Por que é natural que Corinthians e Palmeiras tenham mais sócios que o Fla
Palmeiras e Corinthians têm, cada um, o dobro de sócios-torcedores do Flamengo. É absolutamente natural que isso aconteça, apesar de flamenguistas serem maioria no Brasil, por uma característica de programas desta natureza: associa-se quem está por perto.
Ninguém põe em dúvida que o Barcelona é um time de futebol global. E mesmo assim 39% dos 153.458 associados ao término da temporada 2013/2014 estavam na cidade de Barcelona, enquanto outros 52% estavam no restante da região da Catalunha. Mal comparando, 91% dos sócios do Barça estão no "estado" de origem.
Assim funciona no Brasil. Atlético-MG e Cruzeiro têm 95% dos sócios cada em Minas Gerais. O Internacionaltem 91%, e o Grêmio, 88%, no Rio Grande do Sul. Em São Paulo, a ordem é Corinthians (95%), Santos(92,5%), Palmeiras (89%) e São Paulo (83%). A proporção só muda no estado do Rio de Janeiro, onde Vasco (85%), Botafogo (76%), Flamengo (70%) eFluminense (65%) têm percentuais mais baixos, explicados pelas bases de torcedores formadas em outras regiões devido às transmissões nacionais de longa data de televisão e rádio.
Aí a conta é simples: conseguem mais sócios-torcedores os clubes não só de maior torcida, mas cujas bases de fãs estão concentradas em regiões mais populosas. São Paulo tem 44 milhões de habitantes. O Rio de Janeiro, "só" 16,4 milhões. A menos que Corinthians, Palmeiras e também o São Paulo façam gestões desastrosas, é sempre provável que o trio paulista seja numericamente superior ao Flamengo.
Esta natureza dos programas de associação torna muito mais complexo o trabalho do Flamengo. A começar porque o Maracanã, estádio no qual joga com maior frequência, pode ser usado para atrair apenas associados na cidade do Rio e nos arredores. Quanto mais distante está o torcedor, menos vezes ele vai assistir a partidas, menor o valor de um desconto ou uma preferência na compra de ingresso na mente dele como consumidor. Depois, formar uma rede de benefícios e convênios é muito mais difícil se ela precisa englobar Rio, Brasília, Norte e Nordeste do que somente São Paulo, Rio Grande do Sul ou Minas Gerais, como é o caso de todos os demais adversários dos cariocas no país.
Um caminho para cariocas é fundar "consulados", "embaixadas", como queira chamar, em regiões afastadas com muitos torcedores. Criar produtos licenciados personalizados para aquela região. Levar atletas de vez em quando para experiências aos associados. Mas são todas contrapartidas complementares. O plano mais ousado, e provavelmente mais efetivo, seria negociar contrato com um estádio nordestino, um dos reformados para a Copa do Mundo, e assegurar à torcida que o time com certeza fará dois ou três jogos lá por temporada contra adversários locais. Dada a periodicidade de uma ocasião assim, preferência e desconto no ingresso seriam contrapartidas inigualáveis. O problema é que, no futebol, tudo que envolve trabalho conjunto dos departamentos de futebol e marketing pena a sair.
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Benê Lima