Sinopse

"Neste espaço encontra-se reunida uma coletânea dos melhores textos, imagens e gráficos sobre o futebol, criteriosamente selecionados e com o objetivo de contribuir para a informação, pesquisa, conhecimento e divulgação deste esporte, considerando seu aspecto multidisciplinar. A escolha do conteúdo, bem como o aspecto de intertextualidade e/ou dialogismo - em suas diversas abordagens - que possa ser observado, são de responsabilidade do comentarista e analista esportivo Benê Lima."

domingo, maio 22, 2011

O papel dos jogos no treinamento da equipe

Jogos estão cada vez mais presentes nos treinamentos, mas para que eles servem? Para treinar a parte técnica em ambiente de jogo? Para treinar a parte física? Como moda, necessidade?

Bruno Baquete*

O jogo de futebol acontece em um campo de dimensões que variam de 45–90 m de largura e 90–120 m de comprimento com 22 jogadores ocupando esse espaço. A partir do parâmetro inicial podemos supor que os jogos reduzidos acontecerão em um campo menor e com menos jogadores.

Então, os jogos reduzidos nada mais são do que jogos com dimensões menores e com menos jogadores que o jogo formal. Porém, antes de tomarem suas conclusões sobre esse tipo de atividade, já afirmo que as coisas não são tão simples assim, pelo contrário, são bem complexas.

Os jogos, não mais os reduzidos, mas os jogos para o desenvolvimento do jogar da equipe, devem ser concebidos tendo o modelo de jogo da equipe como o norte e respeitar a especificidade do futebol. Definido o modelo de jogo da equipe, os conteúdos podem ser distribuídos ao longo do processo de treino. Esse processo deve ter início no primeiro dia de trabalho e perdurar por toda a temporada.

Nesse processo, todas as atividades têm ligação entre si e o grau de complexidade das mesmas aumentará conforme a evolução do jogar da equipe. Com isso não haverá um pico de performance de jogo, mas sim uma evolução gradual do jogar da equipe.

Se os jogos não obedecerem uma sequência processual, serão apenas jogos pelos jogos em que cada um tem o fim em si mesmo. Claro que os jogadores evoluirão em determinados aspectos dentro desses jogos sem sistematização, mas o jogar da equipe não evoluirá de forma progressiva ao longo da temporada. Cada jogo deve fazer parte de um sistema maior e o fim é o jogar da equipe.



 

Além disso os jogos devem ser fractais do jogo formal, ou seja, devem contemplar todas as características do jogo como um todo. Um exemplo de fractal é o DNA. O DNA é um fractal do indivíduo, pois contém todas as informações do mesmo e é específico de cada um.

“O treinamento pelo jogo e para o jogar, como fractal de um processo de desenvolvimento da performance, deve garantir que todo sistema fisiológico, bioquímico, cognitivo, etc., humano, aprenda a reagir de maneira mais eficaz àquela situação que é a sua de trabalho, de competição: o próprio jogo” (Leitão, 2009).

Nesses jogos fractais, tudo o que acontece no jogo formal está acontecendo. Porém, precisamos de regras específicas e de intervenções pontuais do treinador para potencializar determinados comportamentos dos jogadores dentro dessas atividades. Por exemplo, em uma determinada atividade o conteúdo trabalhado será a recuperação da posse de bola. Para isso, é preciso criar regras para que seja vantajoso a recuperação da posse de bola, e as intervenções devem ter o foco nesse comportamento específico da equipe.

Uma atividade hipotética em forma de jogo com esse objetivo traz consigo todos os elementos do jogo (elementos técnicos como os passes, táticos como movimentações, ocupação de espaço, físicos como a força específica manifestada nas travagens e mudanças de direção, etc.), mas a equipe desenvolverá prioritariamente as questões relacionadas à recuperação da posse de bola.

Conceber o treino dessa forma não é nada simples, mas no futebol o tempo é escasso e precisamos otimizá-lo e treinar o jogar da equipe de uma forma complexa e não fragmentada. Como afirma Leonardo (2008), onde se treina o físico para “aguentar” o jogo, o técnico para “executar” o jogo, e o tático para “movimentar-se” no jogo, deve-se treinar o jogo que se quer jogar e assim o jogador estará condicionado para jogar o jogo.

Bibliografia

LEITÃO, R. A. O Jogo de Futebol: Investigação de sua estrutura, de seus modelos e da inteligência de jogo, do ponto de vista da complexidade. Tese (Doutorado)-Faculdade de Educação Física, Universidade Estadual de Campinas, Campinas, 2009.

LEONARDO, L. O fim da preparação física?. 2008. Disponívelhttp://www.universidadedofutebol.com.br Acesso em: 28 de jan. de 2011.


*Bruno Baquete é Bacharel em Educação Física pela Unicamp e membro do Ciefut –www.futebolintegrado.blogspot.com

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Benê Lima