.


Local onde trabalham os funcionários da Aceesp, responsável pelo
credenciamento da imprensa paulista

Universidade do Futebol – Como você avalia o papel da imprensa esportiva na cobertura dos temas relacionados à Copa-2014 no que se refere a uma análise mais crítica e investigativa? Acredita que observaremos um legado parecido com o que o Pan-07 no Rio deixou?
Ricardo Capriotti – Em primeiro lugar, eu não era favorável à realização da Copa do Mundo no Brasil. Como veio, acho que temos de comemorar, festejar, na medida do possível, mas nunca deixar a vigilância de lado.
Temos visto como funcionam os comitês para trazer os Jogos Olímpicos ao país em 2016, bem como funcionaram os da Copa do Mundo, e a imprensa tem um papel fundamental de cobrança e observação.

É uma função muito prática, para que tenhamos, aqui, possibilidade de evoluirmos, de termos melhorias na infraestrutura, e que ela fique efetivamente para o país.
Mas essa investigação cabe não só à imprensa esportiva, como a todos os setores do jornalismo.

Sempre acompanhando de perto, para que não haja desvio, corrupção, mas ciente de que é muito difícil. Se em países mais desenvolvidos e ricos houve, aqui não deverá ser diferente.

Universidade do Futebol – E por que sua contrariedade ao evento no país?
Ricardo Capriotti – Porque eu acho que o Brasil não tem condições de realizar uma Copa do Mundo como as que ocorreram em países de Primeiro Mundo. Não temos uma infraestrutura e não acho que iremos ter em cinco anos algo decente em termos de estradas, malha viária, aeroportos. Será feito algo do nosso jeito, mostrando as nossas carências.

De forma geral, o Brasil começa a dar um passo para a modernidade, mas acredito que poderíamos iniciá-lo de outra forma, não trazendo uma Copa do Mundo para cá.

Temos outras necessidades e carências. O dinheiro que vai ser investido não suprirá nossas carências sociais, educacionais, algo que enxergo como muito mais importantes.


* Crédito das fotos: Pati Patah
.

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Benê Lima