Veja <COMENTÁRIOS>
O padrão tático é a fotografia de uma equipe, e sua leitura depende fundamentalmente da cultura tática de quem o lê, assim como na fotografia
Tenho resistido em ceder ao impulso de escrever sobre o tema, primeiro porque não me considero a pessoa ideal para sobre ele ditar cátedra, depois pela descrença da maioria das pessoas sobre o tema. Os mais velhos porque não possuíram nem viveram o boom da cultura tática, os mais jovens porque a veem como mero exercício de dissuasão da complexidade, querendo torná-la a todos acessível e usando-a para tentarem abalar a importância dos técnicos de futebol, desse modo mantendo a ideia vigente de que a onda mudancista que sobrevive em torno da troca do técnico, sustentará os times e suas direções, salvando também os jogadores.
Padrão de jogo
É o mais geral e abrangente modelo de uma equipe, visto que representa o seu todo, englobando tanto o padrão tático quanto o padrão técnico. Portanto, desse ponto de vista, não é aceitável confundi-lo com padrão tático, embora seja este o que mais influencia o padrão geral de jogo das equipes.
Padrão técnico
O padrão técnico, em tese, é o que menos depende da atuação do treinador, em razão de boa parte dele ter origem na formação do atleta e especialmente na sua capacidade individual de habilidade e talento, bem como da compreensão do aspectos técnicos de sua expressão com a bola. Ele pode ser melhorado, posto que passes, chutes, recepção e condução de bola, drible e finta, todos estes elementos da técnica podem ser aperfeiçoados.
Padrão tático
Aqui é onde o técnico exerce maior influência coletiva sobre a operacionalização do jogo e sobre o desempenho coletivo da equipe. É nesse estágio que o planejamento de jogo, como um dos pressupostos da formação do padrão tático entra em cena, mas muito mais como modelagem do padrão tático e não a ele se sobrepondo.
É ainda neste estágio que identificamos mais facilmente a plataforma estática de jogo com suas dinâmicas e variações, onde podemos também observar as transições defensivas e ofensivas, o nível da compactação, a geometria no desenvolvimento das jogadas, a profundidade ofensiva de seu jogo, entre outras situações.
Aqui também, desde que o observador possua acuidade e sensibilidade em sua cultura tática, pode-se ter vislumbres até mesmo do tipo de periodização tática utilizada, bem como lampejos dos elementos do plano tático maior, aquele que contempla princípios, subprincípios e sub-subprincípios e seus derivativos.
Com o objetivo de facilitar o entendimento e propor uma compreensão de modelos de padrão tático, tratamos aqui de uma questão pungente para uma de nossas equipes cearenses – o Fortaleza –, cujo comandante técnico é Hélio dos Anjos, experiente e detentor de inegáveis conhecimentos. Claro que ele pode discordar de alguns elementos que aqui propomos, e terá dupla autoridade para isso. Primeiro porque é o autor da “fotografia” que sua equipe nos passa; depois porque pode ter a sua mercê maiores melhores elementos do tecnicismo e do cientificismo que nós. Natural.
Na figura abaixo, podemos observar um instantâneo da plataforma tática do Fortaleza, que principia o funcionamento de seu padrão tático. Na figura há uma disposição um tanto frouxa dos jogadores, mas cada um deles cumpre funções e posicionamentos que se complementam e se completam entre si, por isso preferi não dispo-los em figuras geométricas perfeitas, exatamente para lembrar que cada um deles tem funções similares, mas também distintas a cumprir.
Outro fator que merece ser observado com atenção, são as peculiaridades relativas a determinados jogadores, como um meia canhoto que se posiciona mais pela direita (Guaru), são volantes que usualmente não jogam em linha (Jaílton e Esley), é um meia híbrido que tem de meia e de volante (Jackson) e que transita da esquerda para o meio, é um segundo volante que tanto faz a sobra quanto sai para dar apoio ao ataque como armador (Esley), são atacantes que se alternam como referência e que também jogam abertos, enfim.
A imagem meramente ilustrativa abaixo, no que pese sua singeleza, creio que expressa uma ideia da dinâmica da movimentação da equipe do Fortaleza, donde podemos inferir certos elementos do plano tático e de algumas estratégias de jogo. É evidente que nenhuma equipe consegue tamanha compactação em circunstâncias normais de jogo, mas esta é a figura idealizada de uma situação pontual que assistimos neste domingo (21) frente ao Brasiliense, embora os jogadores envolvidos já não tivessem exatamente esta numeração.
Nesta situação típica de uma potente transição ofensiva, observamos não o pressing (coisa rara entre nossos times), mas uma pressão vertical e certa pressão na recuperação da bola, o que permitiu posse e domínio.
O que muitas vezes as pessoas se perguntam, é por que tal situação não se traduz em gols. Mas não vejo dificuldade em compreendermos essa questão. Afinal, como um processo de interação, o jogo precisa de um encaixe em suas diferentes fases (construção, elaboração, semifinalização e finalização), sem o quê o adversário assimila a pressão e consegue fazê-la eficiente, mas sem eficácia. Hoje vimos isto.
A questão aqui proposta é mais de valorizar o aspecto tático do futebol, e menos de provar a competência ou incompetência de quem que seja. Sem presunção alguma, seria fácil apontar alguns equívocos do técnico Hélio dos Anjos, mas não vejo relevância nisto pela consciência que tenho da importância de seu trabalho.
Como disse noutro artigo, Ceará e Fortaleza precisam encarar suas situações contraproducentes e tentar interagir com elas e com seus responsáveis, a fim de que suas equipes possam incorporar um melhor padrão técnico, tático e de jogo.
(Ilustração do 4-4-2 diamante, também conhecido como 4-1-2-1-2)
(Não há bibliografia a citar, haja vista que nada do que aqui está é fruto de pesquisa.)
.
Sinopse
"Neste espaço encontra-se reunida uma coletânea dos melhores textos, imagens e gráficos sobre o futebol, criteriosamente selecionados e com o objetivo de contribuir para a informação, pesquisa, conhecimento e divulgação deste esporte, considerando seu aspecto multidisciplinar. A escolha do conteúdo, bem como o aspecto de intertextualidade e/ou dialogismo - em suas diversas abordagens - que possa ser observado, são de responsabilidade do comentarista e analista esportivo Benê Lima."
CALOUROS DO AR FC
domingo, julho 21, 2013
Padrão tático e cultura tática
Marcadores:
Análise de jogo,
análise do jogo,
Conceito,
Cultura,
Desempenho Esportivo,
Desenvolvimento,
Estudo,
Futebol,
Gestão do Futebol,
Imprensa,
Interdisciplinaridade,
leitura de jogo,
Modelo de jogo,
Pedagogia do esporte,
Plataforma de jogo,
Treinamento Esportivo
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Muito bom saber que aqui na terrinha têm pessoas interessadas e compromissadas com aspectos menos "populares" do futebol.
ResponderExcluirA minha crítica ao treinador do Fortaleza é exatamente na questão tática.
Eu sou partidário que se aplique a solução mais atual, em termos de organização tática, na minha opinião há um anacronismo grande nas opções do Hélio dos Anjos.
Não entendo pq não tentar o 4-2-3-1, mesmo tendo um jogador a menos na frente, tem 3 jogadores chegando frequentemente ao ataque, fazendo “linha de 3″, e isso acaba quebrando a marcação adversária, quando bem aplicado.
Abc
Concordo! esse "Padrão Tático" 4-2-3-1 hoje seria o mais moderno pois não deixa a defesa aberta e ainda prioriza o ataque mas, precisa de treinamento e escolher os jogadores com um bom padrão técnico.
ExcluirCaro Alessandro,
ExcluirConcordo que a plataforma tática (ou digamos esquema) 4-2-3-1 poderia trazer algum acréscimo à equipe, especialmente em seu setor ofensivo, que tem mostrado uma transição pobre, com pouca profundidade e um número reduzido de jogadores.
A grande questão que se coloca é: que jogadores do setor de meio-campo possuem aptidão física para darem sustentação não só à transição ofensiva, mas a seu reverso, a transição defensiva?
Creio que a estória do cobertor curto aqui se fará presente. Ou seja, faz-se acréscimo ao setor de ataque e se desguarnece o setor de defesa. A alternância das transições ofensiva e defensiva exigiria dos jogadores envolvidos uma maior dinâmica de jogo, o que evidenciaria o esgotamento físico prematuro deles.
Ademais, os zagueiros estariam mais expostos ao mano a mano e far-se-ia necessária a atuação dos laterais para dar proteção a eles e aos volantes e meias que não conseguissem fazer a recomposição.
Outro fator dificultador seria a característica técnica dos jogadores envolvidos, posto que deles seria requerido boa dose de ecletismo (jogadores que tenham boa desenvoltura nas posições de volante, meia e atacante).
Mas nada que não possa ser tentado, sobretudo em jogos da equipe como mandante.
Abraço.
Pois minha solução seria o 4-4-2 clássico(inglês), de fácil assimilação, 2 linhas de 4 compactadas, o terror dos times brasileiros, que mesmo tecnicamente superiores, patinam contra os hermanos sulamericanos.
ResponderExcluir