Rodrigo Azevedo Leitão
Dia desses estava eu no Café dos Notáveis com o notável Alexander, “o russo” (como o chamam os mais chegados), debatendo questões de fisiologia, treinamento de força e, mais profundamente, aspectos particulares que envolvem a auto-organização, de jogadores e equipes em jogos de futebol.
Alexander, assim como outros russos notáveis do Café, tem uma visão bastante interessante a respeito das “coisas” do mundo, e essa visão se expressa, quando debatemos futebol, em ótimas e “ácidas sacadas”. Gosto muito quando encontro um dos russos do Café.
Pois bem. Nesse dia que encontrei Alexander, “o russo”, depois de uma discussão sobre os métodos utilizados pelos treinadores de futebol mundo afora, para fazer com que suas equipes alcancem rapidamente o jogar que eles (os treinadores) pretendem, surgiu uma interessante questão levantada por um dos colegas que “o russo” levara para apreciar o “dolce caffino” (uma deliciosa bebida do Café, que mistura café e brigadeiro (muito bom!)).
O colega do “o russo” estava muito intrigado com o que havia lido em um jornal que acabara de comprar em uma banca próxima ao Café.
Na matéria destacada por ele, alguns exemplos de equipes de futebol, que, disputando campeonatos importantes no Brasil, tinham, em momentos decisivos (e outros nem tanto) de diferentes competições, escalado para jogar jogadores contratados tardiamente, que sem sequer terem treinado mais do que uma vez com seus companheiros, já estavam no campo de batalha como solução para os problemas da sua equipe.
Para o colega do “o russo”, como explicar, dentro de um sistema equilibrado e organizado, a entrada de um elemento novo, que sem conhecer o perfeito funcionamento de tal sistema, suas interdependências e inter-relações, passa a ser tido como o grande “upgrade” desse sistema?
Para os estudiosos da auto-organização e das teorias sistêmicas, muitas coisas podem ser ditas para tentar explicar como e por que um elemento novo, e em princípio, estranho a um sistema, pode aperfeiçoar e melhorar o seu funcionamento.
De certa forma, e de maneira geral, é possível e aceitável admitir que quando um elemento novo se integra a determinado sistema, esse elemento poderá trazer benefícios a esse sistema, se, mesmo desconhecendo as características particulares que dão vida a ele (ao sistema), ser capaz de se integrar rapidamente aos seus elementos, através das afinidades com as dinâmicas, inter-relações e interdependências que estão presentes nesse sistema.
Porém, sem desconsiderar um ponto ou qualquer vírgula sobre as ponderações que os estudiosos das teorias sistêmicas nos oferecem em seus debates e produções, seria aceitável também admitirmos que em sistemas desorganizados a entrada de um novo elemento pode servir como atrator (?!) para direcioná-lo (o sistema) a uma configuração melhor (mais elaborada) – ou no mínimo mantê-la da mesma forma, “bem desorganizada”.
Tendo a acreditar mais na ideia de que as equipes são tão mal construídas, como sistema, que o que predomina em suas dinâmicas e sistemas de referência é a desorganização.
E com uma desorganização enfrentando outra desorganização, talvez a força do sistema dependa mais da qualidade de seus elementos constituintes do que das interações que lhes dão identidade.
Daí, acabo concordando mais ainda com “o russo” do Café, que diz que em sua terra natal toda vez que o gestor de uma respeitada fábrica de vodka precisava detectar os incompetentes de algum departamento que não estavam funcionando bem, ele chegava no departamento e o organizava. Ele sempre dizia que “na desorganização, a incompetência se esconde. Na organização, os elementos do sistema acabam tendo que mostrar a que vieram...”.
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Benê Lima