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Lionel Messi chora após a derrota para o Chile na final da Copa América Centenário, nos EUA |
PAULO PASSOS
EDITOR-ADJUNTO DE "ESPORTE"
EDITOR-ADJUNTO DE "ESPORTE"
O risco de ficar fora da Copa do Mundo, mesmo tendo o melhor jogador do planeta, é apenas um dos problemas vividos pelo futebol argentino. A sexta colocação nas eliminatórias sul-americanas expõe um esporte em crise, com disputa de poder e dinheiro e caos administrativo.
A AFA, entidade que é dona da seleção e também organiza os campeonatos locais, está sob intervenção da Fifa desde junho. Nos últimos meses, o futebol do país teve greve de clubes, uma eleição cancelada, ameaça de intervenção judicial e dezenas de acusações de casos de corrupção e desvio de dinheiro.
O caos eclodiu depois da morte de Julio Grondona, em 2014. Durante 35 anos, o cartola, chamado por rivais e aliados de "Don Julio", comandou com mão de ferro o futebol do país. Para se ter uma ideia do seu domínio, em oito eleições que disputou em 35 anos teve apenas um voto contrário a ele.
Em 1991, ex-árbitro Teodoro Nitti concorreu e teve um único voto: o seu.
Virou folclore o anel que Grondona usava com os dizeres "Todo pasa" (tudo passa). A piada era que só a permanência do caudilho no poder é que não respeitava a regra.
"O que está acontecendo agora é que os problemas que existiam há mais de 30 anos apareceram", afirma o ex-juiz Mariano Bergés, presidente da ONG "Salvemos al Fútbol". "Dizer que agora é pior é defender que com Grondona era melhor. Não. Tudo o que está aqui é o que ele deixou", completa.
Grondona morreu antes do escândalo da Fifa, que resultou na prisão de dirigentes da entidade em maio de 2015. Seu nome estava entre os acusados da investigação americana de desvios em contratos das federações.
PODER E DINHEIRO
A AFA tenta organizar uma eleição. A última foi realizada em dezembro de 2015. Eram 75 eleitores e a contagem indicou 38 votos para o então presidente Luis Segura e 38 para o apresentador de TV Marcelo Tinelli. Ninguém soube explicar o que houve e o pleito foi cancelado.
A crise institucional chegou à Casa Rosada, sede do governo argentino. Ex-presidente do Boca Juniors, Mauricio Macri segue de perto a disputa entre os cartolas.
"A Fifa vai negar, mas essa intervenção é negociada com o governo federal. Aqui não se toma nenhuma decisão no futebol sem consultar Macri [presidente]", afirma o jornalista Sergio Levinsky, autor do livro "El Fútbol Passa. Los Negócios Quedan".
Além do passado boleiro de Macri, o governo tem interesses comerciais com os clubes do país. Durante os mandatos de Cristina Kirchner, a televisão pública comprou os direitos de transmissão do Campeonato Argentino.
Os valores do contrato eram pagos aos clubes com cheques pré-datados. Para receber o dinheiro na hora, dirigentes precisavam retirá-lo em uma casa de câmbio indicada pelo governo, que descontava 40% do valor total. O negócio é investigado pelas autoridades do país.
Os clubes se organizam para vender o direito de transmissão para emissoras privadas. Alegando falta de dinheiro, as equipes da segunda divisão fizeram uma greve em setembro, que durou duas rodadas do torneio.
"Paramos pois não tínhamos dinheiro. Sem renegociação e mudanças, o futebol do país vai acabar", afirma à Folha Daniel Ferreiro, presidente do Nueva Chicago.
Juan Mabromata - 22.mar.2013/AFP | ||
Julio Grondona, ex-presidente da AFA, durante jogo da seleção argentina em Buenos Aires, em 2013 . |
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Benê Lima