Sinopse

"Neste espaço encontra-se reunida uma coletânea dos melhores textos, imagens e gráficos sobre o futebol, criteriosamente selecionados e com o objetivo de contribuir para a informação, pesquisa, conhecimento e divulgação deste esporte, considerando seu aspecto multidisciplinar. A escolha do conteúdo, bem como o aspecto de intertextualidade e/ou dialogismo - em suas diversas abordagens - que possa ser observado, são de responsabilidade do comentarista e analista esportivo Benê Lima."

quinta-feira, abril 03, 2008

EU NÃO SOU; TU ÉS; E OS OUTROS?


Sobra frouxidão, falta resolução

Uma análise da situação da nossa arbitragem e outras coisas mais

Uma análise da situação da nossa arbitragem nos conduz a caminhos que, se a impressão não nos trai fatalmente nos levarão a dar de cara com problemas de diferentes naturezas.

Primeiro são os problemas intrinsecamente ligados à falta de estrutura da CEAF, que não tem condições para dotar o nosso quadro de árbitros e assistentes de uma preparação condizente com as atuais exigências da profissão.

A seguir vem a falta de uma atitude firme do comando da própria CEAF, que não transfere para seus comandados a confiança indispensável para que eles se sintam prestigiados e seguros.

Segue-se a fragilidade da representação do órgão que congrega a categoria, o SINDARF-CE – Sindicato dos Árbitros de Futebol do Estado do Ceará, que nem consegue unir a categoria para fortalecê-la politicamente, nem mobilizá-la em torno das reivindicações que se fazem necessárias.

Nesta espécie de féretro, compõe o cortejo a LIGAFFI (Liga dos Árbitros de Futebol de Fortaleza e Interior) como adversária política do SINDARF – CE. Isso finda por enfraquecer a categoria, criando espaços para uma retórica acromática como a utilizada por Dacildo Mourão em seu discurso contra Marcos Brasil, proferido em 16/07/2004.

Enquanto isso, a Federação Cearense de Futebol (FCF) age doutrinariamente tal qual o MST (Movimento dos Sem Terra), e segue abocanhando não só as taxas e sobretaxas, mas também a fama, o status e o poder arrevesado. Tanto que, não só a obtusidade do torcedor, mas também a de alguns cronistas faz menção à ‘ceaf da federação’, ao ‘tjd da federação’, e assim por diante.

Mas é preciso que dirijamos algumas palavras também a torcedores por excelência e a radialistas-torcedores, para adverti-los quanto ao aspecto humano e passível a erro de árbitros e assistentes. Matizar os indefectíveis erros de arbitragem com as cores das bandeiras dos clubes é no mínimo leviano. A construção de uma falsa premissa que atribui importância vital ao clube para o qual a pessoa torce, para desqualificá-la ou impedi-la, constitui uma atitude protofascista a que se há de deplorar.

Temos percebido tomando corpo um discurso cínico de quem não tem convicção de que está certo. Ele dá conta de que, quem pertence ao meio futebolístico teve e tem um clube pelo qual torce, como se isso fosse o mais importante. Ora, se o fato de torcer por um clube me idiotiza e me imbeciliza, a ponto de eu não mais conseguir viver sob a égide da razão, estarei diante de um sério dilema, para o qual só há duas saídas: ou deixo de torcer ou largo a minha profissão.

Ninguém é obrigado a acreditar, mas como não sou melhor que ninguém e pude abstrair de minha condição de analista a minha condição antes prevalecente de espectador-torcedor, porque outros tantos não têm capacidade para também fazê-lo? Não creio que suas condições de primeiro torcedores e depois espectadores os faz assim tão diferentes e passionais. É tudo uma questão de autodisciplina.

Ademais, o que eu ganharia defendendo com parcialidade e sectarismo clube A ou clube B? No que me beneficiaria o embotamento da minha mente? Se não sou candidato a dotações corruptas, a integrar ‘esquemas’, a vender minha alma, a ser marionete de cartola, o que quereria eu para mim cultivando e privilegiando uma condição de torcedor?

Avoco-me somente o direito de ter preferências pontuais, porque haverá momento que, para minha condição de analista, será lícito, inteligente e construtivo torcer por A; noutro, mais apropriado será torcer por B; porém, casos haverá que o interesse nem de A, nem de B, nem de C coincidirá com os melhores interesses do cronista.

Desindexar-me da condição de torcedor sectário foi para mim tarefa relativamente fácil. Afinal, o futebol é uma prática ancestralmente recentíssima; já minha relação com ele invoca certo atavismo. Trocando em miúdos: antes de ter sido torcedor, fui e sou espectador. Além disto, represento preferentemente meus interesses, os interesses de minha família, os interesses sociais da sociedade a que pertenço, os mais elevados interesses da comunicação social para só depois –- aí sim – representar os interesses desse ou daquele clube. Como vêem, jamais fui modelo de torcedor. Fui criado indo a jogos como quem vai ao teatro, ao cinema ou a qualquer espetáculo em que a boa educação estivesse presente. Que culpa tenho eu?

Se fizer bem a determinadas figuras da crônica esportiva dividir comigo e com outros mais, aquilo que eles carregam e que os faz sentirem-se incomodados, apequenados e em erro, não tem problema. Afinal, conheço a lógica desse tipo de pensamento, que não é outra senão a de que “o outro não é melhor que eu”. (Ledo engano!)



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Benê Lima