Sinopse

"Neste espaço encontra-se reunida uma coletânea dos melhores textos, imagens e gráficos sobre o futebol, criteriosamente selecionados e com o objetivo de contribuir para a informação, pesquisa, conhecimento e divulgação deste esporte, considerando seu aspecto multidisciplinar. A escolha do conteúdo, bem como o aspecto de intertextualidade e/ou dialogismo - em suas diversas abordagens - que possa ser observado, são de responsabilidade do comentarista e analista esportivo Benê Lima."

quinta-feira, outubro 11, 2012

Quanto o Corinthians perde com o irracional calendário do futebol brasileiro

Com jogos em horários e dias inadequados, os clubes do país deixam de ganhar muito dinheiro, que poderia ser utilizado, em boa parte, para sanar suas estratosféricas dívidas
Luis Filipe Chateaubriand* / Universidade do Futebol

Como se sabe, o calendário do futebol brasileiro é uma aberração. Esta aberração custa caro aos grandes clubes brasileiros. O Corinthians, principal clube arrecadador do futebol brasileiro, parecer ser um dos grandes prejudicados.

Imagine-se um calendário decente, racional. Neste calendário, o Campeonato Brasileiro seria jogado, em suas 38 rodadas, sempre aos fins de semanas (sábados/domingos).

Seria jogado com adaptação ao calendário europeu, ou seja, de agosto de um ano a maio do ano seguinte. Seria jogado, também, apenas em fins de semanas em que a seleção brasileira não jogasse.

E qual seria o resultado destas mudanças?

Em primeiro lugar, cresceriam as receitas oriundas da televisão. Com o campeonato sendo disputado entre agosto e maio, como é em todo mundo civilizado do futebol (menos no Brasil), aumentaria o interesse das televisões estrangeiras pelo produto. Com isso, a Rede Globo poderia auferir receitas muito maiores com o repasse de direitos de transmissão a televisões estrangeiras.

Digamos que isso gerasse, de acréscimo na receita da Rede Globo, 10% do montante arrecadado. Por extensão (e coerência) cada grande clube teria 10% a mais em cotas televisivas. Como se especula que o Corinthians recebe R$ 120 milhões da televisão por temporada, isso significaria passar a receber R$ 132 milhões – um aumento de R$ 12 milhões.

Em segundo lugar, cresceriam as receitas de patrocínio. Óbvio está que, com mais jogos de importância disputados em datas nobres, os patrocinadores têm maior visibilidade de suas marcas. Assim, devem pagar mais pelos patrocínios.

Imaginem, assim, uma alta das cotas de patrocínio em 15 % nos valores anuais. Dizem que o Corinthians arrecada, com patrocínios, cerca de R$ 40 milhões por temporada. Assim, esse número cresceria para R$ 46 milhões de reais – um acréscimo de R$ 6 milhões.

Em terceiro lugar, aumentariam as receitas de bilheteria. Com jogos do Brasileiro só aos fins de semanas, a média de público pagante do time do Parque São Jorge poderia ser acrescida em, aproximadamente, 10 mil pagantes por jogo.

Ora, 10 mil pagantes a mais por jogo, ao preço médio do ingresso de R$ 30 e com 19 jogos com mandante no Nacional, dão um acréscimo de R$ 5,7 milhões em relação ao usual. Isso sem aumentar os custos – a maioria dos gastos de jogos é relativa à manutenção do estádio, custo fixo, que já existe mesmo quando as médias de público são baixas.

Se estamos dizendo que o Corinthians pode crescer em R$ 12 milhões por temporada com a sua receita de televisão, se estamos dizendo que o clube paulista pode aumentar em R$ 6 milhões por temporada sua receita de patrocínios, se estamos dizendo que a diretoria corintiana pode crescer R$ 5,7 milhões por temporada a sua receita de bilheteria, estamos dizendo, na verdade, que o Corinthians pode arrecadar a mais do que usualmente R$ 23,7 milhões por temporada – ou R$ 1,975 milhões a mais a cada um dos 12 meses da temporada. Nada mal, né?

Cabe acrescentar que esta perspectiva de aumento de receita para o clube é conservadora: os acréscimos poderiam ser ainda maiores com a boa organização das outras competições, além do Campeonato Brasileiro.

Neste texto, citamos apenas o Corinthians, recordista de arrecadação do futebol brasileiro. Mas o mesmo raciocínio vale para os três outros grandes clubes de São Paulo, os quatro grandes clubes do Rio de Janeiro, os dois grandes clubes mineiros, os dois grandes clubes gaúchos, e até para clubes com expressão um pouco menor.

Ao se deixar de ter um calendário decente no futebol brasileiro, os clubes de maior expressão deixam de ganhar muito dinheiro – quantia esta que poderia ser utilizada, em boa parte, para sanar suas estratosféricas dívidas.

Como diria o adágio popular, "jogar dinheiro pela janela" não é bonito, não.

* Luis Filipe Chateaubriand é autor do livro "Futebol Brasileiro: Um Novo Projeto de Calendário"

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Benê Lima