O futebol como instrumento de cidadania e pacificação socialPOR *BENÊ LIMAVisão geral do CT da Tijuca AlimentosNuma sociedade em que os diversos tipos de violência se fazem cada vez mais presentes, é preciso que descubramos um antídoto para tantos conflitos nas inter-relações, aos quais os vemos somar-se aos conflitos existenciais já tão presentes nas vidas humanas.Dentro desse contexto de dificuldades inter-relacionais, também assistimos tentativas de construção de uma cultura que transmita valores como cidadania, respeito e boa convivência. E tudo isso através do esporte, utilizando-se o mais popular dentre eles, o futebol, como uma verdadeira plataforma de transformação social.Cada vez que identificamos um desses ‘oásis’ sociais, nosso coração bate mais forte e nosso espírito se enche da mais benfazeja satisfação, pois isso nos leva a vislumbrarmos a imagem de uma sociedade um pouco melhor. Antes, era impensável que o esporte pudesse conter esse poder transformador e que também pudesse criar perspectivas tão alentadoras para as comunidades envolvidas. Outro resultado prático alcançado é de fato certo aspecto de pacificação e acomodação dos conflitos sociais tão presentes nas sociedades modernas dos países em desenvolvimento como o nosso, mas ainda cheio de carências e de gritantes diferenças sociais.Inicialmente com as Organizações Não Governamentais (ONGs), depois com admissão de um Terceiro Setor mais robusto, gradativamente as sociedades foram contrapondo ao encolhimento das funções de um Estado remodelado e mínimo, as entidades que foram surgindo como um poder auxiliar sem poder, mas de onde emerge uma inolvidável vontade política de realização.A presença de mães e de uma representante da empresa Tijuca Alimentos ajudamnas tarefas administrativas do Projeto. Os produtos arrecadados se prestam paraanimarem rifas e bazares para a arrecadação de fundos.Meninas da PazDentre os projetos sócio-desportivos que vem sendo realizados no âmbito da Tijuca Alimentos, desponta um que resultou da junção de outros dois: Meninas Olímpicas e Guerreiras da Paz. Destes, criou-se o Meninas da Paz, que representa uma série de ações de natureza social, desportiva, assistencial e de cidadania.E para não dizermos que em casa de ferreiro o espeto é de pau, uma das mascotes desse projeto é uma garota de apenas 11 anos, de nome Marina, filha do principal mentor-mecenas do mesmo. Marina já está no Projeto tem mais de um ano, sendo aluna da fase de iniciação, estágio inicial em que se dão os primeiros passos da preparação curricular.Detalhe. Filha e mãe ‘bebem’ do projeto. Refiro-me à senhora Marcela e a sua filha Marina. Esta na condição de atleta, aquela numa condição próxima a manager. “Chamo o projeto de céu, mas isso não é uma sigla”, esclarece Marcela, fazendo alusão a uma condição de ideal a ser alcançado.Marcela ainda ressalta, com indisfarçável orgulho, que as diferenças e rivalidades ficam todas fora do portão de entrada do empreendimento, fazendo alusão ao que havia nos dito Chagas Ferreira, a alguns minutos atrás: “Isso aqui é uma espécie de ‘Faixa de Gaza’, mas os conflitos ficam do lado de fora”, diz o professor Chagas.O Projeto localizado no Parque Santa Fé, numa das sedes da empresa Tijuca Alimentos, absorve uma média de trinta meninas em um único núcleo, que funciona as terças, quintas e sábados. Nas terças e quintas o período trabalhado é o vespertino (a tarde), enquanto aos sábados o período utilizado é o matutino (da manhã).Os profissionais uniformizados, da esquerda para a direita, são os
professores Chagas Ferreira e José Maria Paiva.Estrutura, características e benefíciosA estrutura oferecida é comparável à de muitos clubes brasileiros de médio porte, contando com três campos, dois deles com dimensões oficiais, todos gramados. Além disso, há um campo de beach soccer, outro de futevôlei, refeitório, entre outras instalações adaptadas de acordo com as necessidades operacionais.José Maria Paiva em preleção no intervalo do treino,assistido por Chagas FerreiraAs meninas participantes são observadas sob vários prismas, e não só pelo desempenho desportivo. A empresa que lhes dá abrigo entende ser importante criar as precondições para que as meninas de melhor perfil profissional e comportamental possam desfrutar de uma oportunidade no mercado de trabalho. Além disso, é ideia da empresa custear parcialmente os estudos de algumas delas, desse modo preparando-as para o futuro.Mas as meninas também contam com benefícios imediatos, tais como o fornecimento do material de treinamento, lanche e o suprimento das passagens de ônibus para seus deslocamentos.A base técnico-científica do trabalho é aplicada por dois profissionais com formação em educação física. Um deles é o professor José Maria de Paiva, com graduação em educação física pela Universidade do Estado de Goiás, enquanto o outro é Francisco Chagas Ferreira de Sousa, que acumula a coordenação geral dos trabalhos. Vale ainda ressaltar que ambos possuem uma vasta experiência no meio esportivo, e entre outras iniciativas, foram os precursores do projetoGuerreiras da Paz, que ao lado do ideário do projeto Meninas Olímpicasformaram o embrião do Meninas da Paz.Treinamento utilizando o campo soçaite do centro de treinamentoSe tomarmos por base nossa experiência como observador de projetos do gênero sócio-desportivo, sejam nacionais ou internacionais, na área da modalidade futebol, bem como a experiência ímpar que vivemos como Comentarista Especialista de Projetos de Transformação de Vidas Através do Futebol, podemos afirmar que nada do que eu tenha visto no âmbito do estado do Ceará se compara com o que pudemos ver e apreender dessa notável experiência que é o Projeto Meninas da Paz. Tanto que nossa ideia é que o Projeto passe a representar, contando com a generosidade de seus autores e executores, uma espécie de ‘case’, com reconhecida expertise para quem o conhece em profundidade, a fim de formarmos também multiplicadores da ideia e da metodologia, torcendo para que novos núcleos – verdadeiros ‘oásis’ - sejam criados.
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*Cronista Esportivo, Coordenador do Futebol Feminino da FCF
e Presidente da Liga Cearense de Futebol Feminino
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Benê Lima