Profissional italiano fala sobre as experiências de intercâmbio e base "harmoniosa" de seu treinamentoEquipe Universidade do Futebol*Em quase 21 anos de experiência profissional como treinador, Roberto Landi deixou sua marca em muitas seleções e clubes ao redor do mundo. Ele é um daqueles raros treinadores com habilidades organizacionais e motivacionais excepcionais e com um dom raro que todos os “grandes gerentes têm”: a capacidade de transformar jogadores medianos em jogadores bons e jogadores bons em grandes jogadores.
A confiança na gestão sempre inspira e incute autoconfiança para suas equipes. E assim o italiano de 55 anos, que fala inglês fluentemente e tem excelentes habilidades de comunicação e mídia, sonha fazer história na Libéria, onde dirige a seleção principal de futebol do país.
Landi começou a sua carreira de treinador profissional em 1990, como preparador de goleiros da seleção dos Estados Unidos (Copa do Mundo de 1990, na Itália). Ele também treinou as seleções sub-21 da Lituânia e da Geórgia e também a seleção principal do Qatar.
Como técnico de clube, ele teve sucesso em vários ambientes diferentes – Bélgica e Escócia são dois exemplares. Agora à frente do staff nacional liberiano, ele tem tido ótimos resultados e tem também levantado a forma da equipe jogar e a posição da mesma no futebol africano.
“O treinamento da equipe deve ser como de uma sinfonia harmoniosa”, sintetizou Landi, em entrevista concedida à Soccer Coaching International, revista holandesa que é parceira da Universidade do Futebol.
Nascido em Fioria, Landi atuou como atleta nas categorias de base do Bolonha e do Piacenza. Em 1966 juntou-se à equipe principal biancorossi e disputou a Serie C1. Pouco tempo depois, mudou-se para Modena como segundo goleiro, e em seguida defendeu o Ravenna e o Siena antes de deixar a Itália para jogar na North American Soccer League (NASL), em 1979, com 23 anos de idade.
Durante sua passagem na América do Norte, jogou por Vancouver Whitecaps e o Chicago Sting, antes de assinar com o Kaizer Chiefs FC, da África do Sul – retornaria ainda aos Estados Unidos para compor o elenco do New York
Cosmos, em 1983.Na reta final de sua carreira como goleiro, Landi ainda vestiu a camisa de várias equipes amadoras (Cervia, Morciano e Ospedaletto) e se aposentou, jovem, aos 30 anos de idade.
Após mudar de função e ser o preparador de goleiros do US Soccer Team nos Mundiais de 1990 e 1994, Landi recebeu sua primeira oportunidade como comandante principal de uma equipe com o Marignano, que chegou a disputar a terceira e a quarta divisões do futebol italiano.
Entre 1998 e 2000, o compromisso firmado foi com a seleção sub-21 da Geórgia, e na temporada seguinte houve o convite da Lituânia. Depois vieram o FC Messina Peloro (Serie B do Calcio), o Nacional Bucareste (Premier League da Romênia), a seleção sub-20 do Qatar, o Livinsgton FC (Premier League da Escócia) e o Royale Union Saint-Gilloise, da elite belga.
*Tradução: Thales Peterson
Universidade do Futebol – De que maneira você enxerga o futebol?
Roberto Landi – Minha filosofia e visão do futebol é deixar o time jogar uma boa partida, agradável, a fim de entreter os fãs enquanto consegue o melhor resultado possível.
Eu não acredito que o futebol é o mesmo em todo o mundo, com uma das principais diferenças sendo o papel do treinador, que, sem “reinventar a roda”, precisa ser capaz de melhorar a qualidade dos jogadores e construir uma equipe vencedora. A equipe é tudo, e todos os jogadores, individualmente, devem contribuir com seu conhecimento pessoal e qualidade para a conjunto.
Universidade do Futebol – Ao assumir uma equipe – seja clube ou seleção – quais são suas intenções e expectativas?
Roberto Landi – Meu objetivo principal é formar uma equipe, e o que eu faço não significam apenas 11 jogadores, mas todo o grupo. É o meu trabalho ajudá-los a se desenvolver ainda mais como jogadores de futebol profissional.
Eu acho que é fundamental para um treinador entender os pontos fortes e fracos dos atletas, e um bom treinador deve ser capaz de ajudar cada um deles a transformar suas deficiências em qualidades.
Como treinador estou sempre tentando melhorar as características de jogo de cada jogador e ajudando desenvolvê-los de tal forma que eles saibam o seu papel em cada fase do jogo, e em cada parte do campo.
Para Landi, treinador deve entender os pontos fortes e fracos dos atletas, e ser capaz de ajudar cada um deles a transformar as deficiências em qualidades
Universidade do Futebol – Em se tratando de plataformas de jogo, você tem algum sistema de preferência? Como transmitir essa mensagem aos atletas?
Roberto Landi – O meu sistema favorito de jogo é o 4-4-2, porque, para mim, ele garante o equilíbrio certo e a cooperação entre toda a equipe durante a partida.
No entanto, eu sempre faço novas experiências com diferentes combinações durante a sessão de treinamento (4-3-3, 4-4-1-1), porque eu quero que a equipe esteja pronta para jogar com outros sistemas se for necessário.
Ao jogar em um 4-4-2, a coisa mais importante é que os jogadores saibam seus papéis e responsabilidades e que os executem. Antes de cada partida, discutimos todas os funções e tarefas de cada um e em cada linha.
Nós também analisamos os adversários, os seus pontos fortes e fraquezas. Esta informação ajudará a nos preparar com a estratégia de jogo certo, sem comprometer a nossa abordagem e a nossa filosofia de jogar.
Universidade do Futebol – Na preparação para o jogo, como se delineam seus treinamentos? Há uma integração entre as partes técnica, física, tática e psicológica?
Roberto Landi – O foco principal em todas as minhas sessões de treinamento é o físico e trabalhar com situações reais de jogo. A fim de conseguir isso eu sempre tento trabalhar com toda a equipe ou com uma linha específica, pelo menos.
A razão para eu trabalhar com o grupo inteiro é porque a partir de minha experiência passada, eu aprendi que a equipe precisa ser treinada como uma estrutura compacta a fim de realizar a coordenação e cooperação. Quero que ela seja como uma sinfonia, em que todos os músicos conhecem e tocam a música harmoniosamente. Para isso eu treino posse de bola, técnica em equipe e muitos jogos reduzidos: focando em várias estratégias táticas. Esses exercícios são fundamentais, porque simulam a próxima partida.
Juntamente com o preparador físico, eu também foco muito no condicionamento físico dos jogadores. Estabilidade da cintura, resistência, velocidade e particularmente a forca explosiva são exercícios frequentes nas minhas sessões. O resultado é muito aparente, pois meus times são conhecidos por decidirem partidas (em nosso favor) nos últimos 15 minutos.
O preparador físico tem muita experiência no treinamento desportivo, e ele criou vários exercícios específicos de futebol para os nossos jogadores – raramente usamos a academia.
Durante as sessões de treinamento, eu preparo o jogador para a próxima partida, tentando fazer com que compreendam os pontos fortes e fracos do adversário, sem alterar a nossa própria estratégia. Tal abordagem permite-me trabalhar com todos os atletas disponíveis ao longo da semana e também tentar aumentar o valor dos reservas, pois todos têm um papel importante na equipe.
Manter todos os atletas focados e em boa forma mantém a equipe forte e unida com o objetivo geral. Além disso, eu também passo muito tempo na construção de um bom nível de confiança deles.
Bélgica, Escócia, Itália e Qatar foram alguns dos países pelos quais passou Landi, ex-atleta profissional e que iniciou na área técnica como preparador de goleiros
Universidade do Futebol – Como é realizada a montagem de sua comissão técnica? Há uma boa interação entre todos os profissionais do departamento de futebol?
Roberto Landi – Minha equipe é constituída por: um preparador físico, que é responsável por todos os aspectos físicos; um assistente técnico, que se concentra sobre a técnica individual de todos os jogadores durante a sessão de treinamento, com exercícios específicos e me ajuda com as táticas e estratégias para o jogo oficial. Por último, mas não menos importante, eu também tenho um treinador de goleiros que especificamente treina os atletas desta função.
Ter uma boa comissão técnica é importante para um treinador. Estou constantemente falando com meus assistentes durante as sessões de treino e os jogos sobre todas as áreas. Juntos analisamos os pontos fortes e fracos e vemos como podemos melhorar o individual e o coletivo.
Universidade do Futebol – É muito difícil ser treinador de uma seleção sem grande renome no cenário mundial?
Roberto Landi – Um bom treinador é aquele que consegue transformar os defeitos e as falhas de um jogador em qualidades valiosas. Com a seleção da Libéria, eu especificamente trabalho com os jogadores locais e continuamente os desenvolvo tática e tecnicamente.
Eu organizo um “teste” com todos os jogadores locais todos os meses do ano por cerca de uma semana e nós terminamos a semana de avaliações com um amistoso contra uma equipe local para ver o progresso.
Quando temos jogos oficiais da Fifa, eu reúno nossos melhores atletas de toda a Europa e os misturo com os locais. Durante a semana, eu tenho duas sessões de treinamento por dia – manhã e tarde. Normalmente, começamos na segunda-feira pela manhã após os jogadores locais terem atuado no campeonato, e eles voltam ao clube na sexta-feira para os compromissos do sábado ou domingo.
Antes, durante e após o treinamento eu faço tudo para motivá-los, trabalhando duro todos os aspectos de caráter individual, sempre tentando aumentar o nível de compromisso para cada jogo.
Na Libéria, Landi confere especificamente trabalho com os jogadores locais e continuamente os desenvolve tática e tecnicamente; testes com novos talentos são realizados
Universidade do Futebol – É possível elucidar uma semana de treinamento da sua equipe?
Roberto Landi – As sessões de treinamento são divididas em dois períodos: manhã e tarde.
Segunda de manhã (sessão física):
- 20 minutos de estabilidade da cintura
- 20 minutos de aquecimento com a bola (exercício técnico)
- 15 minutos de coordenação com os obstáculos pequenos
- 20 minutos de exercícios de velocidade com várias distâncias (máx. 30m)
- 10 minutos de alongamentoSegunda-feira à tarde (sessão tática):
- 20 minutos de aquecimento com bola (exercícios técnicos)
- 30 minutos de jogos reduzidos (5v5, 6v6, 8v8) com um, dois ou três toques para se acostumarem a jogar compactamente
- 30 minutos de 11v0: exercício tático para treinar movimentação da bola e posicionamento em diferentes situações
- 15 de minutos “rachão” livreTerça-feira pela manhã (sessão física):
- 20 minutos de estabilidade da cintura
- 20 minutos de aquecimento com bola (exercício em duplas)
- 12 minutos de resistência de velocidade com mudança de ritmo
- 20 minutos de treinamento em circuito
- 20 minutos de jogos reduzidos com no máximo dois toques
- 10 minutos de alongamentoTerça-feira à tarde (sessão tática):
- 20 minutos de aquecimento com bola (todos os tipos de controle e passe)
- 3x5 minutos de exercício de “pressing” 10v7 (equipe de 10 jogadores com um toque, a equipe com sete toques livres)
- 20 minutos 11v0 para a movimentação da equipe
- 20 minutos jogos reduzidos, com finalização rápida
- 10 minutos de alongamentoQuarta-feira pela manhã (sessão física):
- 20 minutos de estabilidade da cintura
- 20 minutos de aquecimento com bola (exercício livre)
- 30 minutos de finalização
- 20 minutos de treinamento de agilidade com bandeiras (postes)
- 10 minutos de alongamentoQuarta-feira à tarde (sessão tática):
- 20 minutos de exercício de aquecimento (jogo de handebol)
- 30 minutos de exercícios de treinamento da linha de defesa, meio-campo e ataque
- 2x jogos de 20 minutos de 10v10 (sem goleiros). Máx. Três toques para estimular o “pressing”Quinta-feira pela manhã (jogadas ensaiadas):
- 20 minutos de estabilidade da cintura
- 20 minutos de velocidade e agilidade
- 30 minutos de jogadas ensaiadas
-10 minutos de alongamentoQuinta-feira à tarde (jogo):
- Jogo amistoso de 90 minutosSexta-feira pela manhã (sessão de revisão):
- Revisão dos erros no amistoso e jogos anteriores
- 20 minutos de aquecimento para corrigir os erros
- 11v11 exercício de 20 minutos de posse de bola
- 10 minutos de alongamentoSexta-feira à tarde (sessão estratégica):
- 20 minutos de aquecimento com bola
- 20 minutos 10v0 para movimentação tática
(10 jogadores titulares)
- 20 minutos 10v10 para movimentação tática com o adversário
- 20 minutos de jogo livre 11v11
- 10 minutos de alongamento
Integração com a comissão técnica e desenvolvimento de jogos em campo reduzido: metodologia de treinamento de Landi procura se adequar à plataforma de preferência - o 4-4-2
Exercícios
1- 3v2Organização
• Tamanho do campo: 20x30 m
• Um goleiro
• Dois defensores
• Dois atacantes
• Um meio-campistaProgressão
• Os dois atacantes e um meio-campista jogam contra os dois defensores
• O defensor deve ler a situação e decidir se pressiona a bola ou faz a defesa em zona
• Joga-se por três minutos; em seguida, jogam as outras equipes
(tempo de recuperação de três minutos)
• Tempo de duração total: 15 minutos
Exercícios
2- 3v3+3Organização
• Tamanho do campo: 40x50m, dividido em três zonas
• Um goleiro
• Três defensores na zona 2
• Três atacantes na zona 1
• Três atacantes na zona 3 (área longa)Progressão
• Os defensores estão posicionados na zona 2, mas podem se mover livremente em todas as zonas
• Os três atacantes na zona 1 têm a bola e devem tentar dar a bola para os atacantes na zona 3. Os atacantes não podem sair de sua zona.
• Os defensores tentam impedir os atacantes da zona 1 de passar a bola para os atacantes da zona 3
• Quando a bola é passada para a zona 3 os defensores irão tentar impedir que os atacantes marquem o gol
• Joga-se por três minutos; em seguida, as outras equipes jogam
(tempo de recuperação de três minutos)
• Tempo de duração total: 21 minutos
Exercícios
3- 7v4Organização
• Tamanho do campo: metade do campo
• Equipe de 7: um goleiro, quatro defensores, um meio-campista, um atacante
• Equipe de 4: três atacantes, um meio-campistaProgressão
• Os quatro defensores têm que rapidamente pressionar a bola, tomar a posse e passar para o atacante do outro lado (= 1 ponto)
• A equipe de 4 tenta marcar no gol com o goleiro (= 1 ponto)
• Joga-se por quatro minutos, com um minuto de descanso
• Tempo de duração total: 20 minutos
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Sinopse
"Neste espaço encontra-se reunida uma coletânea dos melhores textos, imagens e gráficos sobre o futebol, criteriosamente selecionados e com o objetivo de contribuir para a informação, pesquisa, conhecimento e divulgação deste esporte, considerando seu aspecto multidisciplinar. A escolha do conteúdo, bem como o aspecto de intertextualidade e/ou dialogismo - em suas diversas abordagens - que possa ser observado, são de responsabilidade do comentarista e analista esportivo Benê Lima."
CALOUROS DO AR FC
sábado, dezembro 31, 2011
Roberto Landi, treinador da seleção da Libéria
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Benê Lima