Por: Benê Lima
ABORDAGEM DA VIOLÊNCIA NO FUTEBOL: UMA MIXÓRDIA
“Enquanto não buscarmos entender a maneira de abordar e enfrentar a violência das uniformizadas, vulgo ‘organizadas’, não sairemos do confuso discurso antiviolência.” (Benê Lima)
Torcedores da Gaviões presos na Bolívia. Foto: Portal Uol
Ao acompanharmos os desdobramentos do episódio no qual estiveram envolvidos integrantes da torcida corintiana Gaviões da Fiel, que culminou com a morte de um menor boliviano, deparamos-nos com um variado repertório de abordagem da questão, com algumas opiniões abalizadas e com um sentimento generalizado de repúdio das pessoas à violência em torno do futebol. Por outro lado, também temos nos deparado com uma desorganização mental e de ideias que beiram o caos verbal, e que em nada contribuem para a evolução do debate a respeito do tema violência.
Ninguém é obrigado a ter conhecimento do direito ao ponto de firmar posição segura e contributiva nesse debate. No entanto, há que se ter um mínimo de organização em termos do que se quer comunicar, e para isso não se pode prescindir de grau relevante de raciocínio lógico e analítico. Se não for assim, não vale a pena repercutir ideias que só confundem e nada esclarecem. Portanto, a visão crítica que tanto clarifica e esteriliza o debate, deve permear a tudo que esteja direto ou indiretamente ligado ao caso, bem como a todos que dele se apropriem como fonte de atuação, seja para opinar seja para sobre ele deliberar.
Violência contra o patrimônio público em 11 de novembro de 2012 – Foto: Globo.com
Não vejo dificuldade em se traçar uma linha lógica e estratégica para apuração deste caso, que passe pela definição e delimitação do que seja a abordagem técnico-científica da investigação policial, e do que seja da competência da Justiça Desportiva. E, neste particular, a própria CONMEBOL precisa deixar de lado o oportunismo e o casuísmo de decisões pretensamente moralizadoras, para ater-se a corrigir sua histórica omissão, sobretudo em relação aos meandros da longeva Libertadores. A esse respeito, neste mesmo evento tivemos uma série de irregularidades para as quais não vimos a merecida repercussão, em razão de um incidente reconhecidamente de maior proporção, mas que não deveria estar ofuscando a sabida omissão da entidade de administração do futebol na América do Sul.
A justiça não está para ser movida por software. A condição humana sempre será fator essencial e insubstituível na tomada de suas decisões. Logo, há que se refletir, analisar, interpretar e deliberar com todo o conteúdo multidisciplinar que envolve qualquer decisão. Para que haja delito ou infração, há que estar presente o fator da pessoalidade. Portanto, qualquer punição que alcance a totalidade de uma agremiação é, por sua natureza de generalidade, excessiva, exagerada, configurando assim não justiça, mas injustiça.
Em contraposição ao que sustentamos, precisamos aperfeiçoar e melhor contextualizar as medidas punitivas às pessoas físicas, bem como nos livrar do fantasma da impunidade oriunda na falta de operacionalização da justiça. Contudo, não devemos confundir combate à impunidade com a proliferação de medidas (penas) que sirvam apenas de atendimento a uma satisfação doentia de parte da sociedade.
Já não é um vislumbre a necessidade de qualificação da imprensa esportiva. Ela é real. À medida que as exigências de um esporte globalizado e ‘complexizado’ se fazem sentir, nada mais essencial para os profissionais que fazem essa cobertura do que contarem com o apoio multidisclinar. E isto não precisa se dar pela especialização. A extensão já seria suficiente.
Todo discurso com mediano embasamento retórico, independente de sua fragilidade dialética, já carrega em sua entranha certo poder de persuasão e uma pitada potencial e sub-reptícia de tentativa de alienação. Portanto, são tarefa e precondição da comunicação social e não favor, o exercício de um jornalismo em que a informação seja verdadeira, esclarecedora e axiologicamente relevante, e não geradora de conflitos e do caos verborrágico.
Todo veículo de comunicação, a partir dos de médio porte, deveriam prover suas redações de pelo menos um profissional que se dedicasse à compreensão e análise dos temas de maior complexidade à luz das ciências humanas, para que deles pudéssemos obter clarificação e maior depuração dessas complexidades. Assim, evitar-se-ia o surgimento de falsas eminências pardas nos veículos de comunicação. Embora tal medida não resolvesse de todo tais problemas, em razão da prática do colunismo, ainda assim diminuiria o caos verbal que o meio virtual ‘subutilizado’ tem ajudado a construir.
Saudemos a boa comunicação, e nos insurjamos contra a comunicação ruim e seus efeitos.
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Benê Lima