Sinopse

"Neste espaço encontra-se reunida uma coletânea dos melhores textos, imagens e gráficos sobre o futebol, criteriosamente selecionados e com o objetivo de contribuir para a informação, pesquisa, conhecimento e divulgação deste esporte, considerando seu aspecto multidisciplinar. A escolha do conteúdo, bem como o aspecto de intertextualidade e/ou dialogismo - em suas diversas abordagens - que possa ser observado, são de responsabilidade do comentarista e analista esportivo Benê Lima."

sexta-feira, março 29, 2013

Por que estádios tão vazios? 17 motivos para não ir aos jogos

Futebol tem que disputar mercado com outras opções de entretenimento, num mundo onde a preocupação em atender bem ao consumidor é a regra
Fernando Pinto Ferreira*
 

Estádios vazios

Cada vez mais longe dos estádios

Nesta série, em que a Pluri analisa a crise de público nos estádios brasileiros, chegou a hora de abordar as principais razões para o problema. Acreditamos firmemente que analisar o impacto de cada um desses fatores é fundamental para uma melhor compreensão do problema, permitindo assim que se proponham soluções mais eficientes.

Nossos relatórios anteriores mostraram que a média de público no futebol brasileiro como um todo anda abaixo de 4,6 mil torcedores por jogo, que vão desde o Brasileirão da Série A com 13 mil pessoas em média, até os campeonatos estaduais e suas quase 3 mil testemunhas por jogo.

Essa é uma situação grave, um risco real ao futebol do país, e não há como negar que por trás deste problema há um pressuposto equivocado cultivado por anos dentro dos clubes, de que a paixão pelo futebol faz com que o torcedor aceite qualquer desaforo para ver de perto o seu time do coração.

No passado isso poderia se justificar, mas a realidade mudou, e hoje o futebol tem que disputar mercado com outras opções de entretenimento, num mundo onde a preocupação em atender bem ao consumidor é a regra.

Infelizmente, chegamos a um ponto em que vários fatores agem para manter os torcedores longe dos estádios, e resolver um ou outro fator isoladamente não trará o torcedor de volta, é preciso atuar de forma ampla, sob todos os aspectos. A seguir estão os 17 principais motivos que identificamos, divididos entre os de alto impacto e os de médio e baixo impacto:

Fatores de alto impacto sobre o público

o Violência

– A cada problema de segurança dentro ou fora dos estádios, piora um pouco mais a imagem do futebol como alternativa de entretenimento. E nesse cenário é justamente a família, o melhor perfil de público-alvo, a que mais se afasta;

o Preço dos ingressos

– Nos últimos anos o preço dos ingressos disparou no Brasil, enquanto a qualidade do produto entregue ao torcedor (cliente) permaneceu muito ruim. E com o aumento da oferta (maior número de jogos) decorrente de um calendário ruim, a situação se agrava. Existe uma correlação direta (beta) entre o aumento dos preços e a queda do público médio nos estádios mas, paradoxalmente, quanto mais vazio fica o estádio, mais o preço do ingresso sobe. É uma estranha forma que o futebol brasileiro encontrou de revogar a lei da oferta e procura

o Qualidade dos estádios

– A nova geração de estádios mudará o nosso cenário em termos de equipamentos. Porém, considerando as arenas inauguradas recentemente, continuamos com o mesmo padrão de serviços de sempre;

o Oferta de pay per view

– Não há como negar que a possibilidade de assistir a vários jogos com conforto, comodidade e segurança, próximo aos amigos e à família são vantagens que o pay-per-view oferece em relação à ida ao estádio, principalmente a um custo próximo a R$ 70/mês. Porém, não podemos esquecer que a TV paga a os clubes por este direito de transmissão, cabendo a eles calcular se o que recebem por isso compensa a perda de receita resultante da fuga do torcedor;

o Outras opções de entretenimento (cinemas, teatro, bares, praia, etc)

– No passado, ir ao jogo de futebol era uma das poucas alternativas de diversão para boa parte da população, um dos motivos a explicar os grandes públicos de décadas atrás. Hoje o futebol está sob ataque claro de diversas outras formas de entretenimento, geridas de forma muito mais profissional e orientadas a oferecer ao cliente o máximo possível como experiência de lazer. E na medida em que o preço do ingresso aumenta, o futebol disputa justamente o público que mais tem opções de entretenimento para consumir;

o Pouca importância dos jogos

– Com competições extensas e pouco atraentes (estaduais) a maior parte dos jogos tem pouca importância, concentrando a atenção dos torcedores dos principais times (os que tem mais torcida) apenas nos jogos decisivos;

o Baixa qualidade / tradição do adversário

– Com campeonatos que misturam equipes profissionais com semi profissionais (estaduais), os torcedores escolhem ir apenas aos jogos de qualidade menos ruim;

o Nível de competitividade do time local / má posição na tabela

– Fase ruim, estádio vazio. Essa é uma máxima para a maior parte dos clubes, provando que a ida ao jogo de futebol não é vista pelo torcedor como uma experiência plena de entretenimento. Nesse ponto, nada melhor do que se espelhar nos esportes americanos.

Fatores de Médio e Baixo impacto sobre o público 

o Horário dos jogos

– é certamente um fator negativo, mas a quantidade de jogos que ocorrem fora do horário convencional é relativamente pequena em relação ao total de jogos, portanto seu impacto sobre a presença total de público nos estádios é menor do que parece;

o Dificuldade na compra de ingressos

– Um bom castigo para o torcedor é enfrentar filas intermináveis para comprar ingressos, prática medieval em pleno século XXI. E o que dizer de comprar pela internet e depois ter que entrar numa fila para pegar o ingresso? Tem isso!;

o Acesso ruim ao estádio (incluindo localização, acesso e trânsito no entorno) – Muitos estádios não sofrem deste problema, mas em alguns certamente é um fator que faz o torcedor pensar 10 vezes antes de ir ao jogo;

o Oferta de Meios de transporte

– Em alguns estádios, a baixa oferta de meios de transporte que acessam o estádio desestimula a ida do torcedor. A situação se agrava nos jogos que iniciam mais tarde;

o Oferta de estacionamento (custo, quantidade de vagas e proximidade)

– Nada pior do que ir a um jogo tendo que pagar caro para deixar o carro longe, e sob os cuidados de flanelinhas, que simplesmente estão ali para cobrar um “pedágio” do torcedor;

o Oferta de alimentação

– Você conhece algum lugar onde se coma tão mal, pagando tanto, como um estádio de futebol?;

o Oferta de serviços

– Ao contrário do que ocorre na Europa e EUA, a oferta de produtos e serviços disponível para o torcedor é pequena, diminuindo a “atmosfera de jogo” que por si só seria um atrativo para o torcedor;

o Clima 

– O problema afeta principalmente as cidades mais frias e chuvosas, em especial em estádios que não são preparados para dar ao torcedor o conforto que ele teria, por exemplo, se assistisse ao jogo em
sua casa;

o Excesso de jogos na TV

– A overdose de jogos tem o seu efeito, mas a maioria das partidas que passa na TV (campeonatos europeus, jogos de seleções, etc) acontece em horários diferentes dos campeonatos pelo país, o que reduz o impacto deste fator sobre a ida de público aos estádios.

*Economista, Especialista em Gestão e Marketing do Esporte e Pesquisa de Mercado.

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Um comentário:

  1. Essa questão do horário onde temos jogos cada vez mais tarde , falta transporte público pra atender o torcedor após o jogo , a segurança nas ruas na volta , além de serem em dias úteis , onde o torcedor precisa acordar cedo pra ir ao trabalho , tudo isso Bené leva a crer que querem cada vez mais afastar o torcedor do estádio pra vender o Pay Per View.

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Benê Lima