Sinopse

"Neste espaço encontra-se reunida uma coletânea dos melhores textos, imagens e gráficos sobre o futebol, criteriosamente selecionados e com o objetivo de contribuir para a informação, pesquisa, conhecimento e divulgação deste esporte, considerando seu aspecto multidisciplinar. A escolha do conteúdo, bem como o aspecto de intertextualidade e/ou dialogismo - em suas diversas abordagens - que possa ser observado, são de responsabilidade do comentarista e analista esportivo Benê Lima."

segunda-feira, novembro 21, 2016

A riqueza de conceitos do futebol alemão em Borussia x Bayern

Leonardo Miranda /Painel Tático

Qual é o melhor campeonato nacional do mundo? Uma pergunta complexa dessas não pode ter uma resposta simples. Talvez o mais competitivo e intenso é o Inglês. Brasileiro, o mais nivelado. Italiano, o mais “pegado. Francês, o mais físico e de correria. O Espanhol, para muitos, é tido como o que tem mais times. Sobra o Alemão, o mais rico em conceitos de jogo.

O confronto entre o Bayern de Munique de Ancelotti e o Borussia Dortmund de Thomas Tuchel é um bom exemplo: times organizados até a medula, obedecendo todos os princípios de jogo de seus técnicos. Fases muito bem definidas: ataque, defesa, transição ofensiva e defensiva com desenhos claros. Parece que os jogadores jogam sem pensar, formando um organismo vivo que se adapta a todos os momentos. E é verdade.

Abaixo temos um exemplo dessa riqueza conceitual do jogo por lá. Os 20 jogadores de linha estão ocupando aproximadamente 30% do campo. Veja que o Bayern está realizando uma ação de ataque - a construção das jogadas. Para isso, Ancelotti pensou em inversões de posição - com o intuito de confundir a defesa do oponente: Tiago troca com Ribery, que troca com Alaba. Como resposta, o Borussia monta seu 5-3-2 e um jogador da linha de defesa pressiona Ribery, para tirar seu tempo e espaço de jogo.
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Tudo isso acontece em o que? 2, 3 segundos de jogo? Por aí. Para cada ação, uma reação. Para cada jogada, um outro conceito. Se você tomar que 50% das ações dos jogadores no jogo não vem do treino, e sim do espontâneo, Borussia e Bayern chegam quase lá nos outros 50% de treinado e pensado. Aqui mais um exemplo: Bayern atacando, Borussia defendendo. O futebol é um jogo de ação e reação.

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Mas e se isso não dar certo? E se essa defesa for quebrada? Tem mais plano e conceito por trás: pressão na bola, intensidade pra não dar espaços e deixar o adversário avançado. É como se o que Ancelotti pensou para o Bayern desse certo - aquela troca de inversão desorganizou o Borussia - e agora o Borussia precisa se reajustar a isso, respondendo com pressão no jogador livre, como você vê abaixo.

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Não apenas ação e reação, mas o futebol é também um jogo de interação. Interação entre o jogador e a bola, interação entre um jogador e outro e entre um conjunto deles. Princípios e subprincípios regem essas interações, como aqui: Borussia ataca, com a bola pelo lado esquerdo. Automaticamente - sem o técnico ficar gritando na beira do campo - 3 jogadores se concentram nos espaços vazios na defesa do Bayern para receber essa bola e gerar uma troca de passes.

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Aliás, trocar passes não pode ser mais pensado como uma questão de volantes, meias e movimentos entre eles, mas sim algo conjunto. A troca de passes é uma interação - ela só existe se um jogador dá o passe e outro está com condições de receber. Não adianta ter um Ganso ou um Messi se ninguém na frente dá opções de recebimento. Interação coletiva que não pode ser mais pensada individualmente.

Aqui, um outro exemplo, a saída de bola do Bayern. Os nomes na foto identificam a posição de origem de cada jogador. Mas na foto, eles se comportam de maneira a fazer o Bayern sair de seu campo com qualidade. É automático, o jogador sabe o que fazer quase sem pensar. Porque o treino tem intensidade e tem objetivos claros, “copiando” esses momentos do jogo. Aqueles longos coletivos chamados de “táticos” não fazem isso.

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A riqueza de conceitos do futebol alemão só foi possível porque a federação nacional cobrou formação dos técnicos, poucas demissões, fomentou a base e a formação, deu voz ao torcedor e puniu, financeiramente ou proibitivamente, quem não se encaixou num modelo pensado para todos. Realidade longe, mas muito longe do Brasil. Nos resta assistir…e tentar aprender um pouco.
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Benê Lima