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"Neste espaço encontra-se reunida uma coletânea dos melhores textos, imagens e gráficos sobre o futebol, criteriosamente selecionados e com o objetivo de contribuir para a informação, pesquisa, conhecimento e divulgação deste esporte, considerando seu aspecto multidisciplinar. A escolha do conteúdo, bem como o aspecto de intertextualidade e/ou dialogismo - em suas diversas abordagens - que possa ser observado, são de responsabilidade do comentarista e analista esportivo Benê Lima."

domingo, julho 26, 2009

Relação clube-técnico, uma questão que supera as regulamentações e invade a cultura dos países
Mais do que regras para determinarem como deve ser tratado o treinador, a forma como é encarado o futebol interfere nessa relação
Marcelo Iglesias

No futebol brasileiro, existem muitas regras que abordam todas as esferas da modalidade, desde o desenvolvimento do jogo até a relação dos clubes com os jogadores. No entanto, há uma enorme negligência no que se refere às diretrizes que regem a convivência com os treinadores.

“No Brasil, não há regulamentação para os técnicos de futebol. Na Europa, ao contrário, se um treinador é demitido, ele não pode comandar outro clube do mesmo país”, disse Mano Menezes, técnico do Corinthians, em entrevista ao programa Roda Viva da TV Cultura. “Essas regras reduzem a quantidade de especulações em relação a possíveis transferências, o que é muito comum no Brasil”, completou.

Na verdade, as diferenças em relação ao tratamento que é dado aos treinadores varia de país para país. Não existe uma norma que seja igual para todos as nações européias, isto é, cada campeonato tem as suas regras particulares, assim como a que foi citada pelo técnico corintiano.

“Esse procedimento é algo particular do campeonato inglês. Na Europa, cada país tem as suas regras. Nesse caso, se por um lado o treinador não pode comandar nenhuma equipe do mesmo país, a agremiação é obrigada a pagar o seu salário até o final da temporada, o que também impede algumas demissões”, contou Luiz Felipe Santoro, presidente do Instituto Brasileiro de Direito Desportivo (IBDD), formado pela USP, pós-graduado em Direito da Integração e Mercosul pela Universidade de Buenos Aires e especializado em Administração para Profissionais do Esporte pela FGV-SP.

No entanto, como é apenas uma regra de campeonato e não uma lei, esse tipo de relação clube-técnco pode ser facilmente alterada. Caso tivesse força de lei, precisaria passar por diversas tramitações e processos para que fosse mudada.

“Apesar de ser de praxe essa relação na Inglaterra, ela é uma regra que pode ser alterada a qualquer momento, diferente de uma lei, que exige mais do que a simples vontade dos organizadores do campeonato para ser mudada”, enfatizou Santoro.

No Brasil, uma realidade igual a da Inglaterra poderia acontecer sem problemas. Bastaria que técnico e agremiação colocassem em contrato que, caso o treinador fosse demitido ou se demitisse, ele não poderia comandar outro time do país, e/ou que o clube se comprometeria a pagar o seu salário até o final da temporada.

Um dos pontos levantados por Mano Menezes é que, a consequência da falta de regulamentação para os treinadores no Brasil acarreta em constantes especulações em relação a possíveis transferências para clubes do mesmo país, o que dificulta ainda mais a relação harmoniosa entre os dirigentes das agremiações brasileiras.

“Acredito que esse tipo de relação do mercado acontece muito mais no Brasil por conta da desunião dos clubes. Em países como a Inglaterra, a Alemanha e a Itália as agremiações são mais corporativistas. Mesmo porque elas sabem que, se não houver esse tipo de relação, os custos para ter-se um bom técnico sobem muito, o que, atualmente, é um dos principais problemas da indústria do futebol”, disse Oliver Seitz, pesquisador do Grupo de Indústria do Futebol da Universidade de Liverpool, na Inglaterra, e colaborador da Universidade do Futebol.

No entanto, em países como a Espanha, por exemplo, existem dois grandes clubes, o Real Madrid e o Barcelona, que se odeiam, e que têm muito mais dinheiro e poder que os demais. Lá, a relação entre as agremiações extrapola o ambiente do futebol, chegando a questões étnicas, o que dificulta a boa relação entre as agremiações.

“No Brasil, apesar de não existirem problemas étnicos ou sociais que interfiram no relacionamento dos clubes, alguns dirigentes se odeiam por razões pessoais. Acredito que para que possamos ter algo parecido com o que há na Inglaterra, ainda precisaremos de algumas gerações de dirigentes”, opinou Seitz.

Portanto, a reclamação de Mano Menezes poderia ser facilmente contornada com a inserção de uma cláusula contratual. O maior problema para práticas como essa é a mudança cultural que deveria ocorrer no Brasil a fim de que se alterasse a relação técnico-clube.


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