A queixa de Jair Ventura, técnico do Botafogo, após à contratação do colombiano Reinaldo Rueda pelo Flamengo reacendeu a discussão sobre a presença de estrangeiros no futebol nacional e a ausência de profissionais brasileiros em ligas do exterior.
Brasil e Inglaterra são os únicos países que não têm profissionais em ação na elite de Itália, França, Espanha, Alemanha, Uruguai e Argentina. As outras nações que já venceram a Copa do Mundo.
Parte do problema é que licenças emitidas pela CBF não são admitidas na Europa.
Desde o ano passado, a entidade brasileira pede a equiparação à Fifa.
Jair Ventura usou a chegada de Rueda para criticar a falta de reconhecimento dos brasileiros. Em seguida, disse que não tinha nada contra o colombiano.
"O treinador estrangeiro pode vir ao Brasil, mas ele tem que seguir as normas que teriam que existir no futebol brasileiro. Para eu ser técnico do Real Madrid e ser aceito, a CBF teve que enviar para o clube e para a federação espanhola o meu currículo e confirmar que eu era técnico no Brasil", escreveu Vanderlei Luxemburgo, do Sport, em sua conta no Facebook.
O direcionamento da crítica ao colombiano incomodou outros profissionais do país.
"É ótimo que treinadores estrangeiros venham para o Brasil. Eles podem ver a dificuldade que é trabalhar aqui e os problemas que enfrentamos. Tanto isso é verdade que os profissionais do exterior que vieram tiveram dificuldade", afirma Mano Menezes, do Cruzeiro.
Na próxima quarta (23), reunião de diretores de desenvolvimento das entidades continentais, na sede da Fifa, em Zurique, na Suíça, vai debater uma antiga reivindicação dos treinadores brasileiros: o reconhecimento das licenças de técnicos expedidas pela CBF (Confederação Brasileira de Futebol).
"A classe precisa ter um reconhecimento para que o mercado se abra para os profissionais brasileiros que buscam a qualificação. É justo que aconteça", defende Vagner Mancini, que começou a temporada como técnico da Chapecoense.
A falta de reconhecimento dos certificados da CBF na Europa atrapalha, mas não impede a contratação de técnicos brasileiros. O clube interessado pode pedir uma licença à federação nacional.
O último brasileiro a treinar uma equipe da elite do futebol mundial foi Luiz Felipe Scolari, no Chelsea, em 2008. Antes dele, Luxemburgo comandou o Real Madrid em 2005. Ambos foram demitidos.
"A troca de informações é aprendizado. [A presença de estrangeiros] Valoriza a nossa profissão", diz Fábio Carille, do Corinthians.
Há ex-atletas brasileiros que fizeram cursos aprovados pela Uefa pensando em trabalhar no exterior, como os ex-zagueiros Antonio Carlos Zago e Roque Júnior.
Consideradas as oito ligas de países que já venceram o Mundial, ninguém tem tanto mercado como os argentinos. São sete profissionais na 1ª divisão de Inglaterra, Alemanha, Espanha, Itália, França, Uruguai ou Brasil.
Dos quatro técnicos estrangeiros na Espanha, três são argentinos. Diego Simeone é um dos nomes mais valorizados no futebol europeu.
Até a contratação de Neymar pelo Paris Saint-Germain, a maior novidade no Francês era a chegada do argentino Marcelo Bielsa ao Lille.
O último treinador brasileiro a fazer sucesso na Europa foi Carlos Alberto Silva, morto neste ano. Ele foi bicampeão português em 1992-1993 no Porto-POR.
CARO
A CBF vai tornar obrigatória a obtenção de licença para os treinadores que quiserem trabalhar em clubes da Série A do Brasileiro a partir de 2019. A Conmebol deve adotar a mesma regra em toda a América do Sul em 2021.
"A carga horária da licença da CBF é maior do que a oferecida pela Uefa", diz Vagner Mancini.
Os cursos da CBF, do nível C ao Pro, exigem 800 horas de aulas. Para obter os três certificados da Uefa, são 678 horas.
Outra reivindicação dos técnicos brasileiros é o valor cobrado para as licenças. Para participar dos quatro cursos oferecidos pela CBF, o interessado tem de investir R$ 40 mil.
"É elitizado. Muita gente tem dificuldade para fazê-los por causa do valor. É caro", afirma Dorival Júnior, técnico do São Paulo.
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Benê Lima