De acordo com a pesquisa, o Brasil possui o ingresso médio proporcionalmente “mais caro” do mundo, no valor de R$ 38. A afirmativa defende a lógica comparativa entre o valor, ou suposto valor, médio do ingresso, e o PIB per capita de cada país, para encontrar quantos ingressos cada população pode comprar por ano. Assim, o poder de compra relativo do torcedor brasileiro permitiria a compra de apenas 645 ingressos anuais, em relação à média de 1.308 nos 15 países “pesquisados”. A metodologia em si, não é o problema, é bastante válida até. O problema são os números utilizados.
E para não tornar o post um mini Ulisses, coloco abaixo os dados de alguns jogos recentes e respectivos tickets médios (em reais):
Corínthians x Santos: 41,25
Internacional x Juventude: 40,80
Bahia x Vitória: 39,97
Atlético-Mg x Cruzeiro: 36,22
Atlético-Mg x São Paulo: 36,22
São Paulo x Corínthians: 33,03
Palmeiras x Santos: 32,31
Corínthians x Atlético Sorocabano: 32,19
Santos x Palmeiras: 31,31
Botafogo x Fluminense: 28,72
Coritiba x Atlético-Pr: 24,70
Atlético-Mg x Tombense: 23,17
Santos x São Caetano: 21,70
Sport x Santa Cruz: 20,61
Santa Cruz x Sport: 18,17Analisando os números acima (uma pequena amostragem de 15 jogos recentes), e comparando com a tese, verificamos que alguns dados não conferem. O valor médio de R$ 38,00 não é real, pois apenas 3 jogos apresentaram médias superiores. Chama a atenção o fato de que a grande maioria dos jogos são decisões de campeonatos, em que os ingressos normalmente são majorados. E mesmo assim, a grande maioria dos valores situaram-se muito abaixo do valor apontado pela pesquisa.
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Na partida entre Santos e Flamengo em Brasília, ao todo foram disponibilizados 69.200 bilhetes, com preços que variaram de R$ 160 (R$ 80 a meia-entrada) a R$ 400 (R$ 200 a meia).
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Também é fácil notar outros 2 fatores. Primeiro, que existe uma grande diferença entre jogos decisivos (poucos), e jogos comuns (a maioria), onde descontos e promoções são usuais. A pesquisa desconsidera fatores como, descontos proporcionados por programas de sócios-torcedores, a lamentável meia-entrada, as diferenças regionais (sim, existe futebol além do Sul-Sudeste !!!), a setorização que já existe e que se acentuará com os novos estádios, permitindo um mix mais interessante de preços, além da comparação com entretenimentos concorrentes, como cinema, teatro e shows. Futebol é um espetáculo ao vivo, único, que envolve um elenco grande de profissionais muito bem remunerados. Mesmo assim, pelos exemplos citados, percebe-se que a realidade dos valores é muito distante dos tais R$ 38 de ticket médio.
O consumidor hoje escolhe muito bem em que evento irá gastar o seu dinheiro, até porque, diferentemente do passado, as opções de lazer são muitas. Não é possível para a esmagadora maioria assistir a todos os shows, jogos, filmes e peças que gostariam de assistir. O futebol não foge disso. A saída não está em baixar ainda mais os preços (o que só desvaloriza o produto), e sim, tornar o produto cada vez mais atraente para justificar os preços cobrados.
Em 1923, o ingresso para assistir os jogos do campeonato carioca, em local sentado, era de 3 mil réis, e em pé, a metade. 3 mil réis era o preço de 1 litro de leite. Mas isso era no tempo do futebol amador quando os clubes não precisavam arcar com pesadas folhas salariais. Os craques é que pagavam aos clubes para jogar.
Esse tempo acabou. Precisamos reinventar o envolvimento dos torcedores com os jogos de futebol, e não será cobrando o valor de 1 litro de leite que isso será alcançado.
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Sinopse
"Neste espaço encontra-se reunida uma coletânea dos melhores textos, imagens e gráficos sobre o futebol, criteriosamente selecionados e com o objetivo de contribuir para a informação, pesquisa, conhecimento e divulgação deste esporte, considerando seu aspecto multidisciplinar. A escolha do conteúdo, bem como o aspecto de intertextualidade e/ou dialogismo - em suas diversas abordagens - que possa ser observado, são de responsabilidade do comentarista e analista esportivo Benê Lima."
CALOUROS DO AR FC
segunda-feira, junho 10, 2013
O preço do ingresso no Brasil é o mais alto do mundo?
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Benê Lima