Oscar Tabárez:
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O uruguaio Oscar Wáshington Tabárez é, sem dúvidas, um dos principais responsáveis pelo renascimento do futebol uruguaio. Assim mostram os resultados, exceto pelos últimos tropeços durante as eliminatórias sul-americanas, e assim o julgam os inúmeros reconhecimentos recebidos ao longo da sua trajetória, como o que lhe foi concedido pela Associação Uruguaia de Treinadores de Futebol (AUDEF) neste mês de dezembro.

Com clubes como Peñarol, Boca Juniors e Milan no riquíssimo currículo, o estrategista se prepara agora para um novo desafio: a Copa das Confederações da FIFA. O treinador falou com o FIFA.comsobre esse torneio, as novas tendências do futebol moderno e a rivalidade com o futebol brasileiro. A seguir, apresentamos a primeira parte da entrevista.

Visite o site a partir do dia 28/12, para ler a segunda parte da entrevista.

FIFA.com: O Uruguai finalmente jogará a sua primeira Copa das Confederações da FIFA. Quais são as expectativas para essa nova experiência?
Oscar Tabárez: O objetivo, em primeiro lugar, é aproveitar. Cada vez que se aproxima uma competição internacional com seleções tão importantes, como costumam ser os torneios continentais ou mundiais, e a Copa das Confederações entra nessa categoria, temos a expectativa de chegar o mais longe possível. Mas isso fica em segundo plano quando lembramos o que tivemos de passar quando começamos este processo: como era difícil conseguir enfrentar uma seleção de grande nível! Fazia muito tempo mesmo, 17 anos, que não ganhávamos uma Copa América. Por isso, agora que ganhamos o direito de disputar esta Copa, a primeira coisa que precisamos dizer é que estamos satisfeitos por disputá-la. Depois sim, com profissionalismo e responsabilidade, nos prepararemos bem para fazer as coisas da melhor maneira possível.

Espanha, Uruguai e Taiti. O que você acha do seu grupo no torneio?
Sabemos que vamos enfrentar grandes equipes. A Espanha está marcando época: ganha os torneios mais importantes, tem um estilo invejado por todos os outros e mostra grande influência no futebol da atualidade. A seleção africana, seja qual for, vai ser forte. Quanto ao Taiti, desperta muito respeito e muita curiosidade. Vamos ver que papel cumprirá. Será uma questão de preparar-se bem, apesar de que só saberemos o resultado no final de cada partida. E nisso acho que temos um pouco de experiência: não podemos nos iludir demais nem ser pessimistas de antemão. Eu sei disso e, este plantel também sabe.

Tirando o lado futebolístico, em que outros aspectos a competição lhe será útil?
Estamos vindo a um torneio tradicional que, muito além do próprio valor que já tem, é como uma sala de espera do Mundial. E não só para ver como estão algumas das seleções que podem jogar em 2014, mas também quanto à infraestrutura que terá a Copa do Mundo. Outro aspecto é o da logística: já conseguimos informações sobre o que está sendo feito, os campos de treinamento, os diferentes estádios. Temos uma ideia desde já, mas não é preciso se precipitar: temos expectativas de poder estar no Mundial, mas ainda não temos certeza. As eliminatórias são muito difíceis e já ficaram complicadas para nós com maus resultados nos últimos tempos, depois de termos conseguido um bom início. Se for aparecendo nas próximas rodadas a possibilidade de classificação, daí sim será o momento de pensar em onde vamos nos concentrar e treinar.

Como Uruguai e Brasil estão em grupos diferentes, pelo menos por enquanto não será preciso comentar o Maracanaço de 1950. Fica incomodado ao ser questionado constantemente sobre a necessidade de revalidar aquela façanha?
Não é que me incomode, mas tenho convicção de que o futebol evoluiu. Há coisas que ocorreram em determinados momentos porque as relações de força, sobretudo naquela época, eram de paridade. O que enaltece o 
Uruguai
 de 1950 são as condições em que ganhou, já que não era inferior ao Brasil futebolisticamente. Agora as coisas mudaram, já não é mais assim.

Poderia ampliar o conceito? Porque, de fato, o Uruguai sempre parece crescer quando enfrenta o Brasil.
O Brasil é uma potência quando o assunto é número de jogadores, infraestrutura e organização esportiva. Nós não temos essa quantidade de futebolistas de elite, apesar de que temos alguns, e isso eleva o nosso entusiasmo quando enfrentamos o Brasil. Mas não tanto pela certeza de um resultado, e sim pela motivação de enfrentar um rival tão poderoso. E vai continuar sendo assim. Mas também estabelecemos e demonstramos tanto na Copa do Mundo como na Copa América que, com o que temos, se conseguirmos nos organizar e nos preparar bem, poderemos ser um rival difícil para qualquer um.

Antes do sorteio você dialogou muito amistosamente com Luiz Felipe Scolari, recentemente contratado para dirigir a seleção brasileira. Qual pode ser a contribuição da chegada dele?
Fundamentalmente, a capacidade que ele já demonstrou como treinador em muitas oportunidades. Além disso, a sua experiência geral e específica na seleção nacional, que é um meio muito particular. O cargo por si só já é difícil, mas no Brasil me parece que chega à sua máxima dimensão. Vou dar um exemplo: os jornalistas locais, na coletiva de imprensa, me perguntavam sobre o "estancamento do futebol brasileiro". E eu me espantava por dentro, com muito respeito, claro… Mas achava que eles tinham uma visão da realidade exigente demais para consigo mesmos. Não se pode ganhar sempre, e eles são os que mais vezes ganharam Mundiais! É evidente que essa supremacia talvez não possa se manter indefinidamente, mas isso não quer dizer que haja um estancamento.

De que dependem as tendências do futebol atual?
O futebol está cada vez mais globalizado, e por isso aparecem outros poderes vinculados ao da organização: o econômico, as categorias de base, os grandes processos de trabalho que têm raízes históricas surgidas muitos anos atrás. Um caso claro é o Barcelona. Ficamos todos maravilhados com aquela expressão, a melhor que eu já vi. Mas ela não nasceu há dois ou três anos, não é? Jogar como o Barcelona não é tão fácil quanto passar por uma vitrine, ver uma roupa bonita, comprar e pronto. O futebol não é assim. No futebol a gente precisa conseguir o tecido, encontrar os botões, levar ao alfaiate, fazer e depois ver se fica igual. Isso demanda muito tempo, muito conhecimento e muita preparação. Eu não sei o que o Scolari vai fazer, mas acho que tentará jogar de acordo com as raízes históricas do futebol do Brasil.

Você menciona o Barcelona. Acredita que é possível imitá-lo em uma seleção?
Cada treinador tem o seu estilo, e cada federação, a sua própria estratégia, tudo a partir da sua própria realidade. Eu acho que é até positivo que nem todos nós imitemos o Barcelona, pois o futebol ficaria chato se fosse possível repetir assim. É bom que haja diferentes maneiras de jogar, diferentes escolas, e aproveitar esses grandes torneios para confrontá-las esportivamente e ver o que acontece. Não para estabelecer quem é o melhor do mundo ou de todos os tempos, algo mais midiático do que real, mas sim para ter sempre essas grandes festas do futebol como pode ser a Copa das Confederações e, nem preciso dizer, uma Copa do Mundo.