Mauricio Murad: As práticas de violência são cada vez mais preocupantes no Brasil. No exterior ainda é pior, mas a grande diferença é que lá há punição. O maior problema do Brasil, em todos os setores, é mesmo a impunidade. O nosso entrevistado da semana é Maurício Murad, professor de Sociologia dos Esportes no programa…
Mauricio Murad: As práticas de violência são cada vez mais preocupantes no Brasil. No exterior ainda é pior, mas a grande diferença é que lá há punição. O maior problema do Brasil, em todos os setores, é mesmo a impunidade.
O nosso entrevistado da semana é Maurício Murad, professor de Sociologia dos Esportes no programa de mestrado da Universidade Salgado de Oliveira (UNIVERSO) e professor aposentado da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ). Murad é também autor de diversas obras publicadas internacionalmente, entre elas o livro ‘Para entender: A violência no futebol’, lançado em 2012. Em entrevista ao Instituto Avante Brasil, o estudioso apresenta um panorama do cenário futebolístico e do comportamento das torcidas – organizadas ou não. Segundo Murad, a violência no mundo do futebol está intimamente ligada ao envolvimento de integrantes das torcidas com o crime organizado e ao acesso às drogas, às tecnologias e à internet.
Confira abaixo as observações do sociólogo sobre a violência no mundo do esporte e os principais avanços e desafios para a promoção de uma cultura de paz entre as torcidas.
Instituto Avante Brasil (iAB) – Qual a explicação sociológica para a violência no futebol?
Mauricio Murad – Razões macro sociais: pobreza, impunidade, falta de políticas públicas, baixo índice de educação e grau de cidadania, violência histórica e estrutural do país. Micro: policiamento despreparado, para agir em grandes multidões, precárias redes de transporte, especialmente na saída dos estádios, álcool e drogas, conivência dos clubes e federações, corrupção policial, falta de medidas preventivas e ineficiente aplicação das leis existentes.
iAB – Existe um levantamento de quantas pessoas já foram vítimas desse tipo de violência no Brasil em 2012, por exemplo?
Mauricio – Os números de 2012 ainda não foram fechados, mas podemos adiantar que, infelizmente, bateremos um novo recorde de mortes, em decorrência de conflitos entre grupos de torcedores.
iAB – Qual a parcela de responsabilidade das torcidas organizadas no que diz respeito à violência dentro e fora dos estádios?
Mauricio – Os violentos são parcelas minoritárias, mas perigosas, das torcidas. É preciso que o poder público faça parcerias com os setores pacíficos das torcidas organizadas a fim de neutralizar a ação dos vândalos e, a partir dessa aproximação, cobrar responsabilidades.
iAB – De que forma os excessos em meio de campo contagiam as arquibancadas?
Mauricio – Nossas pesquisas, primeiro na UERJ e agora no Mestrado da Universo, comprovam que, desde 1990, as práticas de violência dentro das “quatro linhas” exercem forte influência nas arquibancadas e também fora delas.
iAB – A cultura de violência no Brasil é cada vez mais evidente e, no futebol, isso não é diferente. De acordo com seus estudos comparativos no exterior, o que diferencia os torcedores do Brasil com os fãs de futebol em países de primeiro mundo?
Mauricio – As práticas de violência aqui são cada vez mais preocupantes. No exterior ainda é pior, mas a grande diferença é que lá há punição. O maior problema do Brasil, em todos os setores, é mesmo a impunidade.
iAB – Como seria o modelo ideal de torcida organizada. Isso é possível no Brasil?
Mauricio – Não existe um modelo ideal de torcida. As torcidas são coletivos espontâneos da chamada ‘cultura popular’ e devem preservar essa identidade. Agora, devem cumprir a lei e ajudar a construir medidas de caráter reeducativo, para que no futuro essa violência existente esteja sob controle social.
iAB – A tecnologia, sobretudo as redes sociais, contribuem para multiplicar a violência nos estádios?
Mauricio – Sim. Os conflitos são marcados pelas redes sociais. Todos sabem disso, principalmente a polícia, que deveria monitorar e controlar esses grupos de delinqüentes. Repito: minoritários, mas perigosos.
iAB – É relevante o crescimento da violência nos estádios em períodos de grandes campeonatos e eventos esportivos?
Mauricio – As grandes competições levam um número maior de gente aos estádios, a rivalidade fica mais acentuada e, portanto, o caldo cultural propício à violência fica mais agudo.
iAB – Quais são os principais desafios para acabar com a violência no mundo do futebol?
Mauricio – Elaborar um plano nacional de segurança futebolística, com três grandes conjuntos de medidas interligadas: a punição no curto prazo, a prevenção no médio e a reeducação no longo prazo.
iAB – O Brasil está prestes a receber dois grandes eventos esportivos de grande porte, a Copa do Mundo e as Olimpíadas. O que pode ser feito pelo Governo no sentido de prevenir atos de violência durante esses acontecimentos?
Mauricio – São duas grandes oportunidades, que o país não tem o direito de perdê-las. A visibilidade internacional, as chances de novos investimentos, o legado social, enfim. Tudo passa pelo planejamento e execução de um programa nacional de segurança, nos moldes da resposta anterior. Tanto a FIFA (Federação Internacional de Futebol) quanto o COI (Comitê Olímpico Internacional) destacam a segurança como o “carro-chefe” do planejamento de seus megaeventos esportivos.
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Benê Lima