Aprisionados pela guerra da audiência, os noticiários de esporte deram lugar a programas de entretenimento: o problema é a falta de informaçãoRodrigo Viana*
O jornalismo esportivo no Brasil passa por um processo de espetacularização sem precedentes. Confunde-se o "espetáculo esporte" com a informação/análise sobre ele.
O desvio metonímico da parte (mídia) pelo todo (esporte, em especial o futebol) é exacerbado nos programas de tv – principalmente os de tv aberta. Aprisionados pela guerra da audiência, os noticiários de esporte deram lugar a programas de entretenimento.
Cortes de cabelo, cores de chuteira e um conteúdo em que tudo - exceto a informação - importam, ganham cada vez mais espaço na tela. Por outro lado, os formatos não lineares de edição confundem ainda mais este ‘novo telespectador’, que já nasceu na internet e usa a tv como complemento de seu conteúdo imagético. Quanto mais sensação, melhor. Quanto mais confusão, melhor.
Os novos ângulos de câmera, a linguagem informal e o bom humor não são um pecado. Aliás, nunca foram. Não são poucos os exemplos do passado que abusaram destes recursos. O problema é a falta de informação atual. Melhor dizendo, a substituição da informação pelo simples “entreter”.
É bem verdade que a crônica, enquanto gênero literário, nasce para entreter. Inaugurada na França pelo jornalista Jean Louis Geoffroy, em 1800 no Journal dês Débats, ela tinha a função de passar em revista os fatos da semana e entreter o leitor e conceder-lhe uma pausa para o descanso.
Mas será que não evoluímos de 1800 pra cá? Fico preocupado com a garotada que escolhe prestar jornalismo no vestibular e acha que jornalismo é isso. Ou apenas isso.
Ao lado da preocupação acadêmica, incomoda-me o lado torcedor da seleção brasileira de futebol. Assim como setores midiáticos esquecem o principal – a notícia - a seleção de Mano Menezes esquece o futebol.
Tudo é mais importante: o patrocínio, o cabelo, o assédio dos times europeus, a entrevista depois do jogo... Menos aquilo que é feito durante os 90 minutos.
Fico pensando que esta falta de comprometimento dos jogadores com a camisa é que provocou o divórcio entre o torcedor e a seleção. Não vi ninguém chorando indignado pela derrota na Copa América. Talvez, ao invés de chorar, estejamos todos – a exemplo do presidente da CBF, "cagando" para tudo isto.
Estamos a menos de três anos da Copa do Mundo no Brasil. O relógio corre pra imprensa, torcida, cartolas e jogadores. Mas a principal questão não é de velocidade. É de postura. Dentro e fora de campo.
*Rodrigo Viana é jornalista esportivo da TV Brasil e professor de pós-graduação em Jornalismo Esportivo na FMU
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Benê Lima