Talvez o grande dilema dos treinadores nos esportes coletivos esteja fincado na dificuldade de, ao compreender com excelência o jogo (suas táticas, estratégias e dinâmicas), ser capaz de ensinar aos seus atletas e equipe como ler e entender o jogo (ou ao menos a sua maneira de enxergá-lo).
Alguma dificuldade sempre existirá quando o objetivo for ensinar. Maior ainda ela será, quando o objetivo for “ensinar a aprender” (mas isso é uma outra discussão). Porém especificamente no caso do futebol o maior de todos os problemas está fincado na incapacidade dos treinadores em gerenciarem sua principal missão: saber e conhecer como ensinar.
É óbvio que estamos partindo da premissa de que eles (os treinadores) tenham um bom entendimento sobre o jogo e seus conteúdos, e que portanto tenham o que ensinar aos seus atletas.
Taticamente, o jogo precisa ser quase que “sobrenaturalmente” dialogado o tempo todo entre os jogadores. A cada mudança na posição da bola, deste ou daquele adversário, a cada ação e distribuição geométrica da equipe, enfim a cada problema que surge nas dinâmicas do jogo é necessária uma resposta rápida, pontual e eficaz. E como estamos falando de futebol, é impossível que uma resposta “rápida, pontual e eficaz” seja dada individualmente de forma isolada.
A ação de cada um no campo de jogo está ligada a ação de todos os outros, a todo tempo o tempo todo. Então qualquer intervenção aparentemente isolada de um atleta alterará a dinâmica de toda a sua equipe e conseqüentemente do adversário, de maneira sistêmica.
Isso quer dizer que se em uma equipe todos os atletas não estiverem “sintonizados na mesma freqüência”, lendo o mesmo jogo, com ações que se completam em torno da mesma dinâmica, será quase impossível criar situações reais de gol (que não sejam anárquicas), de controle de jogo e de solidez defensiva (dentre tantas outras) que garantam uma equipe organizada e competitiva.
A grande questão aqui é: seria a repetição sistemática de uma seqüência de ações, com objetivo de automatizar dinâmicas, a melhor forma para “exercitar” a compreensão sobre o jogo, a criatividade e a capacidade de resolver situações-problema?
Certamente, muitos de nós (incluindo treinadores, especialistas, jogadores, dirigentes, etc.) acreditamos que o segredo da excelência está atrelado a repetição exaustiva de ações para que, sem que seja necessário “pensar”, o sujeito (o atleta) possa responder prontamente às necessidades apontadas pelo jogo.
Um dos maiores equívocos que cercam os defensores do “automatizar sim, pensar não” é de que ao se apropriar de um automatismo qualquer acaba-se por condicionar respostas sempre iguais (imaginado problemas sempre iguais). Aí, uma pequena alteração no problema, acaba através do “automatismo impensado” gerando respostas “ansiosamente” erradas.
Em outras palavras, condicionar uma equipe a responder sempre de mesmo jeito é o mesmo que considerar que os problemas serão sempre os mesmos.
O futebol é imprevisível e o número de situações que podem ocorrer são aleatoriamente infindáveis. Então é no mínimo improvável (para não dizer “burro”) acreditar que automatismos podem preparar para o jogo.
Ao invés de se buscar o “não pensar” dever-se-ia buscar o “pensar mais rápido possível”; ou seja, ao invés de soluções condicionadas, respostas dadas após percepção e análise do problema em altíssima velocidade.
A diferença básica e primordial entre automatizar e pensar rápido (fazendo uma analogia) é que o automatismo mecanizado configura ações típicas do meu programa de edição de textos, que sempre ao detectar uma palavra “estrangeira” no seu texto português, acredita (sem exceções) que ela tem a ortografia errada. Como está condicionado, programado para isso, “tem dificuldades” para entender quando deve considerar a palavra como parte do texto ou como erro de digitação.
Parece-me então que muitas vezes nosso talentosos jogadores são “programados” para o jogo, para exercer tarefas como as que realiza o meu programa de edição de textos.
Sei que intuitivamente alguns de nossos treinadores até acabam por exercer sua básica e primeira função com grandeza. Sei também que alguns poucos a exercem com conhecimento de causa e excelência. Mas por que não facilitar as coisas? Por que não otimizar o tão reclamado e necessitado tempo de treino, de forma mais útil e eficaz (através do conhecimento)?
Afinal de contas somos seres humanos que nos vangloriamos da nossa inteligência “superior” e nossa capacidade de pensar e planejar. Então porque não estimulamos nossos atletas e equipes a pensar, ao invés de tratá-los como computadores programáveis e descartáveis? (ou então, ao invés de pensar nisso tudo, podemos continuar afinados com o senso comum e a sua mais nova edição da “bíblia daqueles que tem preguiça de pensar”)
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E POR FALAR EM SENSO COMUM: >
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Fonte: Rodrigo Azevedo Leitão
Cidade do Futebol
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Benê Lima