Victor Martins. É jornalista, palmeirense, dinamarquês por opção e sempre pensou que ia ter de cobrir futebol antes de chegar ao automobilismo, que acompanha desde os 7 anos. E desde que se formou, está na Agência Warm Up e no Grande Prêmio, isso há mais de 9 anos. Neste tempo, foi colunista do iG, escreveu para 'Folha de S.Paulo', 'Lance!' , 'Quatro Rodas' e 'Revista Audi', foi repórter da edição brasileira da 'F1 Racing', cobriu F1, Stock Car, DTM, a Indy e três edições das 500 Milhas de Indianápolis, e outras categorias ‘in loco’. Agora também é comentarista dos canais ESPN. Conheceu cidades como Magdeburgo, São Luís e Nova Santa Rita, traduziu um livro da Ferrari e já plantou um monte de árvores. Tem quem fale que seria um grande ator, mas ter ganhado o Troféu ACEESP 2011 como 'Melhor repórter' da imprensa escrita mostrou a escolha menos errada. Adora comida japonesa, música eletrônica e odeia ovo, ervilha e esperar. “Necessariamente nessa ordem", diz.
Vou começar pelo áudio vazado da Globo durante a classificação em que Galvão Bueno, depois do teste de som, dá a seguinte recomendação: “Não vamos especificar tempo, porque, na verdade, ele tá tomando meio segundo desde ontem”. Não é necessária muita inteligência para se concluir que se tratava de Massa, que tomou 0s403 de Bottas no TL2 e 0s546 no TL3 da manhã. Mas a inteligência deveria ser necessária há muito tempo para quem já tem anos e anos na lomba e vê uma situação que é clara na emissora: a falência do modelo de transmissão de apoio a um atleta brasileiro, e evidenciada logo depois do fracasso homérico que a Seleção levou no futebol. Ou de quem vai aproveitar o momento — porque só assim diz — das condições olímpicas do esporte nacional e das 12 medalhas choradas depois de afagar Nuzman e seus tiques e a quens de direitos.
E querem um exemplo claro, em ‘on’, dito na mesma transmissão minúscula do treino de como se controla a informação? Quando Magnussen bateu no Q3, ele foi definido com o seguinte predicado: “Ele é afoito mesmo, ele deixa pra frear depois, como foi naquele caso.” O caso é o acidente da semana passada na primeira curva do GP da Alemanha. Pois eu pergunto a todos: quem é que viu a mínima culpa do dinamarquês no choque com Massa? Ou será que não chegou à TV e a seus produtores que quem foi investigado na semana passada foi Felipe e sua atitude, e não Kevin?
Galvão e a Globo tratam as duas pontas, esporte e público, numa relação que lembra a da ditadura, nacionalista, pacheca, ame-o ou deixe-o, nosso herói. Ou como a avó que cria o neto à base de leite com pera, que defende quando ele pega a bola no meio do jogo só porque está perdendo, que cresce sem saber dar porrada quando preciso. Esse protetorado cretino se refletiu durante muito tempo sobre o próprio filho do narrador, Cacá, hostilizado muitas das vezes em que ganhava corridas na Stock Car. Cacá não era visto como o baita piloto que é, mas o filho daquele que boa parte do povo rejeitava as papagaiadas e venda de emoções falsas. Porque, com o tempo, o público foi notando que os atletas brasileiros não têm obrigação alguma de nascer com o gene da supremacia absoluta e que o que era falado era uma tentativa de lavagem cerebral, uma lobotomia que não cola. E quando se é, no caso de Cacá no mundo do turismo brasileiro, taxa-se o rótulo da dúvida.
O narrador e sua emissora talvez não tenham se dado conta de que cada passo é vigiado e rastreado nesse mundo de Big Brother em que vivemos. Que erros são descobertos num estalar de cliques e minutos, em Facebooks e Twitters da vida. Que as formas de informação são múltiplas e não se concentram mais neles — e neste ponto, ambos estão atentos demais com os resultados baixíssimos de audiência e as respostas das gentes. Ou que não é necessária muita inteligência, ou que o patamar de inteligência mínima é outro. O sistema que é enfiado goela abaixo já passou do ponto do amadurecimento e está podre, mas as cabeças que se dizem pensantes preferem se alimentar do que não presta mais. A doença acaba sendo natural e se reflete em números.
O telespectador minimamente sóbrio de suas faculdades mentais não quer que Massa seja definido da mesma forma que Galvão rotulou Magnussen, nada de “o cara que não vence há cinco anos”, “ele só larga em sexto”, “puxa vida, que azarado”. Sinceridade e verdade deveriam ser cláusulas pétreas para quem vomita seus princípios editoriais. Quando essa forma de escolher o que dizer, seja por eufemismo ou supressão, vem à tona, quem é enganado entende quem é que está enganado há muito tempo. E exerce seu direito correto de procurar uma outra opção para satisfazer seu gosto.
Em tempo: Massa não tomou meio segundo, mas 0s9 de Bottas, no fim das contas.
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Sinopse
"Neste espaço encontra-se reunida uma coletânea dos melhores textos, imagens e gráficos sobre o futebol, criteriosamente selecionados e com o objetivo de contribuir para a informação, pesquisa, conhecimento e divulgação deste esporte, considerando seu aspecto multidisciplinar. A escolha do conteúdo, bem como o aspecto de intertextualidade e/ou dialogismo - em suas diversas abordagens - que possa ser observado, são de responsabilidade do comentarista e analista esportivo Benê Lima."
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sábado, julho 26, 2014
Opinião] BUDAPESTE BUBÔNICA
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Benê Lima