RAFAEL LUIS
Um líder precisa de autocontrole
ESCOLA DE DIRIGENTES
A estreia de Paulo Arthur Magalhães tinha tudo para ser tranquila. Com poucos dias no cargo, O POVO ficou sabendo que o novo presidente do Fortaleza era amigo de longa data de Evandro Leitão, presidente do rival Ceará. Ambos são inclusive padrinhos de casamento um do outro. Foi marcada então uma foto com a dupla no estúdio do jornal. Seria uma reportagem com viés positivo.
No entanto, Paulo Arthur chegou à redação como um elefante numa vidraçaria. “Só quero uma coisa: que não inventem mentiras com meu nome, porque é isso que sempre sai na imprensa”, foram algumas de suas primeiras palavras, para espanto meu e do repórter com quem dialogávamos. Era a senha do estilo que viria pela frente em sua gestão de apenas quatro meses.
Em fevereiro foi a vez do presidente do Ferroviário, Luiz Gonzaga Neto. Já no 1º turno do Estadual, o time estava seriamente ameaçado de rebaixamento. Numa matéria, usei na edição foto de um jogador desolado. No dia seguinte, em telefonema à redação, o dirigente reclamou a mim que a foto era uma ofensa ao clube, por ser uma “posição homossexual”, repetiu várias vezes o palavrão “filho da p***” e ameaçou que iria “me pegar”.
Quando anunciou sua saída do Fortaleza, há duas semanas, Paulo Arthur deu uma das entrevistas mais infelizes da história recente do futebol local. Na prática, ele jogou por terra qualquer resquício de esperança do elenco e da torcida de manter vivo o sonho do penta. Em certo momento, ao ironizar quem o chamou de “despreparado”, disse também que desconhecia a existência de “escola de dirigentes”.
Durante muito tempo nunca gostei de uma frase de Ruy do Ceará, ex-dirigente do Ferroviário, sempre repetida por Alan Neto: “Time ganha jogo, diretoria ganha campeonato”. Não gostava porque essa frase sugere uma supervalorização ao papel do dirigente de clube.
Os últimos anos serviram para mudar meus conceitos. Se o Ceará chegou à Série A e à Copa Sul-Americana, algo impensável mesmo para o torcedor mais fanático há alguns anos, é reflexo da revolução administrativa no clube. Em virtude do despreparo de seus presidentes, Fortaleza e Ferroviário foram coadjuvantes neste Estadual. A ambos, fica a lição: todo líder precisa de autocontrole.
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Benê Lima