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"Neste espaço encontra-se reunida uma coletânea dos melhores textos, imagens e gráficos sobre o futebol, criteriosamente selecionados e com o objetivo de contribuir para a informação, pesquisa, conhecimento e divulgação deste esporte, considerando seu aspecto multidisciplinar. A escolha do conteúdo, bem como o aspecto de intertextualidade e/ou dialogismo - em suas diversas abordagens - que possa ser observado, são de responsabilidade do comentarista e analista esportivo Benê Lima."

terça-feira, fevereiro 12, 2013

Manutenção da posse da bola no campo de ataque: diferenças entre o FC Barcelona de Guardiola e do FC Barcelona pós Guardiola

Entenda por que certos padrões não se sustentaram facilmente e espontaneamente com a troca de treinadores
Rodrigo Azevedo Leitão / Universidade do Futebol
 

Para os que acompanham ou estudam futebol europeu a mais tempo, quando o FC Barcelona venceu o Santos na final do Mundial de Clubes da Fifa 2011, nenhuma surpresa emergiu daquele belo, contagiante e eficaz futebol.

Para os que viam pela primeira vez a equipe catalã, inevitável o êxtase futebolístico.

Uma equipe rápida na transmissão da posse da bola, com grande voracidade para recuperar-la, de pouquíssimos erros de passe, um tempo em sua posse, impressionante e além de tudo, baixa (em estatura).

O treinador na época, Josep Guardiola.

O tempo passou, o FC Barcelona mudou de treinador e aumentou a expectativa para saber se aquele esplendoroso time na forma de jogar era um Barcelona de Guardiola, ou se Guardiola é que era um treinador de Barcelona.

A dúvida que pairava entre linhas, sobre a contribuição do treinador para o “jogar” da equipe, poderia se extinguir com a sua saída – bastaria para isso continuar acompanhando os jogos da equipe catalã.

Pois bem.

O tempo passou, e muitos jogos depois algumas constatações podem ser feitas.

A primeira delas é de que sobre o Modelo de Jogo, em sua essência, nada de muito diferente – e o que se apresenta diferente, talvez seja mais resultado de uma auto-organização coletiva por parte dos jogadores do que de uma concepção diferente para se jogar.

De qualquer forma, é sobre uma dessas diferenças que pretendo debater rapidamente.

E ela trata exatamente de algo que na essência parece não ter mudado, mas que na forma e conteúdo tem lá algumas alterações: falo da manutenção da posse da bola no campo de ataque da equipe do FC Barcelona.

De maneira geral, o time de Guardiola e o time pós Guardiola, apesar de manterem a posse da bola como característica, apresentam algumas coisas que merecem destaque. Especialmente, porque o Barcelona pós Pep parece ter que se esforçar mais para atingir melhores níveis de jogo, com relação a esse quesito, do que o de Pep (Guardiola).

Uma das coisas que mudou tem relação com a diferença na estruturação dos espaços por parte dos jogadores, no momento de compor a geometria da equipe no campo de ataque para tentar circular a bola.

No pós Guardiola, ainda que o esquema tático matriz continue sendo o 1-4-3-3 (variando bem menos para o 1-3-4-3), já no campo de ataque e em organização de posse de bola, ele se transforma dinamicamente em um 1-2-4-1-3 que varia para um 1-2-3-1-4.


Nesses esquemas (1-2-4-1-3 e 1-2-3-1-4), há uma aparente preocupação em tentar construir mais solidamente um 1-2-4-4; porém por vezes a linha do meio e por vezes a linha de ataque “cedem” um de seus jogadores para fazer o “1” entre elas.


Em geral, a linha de ataque de quatro jogadores se constrói com os atacantes e um dos laterais e/ou um dos meias.


Há, porém, no Barcelona pós Guardiola uma dificuldade maior para circular a bola de um lado ao outro do campo sem que ela tenha que passar pelos zagueiros da equipe.

Isso de certa forma aumenta a dificuldade para que a equipe encontre vantagem numérica pelas laterais do campo em jogo apoiado – gerando maior necessidade de que os zagueiros apostem em diagonais mais longas para os jogadores da “amplitude” da equipe.


A necessidade de utilizar os zagueiros com mais frequência acaba baixando muito o jogo da equipe – exigindo maior movimentação vertical de meias, volante, laterais e atacantes.


A posição do “volante” da equipe, seja talvez a mudança estrutural mais importante, por que sua entrada na linha de quatro jogadores do meio campo força muitas vezes a circulação para trás (para os zagueiros) quando a bola está com um dos laterais, ou que eles tentem passes de maior risco buscando pelos meias da equipe.

Na “era Guardiola”, o esquema tático matriz também era o 1-4-3-3 (variando bastante para o 1-3-4-3). No campo de ataque e em organização de posse de bola, uma estrutura bem dinâmica, a partir de um 1-2-1-4-3 variando para um 1-2-1-3-4.

E aí já se evidencia uma grande diferença, porque o “1” nesse caso é uma posição entre a linha dos dois zagueiros e da linha de meio, de três ou quatro jogadores (e não entre a linha do meio e de ataque).

Claro que como a linha de ataque varia entre três e quatro jogadores (1-2-1-4-3 ou 1-2-1-3-4), há uma chance permanente de um jogador transitório estar entre essas linhas quando está trocando de uma para outra.


É importante então destacar que o FC Barcelona de Guardiola conseguia mais facilmente manter a bola no campo de ataque, circulando-a sem ter que baixar demais sua linha, justamente pela preocupação posicional com jogador na função/posição de volante.


A ocupação do espaço do “volante” também garantia maior mobilidade e troca de posições entre zagueiros e o próprio volante – algo muito mais frequente na “era Guardiola”.


A equipe de Josep Guardiola, sempre com muita amplitude na ocupação do espaço de jogo, tratava dessa variável como responsabilidade direta dos laterais e ou meias para dar mais liberdade aos atacantes, tanto do lado da bola quanto o do lado oposto a ela.

Apesar do FC Barcelona pós Pep também fazer uso dos laterais e meias na amplitude da equipe, ele (o uso) se dá mais na região da intermediária ofensiva do que na segunda metade (metade final) do campo de ataque.


A possibilidade direta de contar com laterais e meias trocando de posição para dar amplitude a equipe possibilitava também ao FC Barcelona de Guardiola uma incrível mobilidade por parte dos atacantes (horizontalmente falando) e dos próprios meias entre si.


A disposição diferente para ocupar o espaço do campo de ataque em posse de bola para circulação, na equipe de Guardiola, conseguia pelo tipo de interação e proximidade setorial entre os jogadores, também ter uma transição defensiva mais agressiva e efetiva - já que muitas vezes permitia a equipe recuperar a bola no campo de ataque e ainda mantê-la por lá (sem sobrecarregar demais, especialmente os laterais do time).

Claro, como mencionei no início, o Modelo de Jogo do FC Barcelona, com ou sem Guardiola, continua sendo, em sua essência, o mesmo – especialmente pela bem definida Filosofia de Jogo do clube.

Mas que as coisas mudaram, mudaram.

Esse foi só um pequeno exemplo, que pode nos ajudar a entender por que certos padrões não se sustentaram facilmente e espontaneamente com a troca de treinadores.

Vamos agora esperar o Guardiola no alemão Bayern de Munique e ver o que acontece.

Por hoje é isso...
 

Para interagir com o autor: rodrigo@universidadedofutebol.com.br

Tags: barcelona , Pep Guardiola , sistemas , Plataforma de jogo , Setor Técnico , rodrigo leitão ,Filosofia , modelo de jogo , Princípios Operacionais do Jogo , organização , Sistema defensivo ,sistema ofensivo , Posse de Bola

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