Opinião
MANUAL DE ANTIGERENCIAMENTO
O inglório futebol cearense tem produzido material suficiente, através de representantes de sua cartolagem e de sua crônica segmentada, para a produção de um compêndio antigestão
Há cerca de quinze anos, ainda morando em São Paulo e atuando na redação do jornal S.I. News, presenteie-me com um livreto (livreta ou livrete), cujo título era “Manual de Antigerenciamento”. Na verdade não se tratava de nenhuma obra de fôlego, menos ainda de um texto sisudo e pretensioso. Era uma obra leve, cheia de ironia e sarcasmo.
O que me faz lembrar dele (do livro) é tê-lo emprestado a uma amiga jornalista, sem que ela o tenha devolvido. O que dela (da obra) me faz recordar é a atualidade do seu conteúdo, por isso lamento não poder com eles contar para propagar com humor refinado o repertório dos mais recorrentes erros de gerenciamento.
Mas o futebol - esse terreno pantanoso – é onde os equívocos são mais freqüentes, pelas peculiaridades de sua gestão e pelo despreparo da maioria de seus gestores. A necessidade do profissionalismo não resiste ao improviso, à falta de planejamento, à ausência de estrutura e à carência de uma logística eficiente.
Na esfera do futebol, alguns dos conhecidos conceitos adquirem nova valoração, condição que os altera em sua lógica (o aspecto subjetivo), bem como modifica os efeitos dessa alteração (o aspecto objetivo). Por conseguinte, alguns dos pressupostos da administração empresarial não devem simplesmente ser transpostos para a gestão do desporto, sem a devida adaptação. A falta desta adequação tem sido notada em nosso futebol, disto resultando inominável desperdício de recursos.
Outro fator importante que devemos ter em mente, é que a aferição do êxito da gestão do futebol não deve estar circunscrita apenas à apreciação dos resultados do intracampo. Antes, ela deve ser avaliada pela capacidade do clube de gerenciar as suas crises; pela quantidade, natureza e duração destas crises; pelos acréscimos em estrutura, logística, capital intelectual, qualificação profissional e formação de novos gestores. Enfim, é esse conglomerado de fatores que acaba representando o grande diferencial entre clubes e times de futebol.
Fortaleza e principalmente o Ceará estão diante de dois bons exemplos. Icasa e Horizonte prefiguram, respectivamente, um ‘futebol clube’ emergente e um ‘atlético clube’ novo e emergente. O Verdão do Cariri mais ligado ao futebol, por isso futebol clube; o Galo Horizontino construindo uma identidade mais eclética, indo além do futebol, daí caber-lhe o atlético clube ao invés de futebol clube. Equívoco que pode ser facilmente sanado.
Fato é que, se não temos uma escola para aprendermos a fazer bem, temos cátedra sobre o que não devemos fazer de errado. Por aqui, uma análise das atitudes, portanto, deve desembocar numa revisão de conceitos, sem o que estaremos fadados a permanecer no limbo de qualquer esquadrinhamento geopolítico.
Importa notarmos que não basta ter noção sobre os conceitos. É preciso conhecê-los, neles acreditar, professá-los e praticá-los. Pois, neste sentido, nenhuma retórica, por si só, tem o dom da sementeira.
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EFEMÉRIDES
Destaques do Benê Lima
Galo goleia Verdão por 4 a 2 no Clenilsão
O Clenilsão abrigou o encontro dos dois times de maior status no momento, no futebol cearense: Icasa e Horizonte.
Escudados por duas boas campanhas, coube ao Galo receber o Verdão, para confirmar a escrita de sua invencibilidade como mandante. Duas viradas no placar deram o molho da emoção, enquanto seis gols marcados atestaram o esforço dos dois times pela busca do gol.
Vimos um Icasa combalido pelas ausências e de alguns atletas, o que prova que seu elenco é limitado tecnicamente.
Já o Horizonte mostrou-se com maior equilíbrio na encorpadura de seus três setores: defesa, meio-campo e ataque. Enquanto o Verdão explorava as lacunas deixadas pela maior iniciativa do adversário, ele, o Galo, além da iniciativa evidenciava uma melhor distribuição de seus atletas, uma maior cooperação entre eles, além de um maior repertório de jogadas.
Mesmo sem poder contar com as atuações destacadas de alguns de seus principais jogadores, como Izaquiel e Piva, o Horizonte teve destaque(s) em cada um dos setores da equipe. Na defesa, Da Silva e Eusébio pontificaram; no meio-campo, Franciné e Júnior Cearense deram o tom; no ataque, Léo Jaime fez a diferença. Justificada, pois, a goleada do Horizonte sobre o Icasa, por 4 a 2.
O Horizonte assumiu a liderança do Campeonato Cearense em seu 2º turno, independente de quaisquer resultados da complementação da 2ª rodada.
Defenestração: Evandro Leitão é jogado para ‘escanteio’
Custou caro ao 2º Vice do Ceará, Evandro Leitão, o enfrentamento ao Presidente da Executiva, Eugênio Rabelo. Numa manobra esquiva, Eugênio pois fim a qualquer pretensão do 2º Vice de assumir a presidência do Clube.
Evandro encontrava-se tão motivado que já admitia avocar para si a responsabilidade em tocar um clube endividado e sem patrocinador. Isto foi o bastante para que os Rabelo urdissem um plano anti-Evandro, afastando assim qualquer possibilidade de composição com o 2º Vice, bem como descartando o enfraquecimento ou mesmo o fim da ‘dinastia rabelo’.
Enquanto Eugênio Rabelo vai sendo teleguiado por pseudo-aconselhadores, a perspectiva para o Alvinegro por fim à perenidade de suas crises está cada vez mais distante. Nitidamente, percebe-se que os interesses do Ceará Sporting Club são sempre secundários, mediatos.
Jamais a multiplicação da esperança representou algo tão negativo quanto o que vemos em Porangabuçu: a disseminação do engodo, da mentira. São promessas que não se cumprem; são compromissos que não se efetivam; são práticas reprováveis que não se reprovam.
Jogada de mestre ou amestrada?
A ida do ex-técnico do Alvinegro, Heriberto da Cunha, para o Tricolor do Pici, tem gerado uma enorme polêmica, acima de tudo pela rivalidade entre estes clubes. Mas nada que o tempo não cure.
Discussões a parte, entendo que a decisão dos dirigentes tricolores foi das mais acertadas. Afinal, Heriberto era a mais racional das opções a ser tomada. Estava na praça; conhece o time do Fortaleza; conhece todos os seus adversários; está adaptado ao futebol cearense e à terrinha.
Heriberto está agora diante de um novo e maior desafio. Sabe-se que as expectativas acerca de seu trabalho são maiores, sobretudo em razão de ele poder contar com melhor estrutura e maior apoio logístico.
Peladinha insossa no encontro dos leões mofinos
O Leão do Mercado fez um falso discurso de ofensividade, mas na verdade armou foi um frágil ferrolho que, não fora a falta de compromisso da maioria dos jogadores do Tricolor para com a partida e a pouca inspiração que tomou conta da equipe, ainda assim o Guarani estaria fadado a perdê-la.
Vale dizer que Guarani e Fortaleza não devem ser cobrados igualmente. A maior cobrança deve recair sobre o Tricolor do Pici, por razões óbvias. Afinal, se estabelecermos o mesmo patamar de cobrança para ambos, aí estaremos configurando uma condição de desigualdade flagrante.
Na verdade, a incompreensão que tem tomado conta dos comentaristas em relação ao desempenho do Fortaleza, está em não conseguirem (ou em não quererem) identificar as verdadeiras causas do declínio produtivo da equipe. São duas as razões: uma delas está atrelada ao aspecto coletivo; a outra, ao aspecto individual.
Coletivamente, o time do Pici ainda não conseguiu resolver os problemas do seu sistema defensivo, que começa no quarteto do meio-de-campo e termina no quarteto defensivo. O time tem sido relapso na pegada, confuso na ocupação dos espaços, falho no sincronismo que se quer para a obtenção de uma boa cobertura.
Individualmente, a maioria dos jogadores não resiste a uma análise crítica de seu desempenho. Vejamos a amostragem que se segue:
Michel fez sua pior partida. Não conseguiu chegar ao fundo e se limitou aos passes laterais e bolas alçadas na diagonal. Fraco na marcação. Nota 3.
Erandir não tem acrescentado nada como volante criativo. Houve momentos em que se omitiu do jogo e quando a bola o procurava ele se limitava a tocá-la lateralmente, em passes curtos. Nota 3.
Rogério parece que já tem 15 anos de carreira como atleta. Enquanto ele toma a decisão de participar ou não da jogada, o adversário já está na cara do gol. Ofensivamente, ele menos e Erandir um pouco mais, ambos se escondem do jogo. Nota 4.
Rogerinho precisa ajudar mais na marcação e levantar a cabeça para servir aos companheiros. Mais disciplina tática lhe fará um grande bem. Nota 4.
Alex Alves é o maior fiasco entre as contratações já feitas nesta temporada. A considerarmos sua falta de produtividade, sem nenhuma dúvida afirmamos que qualquer outro atacante representaria melhor opção. Nota 2.
Se o repertório de argumentos ainda for considerado limitado, a retórica utilizada pelo novo treinador pode ajudar a desvendar os porquês do fracasso do Leão. Vejamos:
“O time foi sonolento e não teve a pegada suficiente.”
“O time foi pouco criativo e errou muitos passes.”
“Alguns jogadores abandonaram o jogo.”
“Alguns jogadores não estão bem; vou conversar com o preparador (físico).”
Outro aspecto que nos ajuda a compreendermos o declínio do time do Fortaleza é a saída de Taílson. Explicamos. Nenhum dos atacantes que aí estão tem a característica deste jogador. Nem Carlos Alberto, nem Cleiton, nem Alex Alves, nem Osvaldo. Taílson joga pelos lados do campo e se reveza com Rômulo na preparação das jogadas de última linha ofensiva. Dá maior amplitude ofensiva à equipe por ocupar espaços distintos dos demais companheiros. Tem boa assistência e, tal qual o Rômulo, faz boa proteção à bola.
Por fim, considerem que a esse time do Fortaleza tem faltado, em determinados momentos, comprometimento com os objetivos do clube. E isto não exclui os atletas da casa.
Mais uma coisa. Até aqui não vislumbramos lideranças no atual elenco tricolor. Isto coloca o técnico Heriberto da Cunha diante de um enorme desafio.
Alvinegro tem novo treinador
Flávio Lopes é o nome. Com um cartel que pode ser traduzido como o de um técnico experiente, Lopes deve assumir o Vozão no decorrer das próximas 24 horas, juntamente com o preparador físico Bruno Barbosa.
Esperamos que a ele sejam dadas as condições que a Heriberto não foram.
O novo treinador já deve estar à frente do elenco na próxima quarta-feira, 27, quando o Alvinegro enfrenta o Ferroviário, pelo 'Cearensinho'.
BREVES E SEMIBREVES ®
Duro de roer. Ganhar do Horizonte dentro do Clenilsão é o páreo mais duro que seus competidores terão pela frente. Quebrar a invencibilidade do Galo não será fácil.
Desafio-1. Organizar taticamente esse time do Fortaleza e motivar seus jogadores é uma tarefa hercúlea da qual o técnico Heriberto não pode afastar-se.
Desafio-2. A tarefa do novo técnico do Ceará, Flávio Lopes, é ainda maior que a de Heriberto. Lopes terá que lutar por reforços, pela melhoria da estrutura e por uma logística mais eficiente.
Em baixa. O trio formado por Erandir, Rogério e Rogerinho anda devendo. Com isso – mas não só por isso – a produção do Leão vem caindo. E não fica só nisso não!
’Bocão’. Heriberto teve a coragem de falar do que viu em 45 minutos, mais do que Silas falou durante todo o tempo que por aqui esteve. Viu o que Silas não via. Espera-se que Heriberto possa vencer os desafios que tem pela frente.
Aplauso. O Fortaleza Esporte Clube inaugura espaço destinado à Crônica Esportiva, no qual se investiu com esmero para dar-lhe conotação de ineditismo por aqui. Parabéns!
Em tempo. O Fortaleza precisa de pelo menos um zagueiro, um 1º volante de pegada e um atacante rápido.
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”No futebol, a estatística de escores dos jogos não tem nenhum valor. Os chamados ‘scouts’ das partidas é que são de suma importância.” (Benê Lima)
Benê Lima
benecomentarista@yahoo.com.br
85 8898-5106, o telefone da comunicação
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