Sinopse

"Neste espaço encontra-se reunida uma coletânea dos melhores textos, imagens e gráficos sobre o futebol, criteriosamente selecionados e com o objetivo de contribuir para a informação, pesquisa, conhecimento e divulgação deste esporte, considerando seu aspecto multidisciplinar. A escolha do conteúdo, bem como o aspecto de intertextualidade e/ou dialogismo - em suas diversas abordagens - que possa ser observado, são de responsabilidade do comentarista e analista esportivo Benê Lima."

quinta-feira, dezembro 27, 2012

‘Companhia do Esporte’ se insurge contra a violência verbal dos programas esportivos segmentados

Por: Benê Lima / Companhia do Esporte

No que concerne a programas de torcida, não quero separar o joio do trigo, porque não vou perder tempo para estabelecer gradações entre a violência verbal que é tão comum a esse tipo de programa. Neste particular, até diria que uns são piores que os outros. Não falo do conteúdo noticioso e informativo desses programas, que na verdade não são perniciosos até pela fragilidade do jornalismo que praticam. É claro que há os que são quase especialistas neste tipo de violência, e o que é pior, é que essa forma de violência verbal está atrelada à negação de valores e de direitos, já que são usados sofismas, mistificação, suposições, ou seja, falsas verdades, que em última análise acabam por configurar-se como verdadeiras calúnias, portanto, crimes contra a honra das pessoas.

Como nós podemos, pois, compactuar com esse tipo de programa? E vou mais além: para quê se presta uma linha de programação com esse fim? No quê isso ajuda o futebol, os clubes e ao próprio torcedor? Dois grandes presidentes de clubes, Ribamar Bezerra e Evandro Leitão, já cometeram o equívoco de dar apoio a esse tipo de iniciativa numa versão que se dizia de programas oficiais de seus clubes, e isso não deu em nada. Os programas não tinham identidade jornalística, não tinham um modelo preconcebido, desenvolvido e planejado, e se prestavam apenas a criarem problemas de relacionamento para os clubes, para o objetivo menor e deplorável de blindar dirigentes, e para amesquinharem a imagem dos clubes, como se eles fossem torcidas organizadas. Aliás, a gente costuma ouvir com frequência o argumento de que esses programas se prestam à defesa dos clubes, como se Ceará e Fortaleza precisassem desse tipo de muleta e dessa força reacionária que no fundo serve mais para envergonhar e às vezes até constranger os clubes que auxiliá-los.


Jarbas Oliveira/UOL

Na verdade, estamos diante de um novo tempo, de uma nova realidade em nosso futebol, e nós precisamos interagir com ela da melhor maneira que pudermos. Ontem senti não só um pouco de orgulho pela obra monumental que é o Novo Castelão, mas por ver corroborada nossa opinião que aqui [no programa Cia do Esporte] temos expressado em um grande portal nacional. E a matéria que vimos tratava dos estádios brasileiros, sobretudo de três deles (Castelão, Mineirão e arena do Grêmio), como o ponto de partida para um novo conceito de como potencializar o uso desses extraordinários equipamentos. E, claro, eu fiquei feliz por ver a nossa visão corroborada por quem de fato pensa grande, por quem enxerga o futebol como o meganegócio que é. No entanto, no mesmo dia em que isso acontece, eu escuto um programa desses de torcida vomitar e ruminar uma série de ideias malucas de conspiração, de movimentos mafiosos, de esquemas mirabolantes envolvendo clubes, federação, CBF e até a presidente Dilma Rousseff. E não contentes com isso, ainda conclamaram com extrema veemência os torcedores a não comparecerem ao Castelão. E o que é ainda mais grave: isso tudo produzido sob um clima de instauração do terror. E aí pergunto: isso é a primeira vez? Qual a novidade nisto que estou a relatar? Mas aqui também cabe outro tipo de pergunta, outro tipo de questionamento. Ou seja: até quando nós teremos que conviver com esse tipo de programa, com esse tipo de profissional, com esse tipo de gente, com esse tipo de atitude que envergonha a democracia e que, em última análise, é alimento para os golpistas? E na verdade, a gente já pode perceber alguns pontos de recrudescimento da velha rivalidade entre os nossos dois maiores clubes, é só prestamos atenção nas recentes declarações de alguns de seus dirigentes.

Não por acaso, o presidente da federação [cearense], já cansado de ouvir tantas acusações levianas, mandou recado para um programa esportivo, onde ele dizia que não era torcedor e sim presidente de todos os seus filiados, e que seu time era a FCF. Certamente, o que ele quis dizer é que sua simpatia por um desses filiados nada representava diante da grandeza do cargo que ele ocupa, no que está coberto de razão.

Eu não tenho dúvida de que o chefe da nossa comissão de arbitragem, o presidente da FCF, o presidente do TJDF, sabem da importância dos cargos que eles exercem, e tem a exata noção de que o produto futebol precisa que eles sejam isentos, honestos, pois sem isso não há como formatarmos um produto com credibilidade. E nós precisamos dessa credibilidade, o futebol precisa dessa credibilidade para se afirmar e para dar provimento à grande demanda por recursos que ele requer.

Portanto, fica aqui, mais uma vez, o meu protesto, a minha indignação e o meu repúdio a programas esportivos que não servem para nada, a não ser armar espíritos, fomentando a violência, seja de maneira aberta e cínica, seja de maneira velada e subliminar. Se o secretário Ferruccio teve a coragem de vir a público para cogitar até mesmo o fim das organizadas, que tanto ele quanto o ministério público, bem como o sindicato dos radialistas, também reflitam sobre que medidas devemos tomar para pelo menos exercermos algum controle sobre essa situação.
.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Obrigado por seu comentário.
Em breve ele será moderado.
Benê Lima