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"Neste espaço encontra-se reunida uma coletânea dos melhores textos, imagens e gráficos sobre o futebol, criteriosamente selecionados e com o objetivo de contribuir para a informação, pesquisa, conhecimento e divulgação deste esporte, considerando seu aspecto multidisciplinar. A escolha do conteúdo, bem como o aspecto de intertextualidade e/ou dialogismo - em suas diversas abordagens - que possa ser observado, são de responsabilidade do comentarista e analista esportivo Benê Lima."

quarta-feira, março 28, 2012

Terceirização de atividade fim

Além de ilegal, é um péssimo negócio no longo prazo a quem o faz; exemplos, também de rivais, são vários
Geraldo Campestrini / Universidade do Futebol

De volta à velha casa: O Paraná voltou oficialmente a utilizar as dependências do Estádio Érton Coelho de Queiroz, a Vila Olímpica (foto), no Boqueirão, para realizar os treinamentos da equipe. Após uma reforma no complexo esportivo, que durou cerca de dois meses, o elenco tricolor retornou, ontem à tarde, a utilizar a antiga casa. A mudança da Vila Capanema para a Olímpica foi um pedido do técnico Ricardinho. Na atividade desta segunda-feira, o atacante Douglas, ex-Corinthians, que estava há um mês treinando com o grupo, foi apresentado oficialmente. O jogador foi artilheiro do Timão na Copa São Paulo deste ano e deve estar à disposição para o duelo do Tricolor contra o Ceará, pela segunda rodada da Copa do Brasil (Alan Costa Pinto/ Tribuna do Paraná)

(Alan Costa Pinto/ Tribuna do Paraná)

O tema desta semana guarda relação com a reportagem da Gazeta do Povo (talvez o principal jornal do Estado do Paraná), publicada no dia 20 de março com o título “Dívida atrela Paraná à Base por 10 anos”.

Explicando sinteticamente: o Paraná Clube terceirizou suas categorias de base há pouco mais de 4 anos para uma empresa chamada “Base”, que construiu um Centro de Treinamento e operava o seu departamento, trabalhando desde a captação de atletas, à formação e comercialização dos mesmos.

O modelo, que já foi testado inúmeras vezes em outros clubes no passado e nunca funcionou, parece, quase que invariavelmente, aos olhos dos dirigentes, algo espetacular: “ora, deixo de ‘gastar’ com os garotos e ainda ganho um troquinho lá na frente se um deles vingar. Transfiro o risco do negócio para terceiros e posso investir toda a minha ‘fortuna’ no time principal", pensam os “sabidões”.

Acontece que, depois de um tempo, começam a surgir conflitos de interesse. O investidor a querer se desfazer rapidamente dos primeiros talentos, para obter retorno financeiro rápido, passando a negociar atletas inclusive com clubes rivais. 

O clube a reclamar que os jovens atletas não são aproveitados na equipe profissional passando a pensar que poderia ganhar muito mais se tivesse preparado bem o processo de transição da base para o time de cima.

O resultado acaba sendo o mesmo em todos os casos que acompanhei: um grande passivo para o clube e um eterno recomeço para as categorias de base – lembrando que um trabalho decente e sério de formação de atletas tende a dar seus primeiros frutos a partir do seu 10º aniversário (fazendo um cálculo rápido para ilustrar: se identificarmos um potencial talento aos 10/12 anos, o mesmo será trabalhado ao longo do tempo até os seus 20/22 anos, quando tende a despontar na equipe profissional, completando o ciclo de 10 anos mencionado...).

Por fim, os dirigentes têm dificuldade em entender a importância das categorias de base além da venda de direitos federativos dos jogadores no futuro – negócio este que passa hoje por um período “conturbado” em razão da crise do mercado mundial e do início de um controle mais rígido da Uefa ante os clubes europeus, com a instituição do “Fair Play Financeiro”.

Investir em atletas tem um valor intangível fundamental, que vem desde a formação não só de jogadores, como também de novos torcedores no caso de o trabalho ser bem implementado com crianças e adolescentes.

Da mesma maneira, o atleta formado no clube tende a guardar uma relação emocional de maior valor com o mesmo, facilitando sua identificação com a torcida.

Enfim, terceirizar atividade fim, além de ilegal, é um péssimo negócio no longo prazo para quem o faz. Valendo lembrar que tenho acompanhado alguns noticiários de outros clubes de pequeno e médio porte a seguir a insana atitude de terceirizar um de seus maiores patrimônios: as categorias de base.

Ironicamente falando: talvez estes tenham dificuldade em acessar o “Google” para checar o que aconteceu consigo mesmo no passado ou com outros clubes coirmãos que acabaram por sucatear a formação de atletas para entes alheios a sua agremiação.


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Benê Lima