Uma reflexão sobre oportunidades, investimentos e igualdade de gênero no futebol Júlia Barreira, Flávia Martinelli Ferreira, Daniele Medeiros e Ana Lorena Marche
Equipe do FFC Turbine Potsdam líder do campeonato alemão 2011/2012 |
No mês de agosto, durante os Jogos Olímpicos 2016, as quartas de final do futebol feminino disputadas entre as equipes do Brasil e da Austrália alcançaram o quarto lugar no ranking dos jogos mais assistidos durante o evento. Isto significa que o futebol feminino teve um grande número de telespectadores, sendo menos assistido apenas que as cerimônias de abertura e encerramento e a final olímpica de futebol masculino. Apesar deste número surpreendente de público, sabemos que o futebol feminino ainda enfrenta muitos desafios no cenário nacional e internacional. Com o intuito de sustentar a visibilidade do futebol feminino, no mês de outubro, a Universidade do Futebol realizará a publicação de colunas semanais sobre a modalidade por meio da ação “Outubro Rosa”. Realizaremos discussões sobre a organização atual do esporte, considerando seus aspectos internacionais e nacionais – tanto como esporte de rendimento ou como prática de lazer – questionando, principalmente, o espaço destinado às práticas esportivas das mulheres e as oportunidades ofertadas a elas.
Sabemos que ao longo da existência da modalidade houve um aumento substancial no número de praticantes. A primeira Copa do Mundo de futebol feminino, realizada no ano de 1991, teve a participação de apenas 12 times. O aumento das seleções que disputaram a competição, em 2015, chegando a 25, foi acompanhado por uma maior competitividade entre as equipes. Ao longo desses anos, apenas as seleções do Brasil, Japão, Alemanha, Noruega, Suécia e Estados Unidos participaram de todas as edições do campeonato. Os EUA e a Alemanha foram os times que obtiveram mais sucessos em todas as edições do campeonato e revezam o primeiro lugar do Ranking FIFA de Futebol Feminino desde sua criação em 2004.
Flavia é a goleira do Columbia College e foi eleita a melhor da posição na liga universitária dos EUA (Foto: Divulgação/Columbia College) |
Podemos explicar o sucesso destas seleções pelas práticas esportivas recorrentes nestes países. Os EUA, por exemplo, são o país com maior número de jogadoras registradas, seguidos pela Alemanha. Atualmente, 91% das jogadoras de futebol feminino encontram-se registradas em confederações como a CONCACAF (Confederation of North, Central American and Caribbean Association Football) e UEFA (União das Federações Europeias de Futebol). Além disso, quase 80% de todo o investimento destinado à modalidade são direcionados a essas duas federações. Dos investimentos mencionados, é importante ressaltar que a maior parte é constituída de incentivos feitos pelos próprios governos.
Além dos números de participantes e dos investimentos destinados à modalidade, outros estudos mostram que o desempenho das seleções femininas está diretamente relacionado com o papel desempenhado pelas mulheres na sociedade. Vemos que quanto maior o número de possibilidades em âmbito educacional e no mundo do trabalho dados às mulheres, maior é o desempenho dos países em competições internacionais. Neste sentido, a busca por uma maior igualdade de gênero é um fator determinante para o sucesso e o desenvolvimento do futebol feminino.
Baseadas no exposto acima, podemos nos questionar: onde o Brasil se encontra nessa organização mundial do futebol feminino? Seriam as oportunidades dadas as mulheres brasileiras semelhantes às encontradas no cenário internacional apresentado? Quais as possibilidades de prática do futebol feminino existentes no Brasil? Em nossa próxima coluna continuaremos a discussão sobre o futebol feminino, agora voltadas para o desenvolvimento da modalidade no nosso país. Não percam!
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Benê Lima