Na última semana, dois casos peculiares expuseram a relevância dos gramados para a realização de uma partida de futebol. Em um dos deles, em São Paulo, região atacada por fortíssimas chuvas na madrugada de sábado, o duelo entre Palmeiras e Sertãozinho, válido pelo Estadual, teve de ser adiado.
A condição do campo do estádio Palestra Itália era deplorável. Razão pela qual a própria direção alviverde pediu para que a Federação Paulista de Futebol (FPF) fizesse uma averiguação no local. Por volta do meio-dia, o anúncio de postergação da data para a segunda-feira.
“Quem tem o direito de adiar a partida é a federação. O clube pode só apontar o risco. Alertamos o risco de o jogo acontecer com um estado muito ruim do gramado, como contra a Portuguesa”, explicou o presidente do Palmeiras, Luis Gonzaga Belluzzo, em entrevista à Rádio Eldorado.
“A conclusão foi de que era melhor adiar também para impedir riscos de contusão”, complementou o mandatário, que viu sua equipe vencer por 3 a 2, de virada, no jogo realizado na moderna Arena Barueri.
O que forçou a mudança também do palco da partida foi o fato de que o estádio palmeirense será preparado para receber o show da banca de rock Guns n'Roses no próximo sábado. Uma realidade comercial das grandes praças esportivas, como o Morumbi, propriedade do rival São Paulo.
Na estreia da equipe tricolor na Libertadores da América deste ano, tal fator “contribuiu” para o desempenho irregular de alguns atletas. Dentre os quais o atacante Washington, que condicionou a falha na finalização de dois lances ao estado do gramado pós-shows de Metallica e Beyoncé, ocorridos lá.
“O campo estava um pouco prejudicado, e não conseguimos tocar a bola direito. Estava duro, parecia que a grama estava socada”, comentou o goleiro Rogério Ceni, com a referência à principal característica do time apresentada no Campeonato Paulista.
Segundo dados do Datafolha, o São Paulo troca 333 passes por partida, em média, com um índice de 86,5% de acerto. Na noite em que bateu o Monterrey-MEX por 2 a 0, esses números caíram para 260 e 75,8%.
“No que se refere a garantir a sustentabilidade de um estádio, a ideia é fazer com que todos os novos projetos sigam as normas mais ecologicamente corretas naquilo que tange a captação de água, utilização da energia solar, etc., o que colabora, também para a economia do clube”, explicou Adalberto Baptista, diretor de marketing da agremiação do Morumbi.
Na avaliação do dirigente, é preciso que se tente realizar algumas adaptações, mas nem sempre com o mesmo êxito que se tem quando se trata da obra de um local novo para jogos. Mas a sustentabilidade econômica tem de estar como prioridade.
“Há mais de cinco anos ele é rentável e para o ano de 2010 a previsão é que ele seja a principal receita do orçamento do São Paulo. Ou seja, o Morumbi possui plena viabilidade econômica como uma unidade de negócio”, completou, ainda em entrevista à Universidade do Futebol.
Muitos dos estádios nacionais foram construídos há mais de 20 anos e seus campos foram executados em solos argilosos e sem o emprego das técnicas modernamente usadas em gramados esportivos. Assim, encontram-se defasados em termos de drenagem, irrigação e espécie vegetal usada.
Insumo básico para a prática do futebol, os gramados têm de estar em consonância com o pensamento geral. Tanto valorizando a qualidade, quanto permitindo sua hiperutilização em questões comerciais e de marketing. Mas Pituaçu foi o outro exemplar referencial da semana passada.
A Superintendência dos Desportos do Estado da Bahia (Sudesb) decidiu fechar o principal estádio local. A razão para a ação seria a necessidade de recuperação do gramado, atacado por pragas.
Um estudo realizado por uma empresa especializada em gramados de campos de futebol detectou a presença de duas pragas: paquinhas (Scapteriscus ssp) e lagartas (Spodoptera frugiperda). E se trata de um estádio inaugurado há pouco mais de um ano.
“Tomamos essa atitude diante do laudo técnico. Trouxemos um especialista e ele constatou que, além da paquinha, lagartas também estão atacando o gramado”, explicou Raimundo Nonato, superintendente do órgão estadual.
“As paquinhas, insetos de hábito noturno, atuam debaixo da terra alimentando-se das raízes da grama, o que deixa o piso do campo fofo e irregular. As lagartas, por sua vez, estão consumindo a vegetação do campo, prejudicando parte do gramado”, apontou a nota oficial, divulgada pela Sudesb.
O processo de recompactação já foi iniciado, e a reforma do gramado deve ser concluída em cerca de 25 dias, de acordo com a Greenleaf Gramados, empresa responsável pelo serviço. A ideia é que, durante esse período, faça-se a troca da grama e a regeneração das áreas.
“O que aconteceu no Pituaçu é muito comum nos gramados nacionais. O que não é normal é os responsáveis pela manutenção (tanto o clube, quanto a empresa de manutenção) não fazerem o rápido e pronto controle das pragas, deixando a situação chegar ao ponto de haver a necessidade de parar o estádio”, comentou Artur Melo, engenheiro agrônomo especializado na área esportiva.
De acordo com Melo, a idade do gramado não tem nada a ver com o aparecimento destas pragas. Elas aparecem em maior grau em determinadas épocas do ano e se houver manejo incorreto, principalmente com fertilização errônea.
O tratamento é feito controlando os insetos, replantando onde se fizer necessário - não há necessidade de replantar todo o gramado, segundo ele – e, principalmente, localizando onde ocorreu o erro: falta de monitoramento, fertilização errônea, etc.
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Benê Lima