Sinopse

"Neste espaço encontra-se reunida uma coletânea dos melhores textos, imagens e gráficos sobre o futebol, criteriosamente selecionados e com o objetivo de contribuir para a informação, pesquisa, conhecimento e divulgação deste esporte, considerando seu aspecto multidisciplinar. A escolha do conteúdo, bem como o aspecto de intertextualidade e/ou dialogismo - em suas diversas abordagens - que possa ser observado, são de responsabilidade do comentarista e analista esportivo Benê Lima."

sexta-feira, novembro 11, 2016

Brasil 3 x 0 Argentina - a falácia do “jogar solto” e do “volante marcador”

 Leonardo Miranda / Painel Tático

Cada jogo do Brasil de Tite é uma aula. Aula de conceitos, já que o Brasil joga com um modelo de jogo muito parecido com o do Corinthians de 2015 e aproveitando o potencial de tantos bons jogadores. Aula de como ser um técnico, já que Tite apresenta, nos detalhes de seu trabalho, tudo o que faz dele o técnico da seleção - desde o estudo do adversário até a montagem do treino com base nesses estudos e o cuidado ao passar informações aos jogadores - e também uma aula de quebra de paradigmas em nosso ainda precário entendimento do jogo.

Você já deve ter ouvido algum comentarista de TV ou mesmo o torcedor pedir que o melhor jogador do seu time “jogue solto”, não? Que o “craque precisa de liberdade”, que ele não pode “marcar lateral” e que os mais talentosos precisam jogar livres? Então: nada disso é verdade. Se o futebol é um esporte coletivo, não faz sentido algum que alguns jogadores tenham mais ou menos obrigações em qualquer momento do jogo: todos são importantes.

Basta ver como Neymar, Gabriel Jesus e Coutinho se comportaram ontem. Eles não “jogaram soltos” e fizeram vários lances ofensivos. Eles não tiveram liberdade e deram dribles. Eles não “marcaram lateral”, pois o Brasil não marca ninguém: é a equipe que marca. Aliás, a equipe ocupa espaço, já que marca por zona. Ao invés de acompanhar o adversário, a linha de defesa fica posicionada, o meio-campo pressiona, os atacantes fecham linhas de passe e todos guardam uma região do campo.   


Fernandinho, Renato Augusto e Paulinho. Nenhum deles é um “volantão marcador”. E mesmo assim, Messi não conseguiu jogar. O motivo é mais uma quebra de paradigma: não é preciso de jogadores especialistas se a equipe funciona como um todo. Através de movimentos coordenados de pressão e dobra no melhor jogador do mundo, o Brasil impediu que Messi tivesse espaço para tocar ou dar os dribles curtos que tanto o faz famoso. Nem o melhor do mundo joga se não tiver espaço.    


Espaço. Outro pensamento recorrente que podemos deixar de lado é que a tática é algo defensivo, e que inibe o poder dos mais talentosos. Não tem nada a ver. Futebol é um esporte de forma e espaço. Ofensivamente, o desafio é criar movimentos e formas de desorganizar a defesa do adversário, como no primeiro gol(aço) de Phelippe Coutinho: ele flutuou da ponta-direita por dentro, combinando com Neymar. Esse movimento, por mais simples que pareça, desorganizou toda a defesa da Argentina, que ficou focada em Messi. Zabaleta, perdido com o movimento, deixou Coutinho livre pra cortar e chutar. 



Se você ainda acha, ou melhor, se você ainda ouve que craque tem que jogar solto, que marcar é acompanhar lateral e que absolutamente tudo depende da “qualidade técnica” e não da organização coletiva, duvide. Não acredite. Procure mais. O Brasil de Tite é uma ótima aula magna.  


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Benê Lima